O resumo da semana de 12 a 16 de dezembro destaca a escalada de juros mundo afora, com destaque para Federal Reserve e Banco Central Europeu.
No Brasil, os destaques ficaram por conta da ata do Copom, reforçando as preocupações do Banco Central com o risco fiscal, apesar da manutenção da Selic em 13,75%.
O investidor brasileiro também ficou atento aos movimentos políticos: os anúncios dos primeiros nomes da equipe da Fazenda; a nomeação de Aloizio Mercadante para o BNDES (que acendeu o alerta quanto à Lei das Estatais); e a votação da PEC da Transição e do Orçamento Secreto, que acabaram por se arrastar para a semana que vem.
Veja o que foi destaque.
Resumo da semana no Brasil
Ata do Copom
A ata do Copom, divulgada na terça-feira (13), trouxe mais detalhes sobre a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central de manter a Selic em 13,75% pela terceira vez.
Mas reforçou a atenção do Copom com o fiscal, que pode alterar o cenário futuramente.
“O Comitê se manterá vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período suficientemente prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação. O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.
Ou seja, no contexto atual, a ameaça fiscal não coloca em risco a trajetória esperada para a inflação e o cenário de juros visualizado para o ano que vem: manutenção da Selic em 13,75% até meados de 2023, com queda de juros ao final do ano. Mas isso pode mudar, a depender das ações do novo governo.
Projeções para a inflação
O Banco Central divulgou também o Relatório Trimestral de Inflação, com as projeções para o IPCA.
Para 2022, o BC vê o IPCA, indicador oficial, fechando o ano em 6%, acima dos 5,8% estimados no relatório do trimestre anterior, e acima do limite superior do intervalo de tolerância (5%) da meta da inflação para o período (que é de 3,50%).
Em 2023, a inflação fecharia o ano em 5%, sendo que a meta é de 3,25%, ou seja, a inflação ficaria pouco acima do intervalo de tolerância (4,75%).
Em termos de probabilidade, há 100% de chance de estouro em 2022 e 57% de estouro da meta em 2023.

Equipe econômica
O futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na terça-feira (13) dois nomes para compor o primeiro escalão de sua equipe econômica.
A escolha se dá em meio a resistências do mercado financeiro ao nome do próprio Haddad e ao anúncio de que o ex-ministro Aloizio Mercadante será o novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Gabriel Galípolo, ex-CEO do Banco Fator, será o secretário executivo da Fazenda e o economista Bernard Appy será secretário especial para a reforma tributária.
Lei das Estatais
A nomeação de Aloizio Mercadante para o BNDES acendeu o alerta quanto à Lei das Estatais. Isso porque, como o economista participou ativamente da campanha de Lula à presidência, sendo o coordenador do programa de governo, ele estaria impedido, de acordo com a lei, de assumir uma estatal.
No entanto, após o anúncio de seu nome, a Câmara dos Deputados aprovou às pressas um projeto de lei que prevê uma alteração na Lei das Estatais.
O texto ainda precisa passar pelo Senado, mas prevê uma redução significativa do tempo de quarentena para que alguém que ocupou cargo político ou participou de campanha eleitoral ocupe a diretoria ou o conselho administrativo de empresas públicas, sociedades de economia mista ou subsidiárias.
Até então, o período sabático era de três anos. O que a Câmara aprovou é uma redução para 30 dias.
Luís Moran, head da EQI Research, avalia a mudança como negativa. “A gente deveria estar evoluindo na direção de uma melhor governança das empresas estatais. E o que estamos vendo é uma desmontagem desse arcabouço, que foi o que garantiu excelentes resultados para estas empresas nos últimos anos”.
Após a reação bastante negativa do mercado, o projeto foi deixado um pouco de lado, sem previsão de ser retomado tão cedo no Senado.
PEC da Transição
Além da votação da Lei das Estatais, os investidores também acompanharam atentos ao andamento da PEC da Transição e do Orçamento Secreto.
Na Câmara, o presidente da casa, Arthur Lira, disse que a votação da PEC da Transição será em 20 de dezembro.
O texto que já passou pelo Senado prevê:
- ampliação do teto de gastos em R$ 145 bilhões para acomodar o Bolsa Família e outros programas;
- gastos extras de até R$ 23 bilhões;
- duração de dois anos para a PEC, em 2023 e 2024;
- prazo até o fim de agosto para o governo eleito enviar ao Congresso um novo regime fiscal em substituição ao teto de gastos.
Caso o texto sofra modificação na Câmara, ele deverá voltar ao Senado para nova votação. O detalhe é que ele precisa ser aprovado pelas duas casas antes do recesso de final de ano, para garantir a continuidade do pagamento de R$ 600 do Bolsa Família/Auxílio Brasil.
Orçamento secreto
Além das resistências da oposição quanto ao valor do extrateto, mais uma trava à votação da PEC da Transição vem do Supremo Tribunal Federal (STF).
Na noite de quarta-feira (14), a ministra do STF Rosa Weber votou pela inconstitucionalidade do Orçamento Secreto (emendas do relator), ação da qual é relatora, alegando que ele transgride a transparência do uso de recursos públicos pelo estado.
O placar está, até aqui, em 5 a 4 pela inconstitucionalidade e dois ministros ainda precisam votar. A continuação da votação ficou para segunda-feira (19).
Caso o Orçamento Secreto seja derrubado, o Centrão já sinalizou que trabalhará para que o valor seja incluso na PEC da Transição.
Serviços recuam
A Pesquisa Mensal de Serviços, do IBGE, apontou recuo de 0,6% do setor em outubro, interrompendo uma sequência de cinco resultados positivos. A expectativa era por recuo de 0,3%.
O setor se encontra 10,5% acima do nível pré-pandemia e 0,6% abaixo do patamar mais elevado da série histórica iniciada em 2011, alcançado em setembro de 2022. Na comparação com outubro de 2021, a alta é de 9,5%; em 12 meses, 9%.
“É um setor que vem puxando a alta do PIB desde a reabertura, após a pandemia, mas que parece estar entrando em desaceleração”, avalia Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset.

