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Investidor de alta renda: quem é ele e como investe?

Investidor de alta renda: quem é ele e como investe?

No universo financeiro, o desafio muda de patamar quando se acumula um grande patrimônio. A tarefa deixa de ser apenas construir riqueza a qualquer custo e passa a ser a de preservá-la, garantir segurança para o futuro e continuar crescendo de forma inteligente. Mas quem é esse investidor de alta renda e como ele estrutura sua carteira para proteger o que já foi conquistado?

Neste artigo, você vai descobrir como os investidores de alta renda estruturam suas carteiras para preservar o que foi conquistado e seguir em frente.

Quem é o investidor de alta renda?

O investidor de alta renda, conhecido globalmente como High-Net-Worth Individual (HNWI), é tradicionalmente definido como alguém com pelo menos US$ 1 milhão em ativos líquidos, ou seja, facilmente conversíveis em dinheiro, excluindo a residência principal. 

Acima dele estão os Very-High-Net-Worth Individuals (VHNWIs), com patrimônio entre US$ 5 milhões e US$ 30 milhões, e os Ultra-High-Net-Worth Individuals (UHNWIs), com mais de US$ 30 milhões.

No Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) classifica os investidores em três categorias: varejo, qualificado (com mais de R$ 1 milhão investido) e profissional (com mais de R$ 10 milhões). 

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A lógica regulatória por trás dessa classificação é que os investidores qualificados e profissionais são considerados indivíduos com um “elevado conhecimento” e capacidade de “gerenciamento de riscos”

A CVM presume que a posse de um patrimônio substancial ou de certificações técnicas confere ao investidor a capacidade de analisar de forma adequada os riscos envolvidos em certas aplicações. Essa presunção legal é o que lhes permite acessar um universo de produtos financeiros diferenciados e com alto potencial de rendimento, como ações no exterior ou instrumentos de crédito privado de maior risco, como Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e do Agronegócio (CRA), que não são permitidos a investidores de varejo. 

Os investidores de alta renda, portanto, é o pré-requisito financeiro para o status de “qualificado” no Brasil, mas esse status é uma permissão legal baseada em uma presunção de sofisticação, abrindo portas para investimentos mais amplos e complexos.

Segundo a pesquisa da CVM, as motivações de investimento variam de acordo com o perfil de risco, mas um ponto comum entre os investidores de alta renda é o foco na construção de uma base de longo prazo. Para o perfil mais arrojado, que representa 50% dos respondentes, o objetivo primordial é a criação de renda passiva

Essa motivação vai além do simples acúmulo de capital, refletindo a busca por liberdade financeira e a aceleração da aposentadoria, permitindo que o dinheiro “trabalhe” para o investidor. 

Outros objetivos importantes incluem a proteção contra a inflação e a preservação do poder de compra ao longo do tempo

Além da capacidade financeira, uma pesquisa da CVM de 2023 revela que esse público é majoritariamente masculino (87,39%), com faixa etária predominante entre 36 e 45 anos (31,93%) e alto nível de instrução: mais de 54% têm pós-graduação. Além disso, 64% residem na região Sudeste, com destaque para São Paulo e Rio de Janeiro.

A mentalidade da preservação: proteger antes de multiplicar

Para quem já construiu sua fortuna, o foco se desloca da busca por multiplicação rápida para a longevidade e estabilidade do patrimônio. Elias Wiggers, assessor de investimentos especializado em clientes de alta renda na EQI Investimentos, resume:

“A maioria dos clientes está mais preocupada com a preservação e sucessão patrimonial do que com grandes apostas.”

Essa preocupação envolve garantir uma aposentadoria confortável, manter o padrão de vida e proteger os herdeiros.

“Às vezes o investidor já vendeu a empresa que criou e não terá outra chance se errar. É hora de proteger, não de apostar tudo”, alerta Wiggers.

O impacto dos vieses comportamentais nos investidores de alta renda

Apesar do alto nível de educação formal, o investidor de alta renda não está imune aos vieses comportamentais que podem afetar a tomada de decisão. A psicologia do investidor é uma área que busca entender como emoções como o medo, a ganância e a euforia podem levar a atitudes impulsivas e a decisões subótimas. 

