O preço do dólar é um tema recorrente entre brasileiros interessados em investimento no exterior. Muitos, em diferentes momentos, já expressaram a ideia de que “o dólar está nas alturas”, como pontua William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue. Essa percepção se intensifica especialmente quando a moeda americana atinge marcas históricas, como R$ 4 durante a pandemia ou os posteriores R$ 5 e R$ 6.
Mas o que fazer diante de um cenário tão imprevisível? Segundo Alves, esperar por mudanças como pacotes fiscais, reformas ou mesmo fluxos de capital estrangeiro não é suficiente. “O ponto aqui é que nada disso você controla”, afirma ele. Em vez disso, o especialista defende a importância de criar um plano financeiro disciplinado, incluindo compras recorrentes de dólar, independentemente da cotação.
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Investimento no exterior: dólar pode voltar a R$ 5,50?
Na opinião do estrategista-chefe da Avenue, há uma chance pouco provável de o dólar voltar ao patamar de R$ 5,50. Isso dependeria de uma improvável mudança no direcionamento do governo.
“O governo teria que falar: ‘Nós erramos até aqui e dá para ver pelo dólar. A Faria Lima não é inimiga. Haddad fez um bom trabalho até aqui, mas vai para a Casa Civil e vamos trazer Armínio Fraga ou Henrique Meirelles, alguém mais alinhado ao mercado”, avalia. “No gogó, o governo poderia mudar o rumo do dólar, com mudança de nome, de postura, de discurso”, complementa.
Mas, como tal acontecimento é altamente improvável, como dito, a recomendação é que o brasileiro aposte o quanto antes na internacionalização, como medida de proteção à desvalorização do real.
O tempo vale mais do que o dólar
Aguardar o dólar cair, adiando decisões de investimento, pode sair caro, destaca Alves. Ele aponta exemplos do retorno do índice S&P 500 comparado à alta do dólar em diferentes períodos. Nos últimos cinco anos, enquanto o índice americano subiu cerca de 94%, o dólar valorizou aproximadamente 43%. “Mesmo se a moeda americana não tivesse apresentado alta, os retornos seriam nada desprezíveis”, afirma.
Esse atraso de investimento, justificado por dúvidas sobre o câmbio ou a complexidade do imposto de renda, ele diz, pode custar oportunidades de crescimento financeiro. “A espera pelo suposto momento perfeito tem custado caro”, reforça Alves.
A recomendação é usar a estratégia do Dollar Cost Averaging (DCA). Este termo dá nome a uma estratégia de investimentos focada em aportes regulares em um ativo sem efetuar trocas, independentemente dos fatores macroeconômicos.
O DCA é recomendado para investimentos de renda variável justamente por causa da volatilidade. Isso porque investir de forma regular reduz o risco de ter uma perda mais forte, além de aproveitar mais janelas de oportunidade.
Vivendo em um mundo globalizado
Outro ponto levantado pelo estrategista da Avenue é a dependência do Brasil de produtos e insumos importados. Desde o trigo do pão até o diesel dos caminhões, a economia brasileira está profundamente integrada ao mercado global. “Você come, dorme, se veste e vive em dólar”, enfatiza.
Estudos da Fundação Getulio Vargas (FGV) indicam que entre 10% e 25% da cesta de consumo no Brasil é influenciada por produtos importados. Por isso, Alves argumenta que não ter investimentos em dólar na carteira é equivalente a “estar vendido em dólar”, o que expõe ainda mais o padrão de vida do brasileiro às oscilações da moeda.
Estudo da FGV revela como o dólar impacta o consumo e a vida financeira dos brasileiros
Com a globalização consolidada e o aumento da integração econômica, o consumo dos brasileiros está cada vez mais vinculado ao mercado internacional. Entretanto, a volatilidade cambial do real frente ao dólar tem gerado significativos impactos no dia a dia da população. Um estudo do Centro de Estudos em Finanças da FGV-EAESP aponta como as mudanças no câmbio influenciam o padrão de consumo e o poder de compra dos brasileiros.
De acordo com o levantamento, mais de 10% dos produtos consumidos no Brasil são importados ou têm componentes importados, e seu preço está diretamente atrelado ao dólar. Entre os itens mais afetados pela valorização da moeda americana estão:
- Alimentos;
- Eletrônicos;
- Combustíveis;
- Medicamentos;
- Veículos e autopeças.
