O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou nesta quarta-feira (30) uma ordem executiva que impõe uma tarifa adicional de 40% sobre produtos importados do Brasil, elevando o total de tarifas sobre o Brasil para 50%. A medida, que entra em vigor no dia 6 de agosto, foi anunciada como resposta a supostas violações de direitos humanos e ameaças à segurança nacional americana por parte do governo brasileiro.
Segundo comunicado da Casa Branca, a decisão foi motivada por ações do governo Lula que estariam prejudicando empresas dos EUA, limitando a liberdade de expressão e afetando a política externa e a economia americana. A ordem executiva oficializa o percentual já mencionado por Trump em carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva no início do mês.
A justificativa para o aumento das tarifas sobre o Brasil menciona especificamente a atuação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acusado pelo governo norte-americano de “perseguir e intimidar opositores políticos”, “proteger aliados corruptos” e “suprimir dissidências”.
Tarifas sobre o Brasil: medidas de proteção às big techs
O texto também alega que medidas judiciais aplicadas contra plataformas digitais resultaram em prejuízos diretos para empresas americanas que operam no Brasil.
“Quando empresas americanas se recusaram a cumprir essas ordens, ele [Moraes] impôs multas substanciais, ordenou a exclusão dessas empresas do mercado de redes sociais no Brasil, ameaçou seus executivos com processos criminais e, em um caso, congelou os ativos de uma empresa americana no Brasil para forçar o cumprimento”, afirma o comunicado da Casa Branca.
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Exceções às tarifas
No entanto, a decisão de Trump inclui uma lista de exceções às tarifas, como às importações de suco de laranja e peças de aviões entram em lista de isenções às tarifas contra o Brasil. Carne, café e frutas não entraram nesta lista.
Para a EQI Research, a lista de exceções veio muito mais ampla do que o esperado, com 694 itens.
Os principais deles são:
1. Metais e outras matérias primas minerais como o silício metálico, o ferro-gusa, o minério de estanho e o próprio minério de ferro.
2. Produtos manufaturados do setor de aviação como aviões civis, motores, pneus e outros itens relacionados.
3. Energia e derivados como carvão, gás natural liquefeito, óleos minerais e até eletricidade.
4. Fertilizantes e alguns produtos agrícolas como o suco de laranja, a polpa da laranja e a castanha-do-pará.
5. Metais preciosos como o ouro e a prata.
6. Polpas e resíduos de madeira como como a celulose.
7. Alguns motores e geradores elétricos, assim como outros aparelhos eletroeletrônicos.
“De forma geral, a lista de exceções retira grande parte da pauta de exportações brasileiras aos EUA do alcance das tarifas, reduzindo de maneira relevante o impacto econômico para as empresas exportadoras do Brasil, bem como para os consumidores americanos que provavelmente teriam que pagar mais para comprar esses produtos de outros fornecedores”, avalia a casa de análise.
O que não está na lista de isenção?
Alguns itens, como café e proteína animal, mantiveram a tarifa “cheia” de 50%, não entrando no hall de exceções. Em termos logísticos para o Brasil, ambos os setores possuem cadeias flexíveis de redirecionamento, mesmo que com uma certa pressão de margens.
O café talvez seja o principal produto afetado. Entendemos que os produtores deverão arcar com custos mais elevados relacionados ao redirecionamento logístico e à possível perda de contratos. No entanto, por se tratar de uma commodity, é provável que o produto seja realocado para outros mercados com relativa facilidade.
Impactos nas empresas listadas
A EQI Research reforça a visão de que os impactos das tarifas impostas pelo governo americano tendem a afetar menos as empresas brasileiras como um todo.
Suzano (SUZB3)
No caso da bolsa, por exemplo, o impacto que poderia ser relevante para a Suzano (SUZB3) deixa de existir, uma vez que os produtos de celulose foram incluídos na lista de exceções.
A Embraer, que era uma das empresas com maior expectativa de impacto negativo, também teve seus produtos incluídos na lista de exceções, como aviões acabados, componentes e partes de aeronaves.
Com isso, a companhia, antes apontada como uma das mais afetadas, poderá continuar exportando normalmente seus produtos. As ações da Embraer foram a maior alta do Ibovespa, fechando o dia valorizando mais de 11%.
Weg (WEGE3)
A empresa, que produz motores e outros componentes elétricos, também teve seu impacto minimizado com as exceções, dado que uma longa lista de motores e geradores elétricos bem especificados também constam nas exceções.
Minerva (BEEF3)
Provavelmente uma das empresas listadas mais afetadas, visto que cerca de 5% das receitas são provenientes da exportação de carne bovina do Brasil para os EUA, a empresa deve demorar um tempo para redirecionar esse volume para outro mercado, o que pode afetar as suas margens no curto prazo.
Impacto menor do que o previsto
“No fim das contas, o impacto da medida ficou consideravelmente abaixo do que se temia. A ampla lista de exceções à tarifa adicional de 40% reduz de forma significativa os efeitos materiais sobre a balança comercial, os preços internos e o direcionamento de investimentos, diminuindo, portanto, o risco de contágio econômico. O anúncio nos colocou novamente em um cenário relativo de tarifas efetivas mais benigno no escopo da reciprocidade comercial do que os EUA seguem implementando com o restante do globo”, afirma.
“O foco agora se desloca para o campo político, onde o embate entre os governos deve continuar. Mesmo com o aumento formal para 50%, a tarifa efetiva aplicada ao Brasil tende a ser uma das mais brandas entre os grandes parceiros comerciais dos EUA, em contraste com o tom agressivo da carta inicial de Trump”.
Para a EQI Research, setores que ficaram fora das exceções, como carne bovina e café, devem sentir os maiores impactos, ainda que possuam alguma margem de redirecionamento para outros mercados.
“Esse alívio já se refletiu no pregão desta terça-feira (30), com a valorização do real frente ao dólar e a recuperação das ações mais penalizadas nos últimos dias”, conclui.
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