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Macroeconomia em tempos não convencionais: juros altos, IA e cenário político desafiam investidores

Macroeconomia em tempos não convencionais: juros altos, IA e cenário político desafiam investidores

A volatilidade global, os efeitos das tarifas comerciais de Donald Trump e os desafios internos do Brasil marcaram o debate “Macroeconomia em tempos não convencionais: juros, inflação e risco político” na Money Week 2025

O painel reuniu nomes de peso do mercado financeiro: Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset; André Freitas, CEO da Hedge Investimentos; João Piccioni, CIO da Empiricus Asset; e Daniel Vairo, Portfolio Manager do BTG Pactual.

Durante o encontro, os especialistas discutiram a conjuntura econômica sob uma perspectiva global e local, destacando o impacto das novas tarifas americanas, o papel da inteligência artificial no crescimento dos EUA e a complexidade do cenário político brasileiro.

Juros e inflação: um cenário ainda duro

Para Stephan Kautz, a economia brasileira vive um momento de inflação em desaceleração, mas ainda acima da meta. Ele defendeu o tom mais duro adotado recentemente pelo Banco Central.

“O Copom adotou um discurso mais firme, e isso ainda faz sentido. O processo de desinflação está em curso, mas exige cautela”, afirmou.

O economista também observou que o anúncio de novas tarifas pelos EUA pode ter um efeito desinflacionário indireto no Brasil, ao contribuir para a desaceleração global e aliviar pressões de preços.

André Freitas reforçou a dificuldade de traçar cenários macroeconômicos hoje, dada a incerteza constante. Para ele, os juros elevados ainda não mostraram seus efeitos plenos na economia real.

“O custo do funding está muito alto. A inadimplência deve crescer. No setor imobiliário, isso já está acontecendo. No agro, o Plano Safra perdeu protagonismo”, explicou.

Freitas também apontou que a manutenção dos juros elevados pode ter motivações políticas:

“Lula viu nas tarifas de Trump uma oportunidade para segurar cortes agora e aliviar os juros no ano que vem, mirando popularidade.”

A força da economia americana e a nova era da IA

João Piccioni apresentou uma leitura otimista sobre os Estados Unidos. Para ele, a economia americana continua robusta, com um PIB real forte, inflação sob controle e potencial de crescimento impulsionado pela tecnologia.

“Estamos saindo da era da internet e entrando na era da inteligência artificial. Isso pode gerar um novo boom de produtividade”, avaliou.

Piccioni destacou que os investimentos em IA ainda estão no início e devem sustentar o desempenho da bolsa americana nos próximos anos. Com juros eventualmente mais baixos e uma economia pujante, o CIO acredita que o fluxo cambial pode voltar com força aos EUA, inclusive via consumo global de produtos americanos.

“O investidor vai voltar a olhar para o dólar, especialmente com os aportes em tecnologia. O capital vai retornar para onde a inovação está”, completou.

Já Daniel Vairo apontou que, embora o dólar siga valorizado, há sinais de desaceleração nos EUA — com queda na demanda privada e no consumo. Ele destacou que o cenário de tarifas elevadas cria distorções históricas sem precedentes e pressiona o consumidor americano.

“Quem está pagando pelas tarifas é o consumidor dos EUA. Isso acaba ajudando o governo a desalavancar, mas tira recursos do setor privado”, observou.

Risco político: 2026 ainda é um tabuleiro indefinido

O painel também abordou os desdobramentos políticos, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. Kautz chamou atenção para a pressão crescente sobre o Federal Reserve, citando a visita de Donald Trump às obras da sede do Fed como um gesto simbólico de interferência.

Piccioni avaliou que o presidente norte-americano tende a testar os limites da autoridade monetária.

“Quando os juros caírem nos EUA, será um chamado para os investidores voltarem ao risco e ao venture capital. O apetite por tecnologia pode renascer”, projetou.

No cenário político doméstico, Daniel Vairo fez uma análise mais detalhada. Para ele, o mercado está antecipando o ciclo eleitoral de 2026, mas ainda não atribui preço ao risco político local.

“Não acredito que estejamos destinados a um governo de direita. A eleição de 2022 mostrou um eleitor mais pragmático. O governo atual tem chance real de se manter”, opinou.

Ele também destacou que os payoffs políticos ainda estão indefinidos e que a leitura polarizada tende a favorecer o governo em exercício.

“O mercado está muito atento ao cenário externo, mas ainda não dá o devido peso ao ‘trade’ eleitoral interno”, concluiu.

O Brasil entre juros altos e responsabilidade fiscal

Na parte final do painel, os debatedores voltaram ao tema doméstico. Vairo lembrou que, embora o governo brasileiro tenha começado com forte expansão fiscal, agora há sinais de maior neutralidade nas contas públicas.

“As famílias seguem muito alavancadas, mas o governo está fazendo algum ajuste. O país está andando, ainda que devagar.”

Kautz concordou com a necessidade de o governo “fazer a lição de casa” para garantir espaço fiscal e permitir a continuidade da queda de juros.