Em live realizada nesta quarta-feira (6) pelo canal da EQI Research, o economista-chefe da EQI Asset, Stephan Kautz, fez uma ampla análise sobre o cenário macroeconômico atual, abordando a política de tarifas do presidente norte-americano Donald Trump, os efeitos na inflação, juros e a desaceleração econômica nos Estados Unidos e no Brasil. Kautz também trouxe recomendações de investimentos em meio ao cenário volátil. Confira os principais insights.
Kautz: Tarifa efetiva sobre produtos brasileiros é de 31%
Um dos principais temas debatidos foi o tarifaço sobre importados anunciado por Donald Trump. Segundo Kautz, a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros – que representa uma elevação frente à alíquota anunciada anteriormente de 10% – terá efeitos significativos sobre a economia brasileira, apesar das isenções anunciadas posteriormente, que reduziram a tarifa efetiva para cerca de 31%.
Kautz explicou que o impacto das tarifas não se limita ao aumento direto nos preços dos produtos para os norte-americanos:
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“Quando se tem o anúncio de medidas tarifárias, elas afetam a economia por vários canais. Podem incentivar desde medidas de retaliação – que têm sido menos frequentes –, até rupturas nas cadeias de distribuição e aumento nas incertezas econômicas.”
O economista destacou que, dependendo da magnitude da tarifa, pode haver inviabilidade na comercialização de alguns produtos nos EUA. Isso afeta a atividade econômica, pressiona a inflação no médio prazo e pode reduzir as exportações.
“O Brasil exporta cerca de 42 bilhões de dólares por ano para os EUA, um volume significativo, entre 15% e 20% das nossas exportações”, afirmou.
Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset. Divulgação/EQI
EUA: Inflação resiliente e divisão no Fed
Nos EUA, as projeções para a inflação seguem acima da meta de 2%, o que tem deixado o Federal Reserve (Fed) mais cauteloso em relação aos cortes de juros. Na última reunião de política monetária, embora a decisão tenha sido pela manutenção das taxas, houve dois votos dissidentes favoráveis ao corte – algo que não acontecia há bastante tempo.
A composição do Fed e suas mudanças políticas também chamaram a atenção de Kautz.
“A dissidência recente foi de diretores indicados por Trump ou que têm expectativa de vir ocupar a cadeira do atual presidente do Fed, Jerome Poweell, o que dá mais peso ao movimento, e tem relação direta com a influência política de Trump. Uma das diretoras do Fed já antecipou sua saída e Trump ainda terá mais uma indicação neste ano, o que pode mudar o perfil do Fed e pressionar por cortes mais agressivos de juros.”
Esse contexto levanta preocupações sobre uma possível postura leniente do Fed frente à inflação, o que poderia enfraquecer ainda mais o dólar. Isso torna ainda mais relevante, segundo o economista, uma estratégia de diversificação internacional de investimentos para além dos EUA.
Brasil: desaceleração da atividade e perspectiva para os juros
No cenário doméstico, Kautz apontou que os sinais de desaceleração da atividade já são evidentes. O IBC-Br, indicador mensal de atividade econômica, já mostra queda. O mercado de crédito está mais restritivo, com aumento do endividamento das famílias, piora na qualidade do crédito e redução nas concessões nos últimos dois meses.
“Somente o setor de serviços ainda mostra algum avanço. Mas o desemprego está baixo e a renda tem crescido acima da inflação, o que dá algum fôlego ao consumo. Ainda assim, a tendência é de desaceleração nos próximos meses, o que também deve contribuir para a queda da inflação”, explicou.
Com isso, o Banco Central brasileiro pode antecipar o ciclo de cortes de juros, que inicialmente era esperado apenas para o segundo trimestre de 2026. “A ata da última reunião do Copom já começou a sinalizar essa mudança. A atividade mais fraca pode abrir espaço para cortes já no final de 2025.”
Oportunidades de investimento
Em um cenário de volatilidade global, desaceleração econômica e mudanças geopolíticas, Stephan Kautz reforçou a importância da diversificação e listou frentes de investimento recomendadas, conforme já havia sugerido em sua coluna no portal EuQueroInvestir:
Bolsas europeias – com foco em empresas ligadas ao setor de defesa, dada a tendência global de maior gasto militar;
Canadá – país com forte relação com a economia americana, mas também exposto ao ciclo de commodities, que tende a se valorizar com um dólar mais fraco;
Ouro – como reserva de valor em períodos de incerteza e proteção de longo prazo;
Moedas da Suíça e do Japão – consideradas portos seguros em tempos de instabilidade geopolítica;
Caixa (liquidez) – importante para reduzir a volatilidade da carteira e aproveitar oportunidades como a recente correção nas bolsas americanas no primeiro semestre.
Além disso, o economista reforçou a atratividade da renda fixa prefixada no Brasil, frente a um ciclo de queda de juros no horizonte.
E destacou que a Bolsa brasileira segue com preços descontados, oferecendo oportunidade, especialmente diante de um cenário de possibilidade de mudança política ou corte de juros.
Cautela e diversificação
Kautz avaliou que, apesar do aumento de tarifas e das tensões políticas e econômicas nos EUA, o mercado ainda se mantém relativamente tranquilo, especialmente após as isenções que reduziram parte do impacto direto sobre as exportações brasileiras.
Por fim, ele alertou para o possível agravamento da tensão política interna no Brasil, com episódios envolvendo o STF e o ex-presidente Jair Bolsonaro, que podem gerar ruídos adicionais nas negociações internacionais e afetar o apetite dos investidores estrangeiros.
Em um mundo mais fragmentado, com crescimento moderado e novas disputas comerciais e geopolíticas, a palavra de ordem é cautela – e diversificação.