Contrato futuro de IFIX passa a ser negociado na B3
A B3 começou, nesta semana, a negociação do contrato futuro do IFIX, sob o código XFI. A nova modalidade de negociação é um título derivativo, ou seja, é um instrumento financeiro que tem o preço derivado das cotações de outro ativo.
O contrato futuro é uma espécie de compromisso de comprar ou vender algo em uma data previamente estabelecida e por um preço pré-definido.
Este modelo já é utilizado em outros papéis, como commodities, moedas e até mesmo índices das bolsas. Agora, existe a opção para o principal índice de fundos imobiliários.
Carolina Borges, analista de FIIs da EQI Research, avalia que o início da negociação do contrato futuro de IFIX é um marco para a indústria e revela o seu amadurecimento.
No entanto, ela alerta que é preciso cautela, especialmente para aqueles que desejam operar alavancados.
Entenda tudo aqui.
Fim da recuperação judicial da Oi
A Oi (OIBR4) informou que chegou ao fim o seu processo de recuperação judicial, após mais de seis anos de duração. Diante do anúncio, as ações da companhia dispararam: as ações ordinárias subiram 29,41% na quinta-feira (15) e as preferenciais, 52,27%.
IRB e Positivo fora da carteira teórica do Ibovespa
A B3 divulgou a segunda prévia para a carteira teórica do Ibovespa, que vai valer para o intervalo entre janeiro e abril do ano que vem.
De acordo com a bolsa brasileira, saem IRB (IRBR3) e Positivo (POSI3). Nenhum papel foi incluído.
Se as mudanças se confirmarem, o Ibovespa passará a contar com 90 ativos. A terceira prévia será divulgada em 29 de dezembro e a nova carteira passa a vigorar a partir de 2 de janeiro de 2023.
Resumo da semana no exterior
Fed reduz pace
O Fed veio alinhado ao que o mercado esperava e reduziu o ritmo de altas de juros, subindo a taxa em 0,50 ponto porcentual – após quatro altas de 0,75 p.p.
No entanto, o banco central americano foi duro no discurso, apontando que os juros devem alcançar 5,10% ao final de 2023, com teto podendo chegar a 5,25% ao ano, bem acima do que vinha sendo projetado.
Para Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, o Fed deve ainda promover pelo menos mais duas altas de juros: uma de 0,50 p.p. e outra de 0,25 p.p. Mas, com o mercado de trabalho ainda bastante aquecido, as projeções de inflação seguem pressionadas e, talvez, a projeção de teto seja novamente revista na próxima reunião do comitê de política monetária dos EUA.
“Não há expectativa de corte de juros para o ano que vem. Para 2024, há projeção de juros cadentes”, resume.

Inflação ao consumidor dos EUA recua
O Índice de Preços ao Consumidor dos EUA, CPI, veio abaixo do esperado – alta de 0,1%, ante 0,4% de outubro e expectativa de 0,3%. No acumulado de 12 meses, o CPI subiu 7,1%, contra 7,7% de outubro e projeção de 7,3%.
BCE e BoE também sobem juros em 50 pontos-base
Assim como o Federal Reserve, o Banco Central Europeu e o Banco da Inglaterra reduziram o ritmo de alta de juros, elevando a taxa de 50 pontos-base.
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