A economia sólida e resiliente dos Estados Unidos, juntamente com a postura mais cautelosa do Federal Reserve (Fed) em relação a cortes de juros, além do desempenho mais fraco da China, criam um cenário desafiador para as moedas de mercados emergentes nos próximos dois anos. Essa é a avaliação do banco americano Wells Fargo, que decidiu revisar para baixo suas projeções para as moedas desses mercados, principalmente aquelas com alta volatilidade e maior sensibilidade ao mercado chinês.
Embora o relatório não tenha mencionado diretamente o real, o banco elevou sua projeção para o câmbio brasileiro, passando a previsão do dólar para o primeiro trimestre de 2026 de R$ 5,90 para R$ 6,50.
No relatório mensal anterior, a expectativa era de que o real se apreciasse até o final deste ano, fechando em R$ 5,40 por dólar, mas agora a previsão é de que o dólar encerre 2024 em R$ 5,65. Para o final de 2025, a projeção subiu de R$ 5,70 para R$ 6,30.
“Consideramos o contraste entre a política mais cautelosa de flexibilização do Federal Reserve e a flexibilização mais rápida de outros bancos centrais do G10 como o principal motor da nossa perspectiva de fortalecimento do dólar americano até 2025 e 2026”, afirmaram os economistas Nick Bennenbroek, Brendan McKenna e Anna Stein em nota.
“Também acreditamos que as tendências econômicas pouco animadoras e o provável enfraquecimento do sentimento do mercado em relação à China sustentem o dólar americano ao longo do tempo.”
No mês passado, a expectativa era de que o real se destacasse entre as moedas com melhor desempenho contra o dólar, com o apoio da alta taxa Selic. Porém, neste mês, o Brasil é mencionado apenas em relação à evolução da inflação. “No Brasil e na Índia, pressões inflacionárias mais fortes devem agora adiar o início dos cortes de juros pelos respectivos bancos centrais,” apontam os analistas.
Entre as moedas mais vulneráveis, os economistas destacam o won sul-coreano, o baht tailandês, o rand sul-africano, além do peso chileno e do sol peruano. “Neste mês, ampliamos as projeções de desvalorização dessas moedas, devido aos riscos associados à China. Com o Federal Reserve flexibilizando sua política monetária de forma menos intensa, a perspectiva para moedas de mercados emergentes é amplamente negativa, em nossa visão.”
No relatório anterior, a expectativa era de que o real desvalorizasse 0,6% em relação ao dólar até o terceiro trimestre de 2025. Agora, a previsão de depreciação até essa data aumentou para 6,5%.
Wells Fargo: expectativas para as eleições americanas
Sobre as eleições americanas, o banco considera que, em caso de vitória de Donald Trump, o dólar tende a se fortalecer, independentemente da configuração do Congresso.
Se Kamala Harris vencer, um alívio temporário nos mercados de câmbio é possível. “A maior reação ocorrerá se um único partido conquistar a Casa Branca e ambas as casas do Congresso, com efeitos no mercado a partir do dia das eleições até a posse em janeiro”, afirmam. “No entanto, a trajetória de longo prazo do dólar dependerá, em última análise, do desempenho econômico dos Estados Unidos e do cenário global.”
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