A presença de vieses comportamentais indica que o risco não é apenas financeiro, mas também comportamental. A gestão de patrimônio não se trata apenas de escolher os melhores ativos, mas de gerenciar as emoções do investidor, o que torna a figura de um gestor de patrimônio ou assessor financeiro seja fundamental para garantir a disciplina e a execução do plano a longo prazo. 

A seguir, os principais vieses comportamentais que afetam os investidores de alta renda: 

Viés de ancoragem

Este viés ocorre quando o investidor baseia suas decisões em uma informação inicial, ou “âncora,” que pode ser irrelevante, mas que distorce julgamentos futuros. Por exemplo, um investidor pode se fixar no preço histórico de uma ação e se recusar a vendê-la, mesmo que novas informações indiquem que a empresa não tem mais potencial de crescimento. A âncora impede a avaliação racional do valor presente. 

Viés de ação

O investidor sente a necessidade de agir, de fazer algo, mesmo quando a melhor decisão estratégica seria não fazer nada ou esperar. Isso pode levar a decisões sem embasamento, como a compra ou venda precipitada de ativos, em momentos de alta volatilidade. 

Aversão à perda e o efeito disposição

Este é um dos vieses mais estudados. Ele descreve a tendência humana a dar um peso desproporcional à dor de uma perda em comparação com o prazer de um ganho equivalente.

No contexto de investimentos, isso se manifesta no “efeito disposição”: investidores seguram investimentos perdedores por muito tempo, na esperança de recuperar as perdas, e vendem os ganhadores cedo demais, para “travar” os lucros. Essa conduta, embora emocionalmente compreensível, é financeiramente contraproducente. 

Viés de afinidade

Este viés leva um investidor a confiar demais em um investimento apenas porque ele reflete seus valores pessoais ou porque pessoas em seu círculo social ou profissional, como vizinhos ou amigos, também estão investindo nele. 

Um exemplo clássico e notório do risco deste viés é o esquema Ponzi de Bernie Madoff, onde muitos indivíduos ricos foram atraídos para o golpe por conta da participação de seus conhecidos. 

Este viés sublinha a importância de realizar a própria diligência, em vez de depender apenas da opinião de terceiros. 

A gestão de patrimônio, portanto, não se limita a otimizar a alocação de ativos; o desafio é também gerenciar o comportamento do investidor. A análise indica que, apesar da alta educação e do capital, as emoções e os vieses podem ser “corrosivos para o patrimônio” do investidor. 

A figura de um profissional de wealth management é, portanto, crucial, não apenas para a seleção de ativos, mas para a manutenção da disciplina e para evitar decisões impulsivas. 

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A regra de ouro: diversificação inteligente

A diversificação é o pilar da gestão de grandes fortunas. Não basta apenas dividir os investimentos; é preciso equilibrar diferentes classes de ativos, emissores, setores, prazos e geografias.

Wiggers recomenda que uma carteira robusta tenha 15 a 25 ativos, cada um representando 1% a 3% do total. Assim, mesmo que um ativo tenha desempenho ruim, o impacto no patrimônio será controlado.

Além disso, a exposição internacional é essencial para mitigar o chamado “Risco Brasil”, envolvendo instabilidades políticas, econômicas e cambiais. 

Os desafios enfrentados em 2024, como a alta do dólar, em apenas um ano variando de R$ 4,85 para R$ 6,18, e a inflação acima da meta no Brasil, validaram a importância dessa estratégia. Enquanto o mercado local teve um desempenho abaixo do esperado, os investimentos internacionais apresentaram uma rentabilidade expressiva, com ganhos acima de 57%. 

Como o investidor de alta renda monta sua carteira

O portfólio do investidor de alta renda se distingue pela capacidade de combinar ativos tradicionais com opções mais sofisticadas e exclusivas. A ideia é unir previsibilidade e estabilidade com estratégias capazes de potencializar o crescimento do patrimônio no longo prazo.

Entre os investimentos tradicionais, a renda fixa segue como protagonista no Brasil. Com juros reais ainda elevados, Wiggers recomenda manter entre 60% e 70% da carteira de renda fixa em pós-fixados, além de incluir títulos prefixados e atrelados à inflação para preservar o poder de compra. 

