O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central divulgou na manhã desta terça-feira (24) a ata de sua 265ª Reunião, realizada dias 17 e 18 setembro.
No documento, o comitê confirma as explicações que levaram à alta de 25 pontos-base da Selic, taxa básica de juros: “O cenário prospectivo de inflação se tornou mais desafiador, com o aumento das projeções de inflação de médio prazo, mesmo condicionadas em uma trajetória de taxa de juros mais elevada”, afirmou.
Segundo o Copom, o cenário atual é marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, o que demanda uma política monetária mais contracionista.
Os membros do comitê também sinalizaram que o ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo de alta iniciado no último encontro serão ditados “pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”.
A EQI Asset vê o Copom subindo a taxa de juros em 50 pontos-base na próxima reunião, com Selic chegando a 12,5% no 1º trimestre de 2025. .
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Ata do Copom: Riscos para a inflação
O Comitê avalia que há uma assimetria altista em seu balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação.
Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se
- uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado;
- uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado;
- e uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada.
Entre os riscos de baixa, o comitê destacou:
- uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada;
- e os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.
Cenário externo
Com relação aos Estados Unidos, permanece grande incerteza sobre o grau de arrefecimento das pressões no mercado de trabalho e da desaceleração da atividade econômica.
“Nota-se que a economia norte-americana se encontra em um momento de inflexão, em que, naturalmente, há maior dificuldade na extração das tendências subjacentes das variáveis de emprego e atividade. De todo modo, o cenário-base do Comitê é de desaceleração gradual e ordenada da economia norte-americana”.
A desaceleração chinesa e as variações de preços de commodities também foram discutidas pelo comitê, segundo a ata. A conclusão é que o processo desinflacionário tem prosseguido em vários países, mas permanecem desafios que não devem ser subestimados para o retorno das inflações às metas.
Para Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, a ata do Copom veio bem em linha com o comunicado emitido após a alta da Selic em 25 pontos-base, ressaltando que a atividade ainda forte foi o principal motivo para a subida de juros. Também fizeram reavaliação do cenário de inflação. O que reforça a necessidade de mais altas nas próximas reuniões.
“Antes falavam que a desaceleração da inflação estava mais lenta. Agora, parou de desacelerar, e em composição pior do que o anteriormente comunicado. O diagnóstico na parte de inflação é pior e, junto a uma atividade que cresce forte e a um mercado de trabalho muito apertado, com taxa de desemprego baixa, indica que o risco de inflação acelerando e se mantendo alta aumentou bastante”, avalia.
Para Kautz, dois pontos não ficaram claros na ata e poderão ser esclarecidos no Relatório Trimestral de Inflação, que será divulgado na quinta-feira (26) são: o tamanho da revisão do hiato de produto (diferença entre PIB efetivo e potencial) e as projeções de inflação para 2026 do Banco Central.
Ouça o áudio na íntegra:
Copom chama atenção a gastos do governo
A ata também destacou a preocupação do Copom com a política fiscal. O Comitê reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos sobre a política monetária.
“O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. Ademais, notou-se que a percepção mais recente dos agentes de mercado sobre o crescimento dos gastos públicos e a sustentabilidade do arcabouço fiscal vigente, junto com outros fatores, vem tendo impactos relevantes sobre os preços de ativos e as expectativas”, pontua.
“Uma política fiscal crível, embasada em regras previsíveis e transparência em seus resultados, em conjunto com a persecução de estratégias fiscais que sinalizem e reforcem o compromisso com o arcabouço fiscal nos próximos anos são importantes elementos para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de riscos dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”, complementa a ata do Copom.