A EQI Asset revisou sua projeção da taxa Selic de 13% para 14,25% em 2025. Segundo a gestora, a nova taxa deve ser alcançada ainda no primeiro semestre do ano que vem.
Segundo Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, nas últimas semanas, o ambiente se mostrou ainda mais desafiador externa e domesticamente e a ferramenta que o Banco Central tem para reagir a esse cenário é a taxa de juros.
“Esperamos uma aceleração no ritmo de alta da Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de dezembro e um patamar mais alto no ciclo de aperto monetário como um todo”, afirma.
A EQI Asset espera que o Copom suba a Selic dos atuais 11,25% para 12% em dezembro, com alta de 75 pontos-base. Mas não descarta que o comitê seja ainda mais agressivo e chegue a 100 pontos-base de aumento – o que levaria a Selic a 12,25%.
Depois, a gestora enxerga mais duas altas de 75 pontos, seguidas por elevações de 50 e 25 pontos-base, até que a Selic alcance 14,25% em junho.
“Se houve uma piora das expectativas do Boletim Focus e o Produto Interno Bruto (PIB) surpreender, é possível que o Copom vá até acima dos 14,25%”, alerta Kautz.

EQI revisa Selic: o que motivou a mudança?
Os números do Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre, divulgados na terça (3), apontaram um crescimento de 0,9% em relação ao segundo trimestre, em linha com as expectativas, mas abaixo do crescimento de 1,4% registrado no período anterior. Frente ao terceiro trimestre de 2023, o avanço foi de 4%.
De janeiro a setembro, o PIB acumulou alta de 3,3%, enquanto nos últimos quatro trimestres, o crescimento foi de 3,1%. O setor de serviços foi o principal destaque, com alta de 0,9%, seguido pela indústria, que cresceu 0,6%. A agropecuária, por outro lado, recuou 0,9% no período. Em valores correntes, o PIB do trimestre somou R$ 3 trilhões.
Para Kautz, o resultado do PIB foi uma boa notícia do lado do crescimento. No entanto, por este crescimento estar muito baseado em consumo e não em investimento e aumento de produtividade, ele mantém o risco de a inflação permanecer elevada.
“Basicamente, temos atividade crescendo forte e expectativa de inflação desancorada e desancorando ainda mais nas últimas semanas, segundo a pesquisa Focus”, afirma.
Na última divulgação do Focus (boletim semanal do Banco Central com as projeções do mercado para os principais indicadores econômicos), a expectativa para o IPCA de 2024 foi elevada de 4,63% para 4,71%. A projeção para o IPCA de 2025 subiu para 4,40%, enquanto a estimativa para 2026 avançou para 3,81%.
Além disso, a taxa de câmbio está agora mais depreciada do que na última reunião do Copom e sem gatilhos para que recue no curto prazo. Isso se deve à vitória de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos e às recentes mensagens que sugerem uma “agressividade” na implantação de tarifas de importação, e que devem manter o dólar forte ainda durante algum tempo.
Trump, que assume em 20 de janeiro, já postou nas redes sociais que pretende impor tarifas de 25% sobre importações provenientes do México e do Canadá e um adicional de 10% sobre produtos chineses. Segundo ele, a medida visa conter o que descreve como uma “invasão” de drogas e imigrantes ilegais.
Até mesmo os Brics são alvo de Trump. Ele afirmou que os países integrantes do bloco enfrentariam tarifas de 100% se decidirem criar uma nova moeda ou adotar outra que substitua o dólar americano.
“Exigimos que esses países se comprometam a não criar uma nova moeda do Brics, nem apoiar qualquer outra moeda que substitua o poderoso dólar americano. Caso contrário, estarão sujeitos a tarifas de 100% e terão de dizer adeus às vendas para a maravilhosa economia norte-americana”, declarou Trump em sua rede social, Truth Social.
“Podem procurar outro ‘otário’. Não há nenhuma chance de os Brics substituírem o dólar no comércio internacional. Qualquer país que tentar isso perderá acesso aos Estados Unidos”, reforçou o republicano.
Desde janeiro deste ano, o Brics expandiu sua composição para incluir dez membros plenos. Além de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o bloco agora conta com Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos como membros permanentes.
Pacote fiscal decepciona e isenção do IR preocupa
Fora as expectativas ruins para inflação, dólar e PIB do ponto de vista da política monetária, a questão fiscal também preocupa e pesa nas projeções para Selic.
O mercado reagiu mal ao pacote de corte de gastos anunciado pelo governo, considerando-o insuficiente para as metas do arcabouço fiscal.
“As medidas anunciadas mantêm o risco fiscal na mesa, como um assunto que vai precisar ser debatido novamente. No médio e no longo prazo, o arcabouço continua capenga, inseguro e incerto. Isso porque não se mexeu nas medidas mais estruturais de médio prazo para que ele fique de pé. Ou ele abandonado em algum momento”, avalia Kautz.
Além disso, a isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil pretendida pelo governo na reforma tributária preocupa. “Os ajustes fiscais desapontaram e a questão do imposto de renda talvez seja neutra em termos fiscais, mas será expansionista em termos de demanda. Ou seja, ela vai estimular o crescimento da economia em 2026”, explica.
Ouça o áudio na íntegra:
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Calendário das próximas reuniões do Copom em 2025
O Copom se reunirá nas seguintes datas ao longo de 2025 para avaliar a taxa Selic e acompanhar o cenário econômico:
- 28 e 29 de janeiro
- 18 e 19 de março
- 6 e 7 de maio
- 17 e 18 de junho
- 29 e 30 de julho
- 16 e 17 de setembro
- 4 e 5 de novembro
- 9 e 10 de dezembro
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