Para investidores qualificados, há também o acesso a produtos de crédito privado de longo prazo, como CRIs e CRAs, que oferecem rendimentos mais elevados e isenção de Imposto de Renda, embora com riscos adicionais.

Outro destaque dentro do universo tradicional são os Fundos Imobiliários (FIIs), que permitem a exposição ao mercado imobiliário sem a necessidade de adquirir um imóvel físico. Essa alternativa democratiza o acesso ao setor e garante diversificação com maior liquidez e menor custo de entrada.

Exposição internacional e busca por diversificação

A exposição internacional é outra peça-chave na carteira do investidor de alta renda, com alocação ideal de 20% a 30% por meio de contas no exterior, estruturas offshore ou fundos internacionais. Esse movimento permite diluir riscos geopolíticos e aproveitar oportunidades globais, fortalecendo a proteção patrimonial contra volatilidades locais e a desvalorização cambial.

Além disso, os investimentos alternativos surgem como ferramentas para diversificação e busca por retornos superiores. Diferentemente dos ativos convencionais, esses investimentos têm menor liquidez, processos de precificação complexos e, historicamente, eram restritos a grandes investidores e fundos institucionais.

Com a digitalização, parte dessas barreiras caiu, mas o patamar de entrada para fundos de private equity e venture capital ainda restringe o acesso ao público qualificado, reforçando a diferenciação entre investidores comuns e aqueles com maior poder financeiro.

Entre as principais alternativas estão:

  • Private equity e venture capital: participações em empresas de capital fechado, em fase inicial ou de crescimento, com foco em valorização de longo prazo.
  • Hedge funds e fundos multimercados: estratégias sofisticadas para buscar retornos absolutos, independentemente das condições de mercado.
  • Criptomoedas e ativos digitais: como Bitcoin e Ethereum, que oferecem alta liquidez e potencial de valorização, mas com volatilidade elevada.
  • Commodities e colecionáveis: investimentos em ouro, prata, arte, vinhos raros e carros antigos, ativos com baixa correlação com os mercados tradicionais.

Segundo a KPMG, os investidores de private equity têm buscado setores com “crescimento previsível e resiliência”, como infraestrutura, energia e agronegócio. Essa diversificação em mercados menos explorados e setores em ascensão é um dos fatores que consolidam a diferença entre investidores de alta renda e o público em geral.

O papel estratégico dos imóveis

O mercado imobiliário mantém posição de destaque na carteira de investidores de alta renda, tanto no Brasil quanto no exterior. O relatório de 2023 da Henley & Partners mostra que quase 30% dos “centimilionários” — aqueles com mais de US$ 100 milhões — optam por investir em imóveis.

Mais do que retornos financeiros, os imóveis são vistos como ativos tangíveis, seguros e com baixa correlação com outros mercados, funcionando como um porto seguro em tempos de incerteza.

Além disso, há um caráter estratégico e hereditário: imóveis são percebidos como ativos para preservar e transferir riqueza entre gerações, especialmente quando se trata de empreendimentos de alta qualidade, construídos nos últimos 15 anos, refletindo a busca por patrimônio duradouro.

O Wealth Report 2025, da Knight Frank, revela que 44% dos family offices planejam aumentar a exposição imobiliária, com foco em imóveis residenciais de luxo e propriedades comerciais emergentes. 

Para esse público, a classe imobiliária não é apenas uma fonte de renda, mas uma estratégia de preservação de capital e planejamento de longo prazo, essencial para o crescimento patrimonial ao longo das décadas.

Private vs. Wealth Management: qual o modelo ideal?

No atendimento ao investidor de alta renda, dois modelos se destacam:

  • Private: gestão não discricionária, em que o cliente participa de cada decisão.
  • Wealth Management: gestão discricionária, com equipe profissional tomando decisões alinhadas a uma política de investimentos predefinida.

“A escolha depende do perfil de cada cliente. No final do dia, o que realmente importa é entender qual o melhor formato para cada um”, afirma Elias Wiggers.