Quando o real se desvaloriza, produtos cotidianos como alimentos e bebidas sofrem alta nos preços, especialmente para famílias de baixa renda, que destinam maior parte do orçamento a itens essenciais. O estudo estima que entre 10% e 25% da cesta de consumo no Brasil é influenciada pela variação cambial.
“A volatilidade cambial tem efeito direto sob o preço de muitos bens de consumo essenciais no Brasil”, destacam os autores do estudo. Isso significa que o arroz, o feijão e até a gasolina do dia a dia são impactados pela oscilação do dólar, dificultando o planejamento financeiro das famílias.
Como se proteger da oscilação cambial
Além dos efeitos diretos no consumo, o estudo sugere estratégias para minimizar os impactos da volatilidade cambial por meio de investimentos. No Brasil, a maioria dos investidores concentra seus portfólios em ativos domésticos, uma prática que aumenta a vulnerabilidade às oscilações da moeda local.
Os pesquisadores recomendam que, para neutralizar os efeitos do câmbio, os brasileiros invistam, no mínimo, 16% de seus portfólios em ativos internacionais. Para famílias de maior renda, esse percentual sobe para 18%.
“Investir no exterior permite que o investidor brasileiro tenha acesso a novas oportunidades e setores em crescimento, além de proteger seu portfólio das oscilações da moeda local”, reforçam os autores.
No entanto, o percentual sugerido representa apenas o mínimo necessário para evitar exposição excessiva à variação cambial. Em estratégias robustas de investimentos, é recomendada uma diversificação ainda maior para proteger o patrimônio em cenários de crise.
O cenário global e o “flight to quality”
O estudo também analisa como o contexto internacional influencia a economia brasileira. Em tempos de instabilidade global, marcada por conflitos como a guerra na Ucrânia, tensões no Oriente Médio e incertezas políticas nos Estados Unidos, investidores estrangeiros tendem a buscar economias mais seguras, como os EUA, em um movimento conhecido como “flight to quality”.
“O Brasil está fora do radar do mercado internacional, e isso torna medidas como o aumento da taxa de juros ineficazes para atrair capital estrangeiro”, explica William Eid Júnior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV e coautor do estudo.
Esse cenário contribui para a fragilidade cambial do real, pressionando ainda mais o consumo doméstico.
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Diversificação internacional como proteção
Para proteger o patrimônio, Alves defende a diversificação internacional. Ele reforça que os brasileiros deveriam ter ao menos 16% de seus portfólios investidos no exterior – um percentual que pode chegar a 18% para famílias de maior renda. “Investir no exterior pode funcionar como uma proteção a eventos que você não controla”, explica.
“A verdade dura é que o risco se materializa na moeda”, alerta Alves. O histórico do real frente ao dólar é marcado por desvalorizações constantes, em grande parte impulsionadas por crises econômicas e políticas. Ele utiliza a metáfora de que o dólar “sobe de elevador e desce de escada” para ilustrar o impacto das variações cambiais.
Por isso, a recomendação é clara: “Antecipe-se! É melhor estar seis meses adiantado do que um dia atrasado”, orienta o estrategista, destacando a importância de garantir a cotação atual e evitar surpresas futuras.
Desafios ao dogma do CDI
Muitos investidores brasileiros ainda enxergam o Certificado de Depósito Interbancário (CDI) como uma referência imbatível de rendimento. Alves, no entanto, questiona essa percepção, apresentando dados que mostram como o dólar e investimentos no exterior superaram o índice nos últimos anos.
Ele argumenta que esse “viés de conservadorismo”, um conceito das finanças comportamentais, faz com que muitos subestimem as possibilidades globais e se apeguem a um cenário passado.
“Às vezes, algumas ‘verdades absolutas’ não são tão verdades assim”, conclui o estrategista, reforçando a importância de estar aberto às oportunidades do mercado americano.
Alves deixa um recado: o investimento no exterior não é apenas uma questão de proteção, mas também de adaptação a uma realidade cada vez mais globalizada. Planejar, diversificar e agir com disciplina são passos essenciais para transformar o risco em oportunidade e garantir um futuro financeiro mais sólido.
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