O juro bancário voltou a subir no Brasil em novembro, refletindo diretamente o cenário de Selic elevada adotado pelo Banco Central como estratégia para conter a inflação. A taxa média de juros cobrada pelos bancos em operações de crédito alcançou 46,7% ao ano, o maior nível desde abril de 2017, segundo dados oficiais divulgados pela autoridade monetária.
O avanço de 0,6 ponto percentual em relação a outubro confirma uma tendência observada ao longo do ano. Apenas em 2025, a taxa média já acumula alta de seis pontos percentuais. O cálculo considera apenas operações com recursos livres, ou seja, não inclui financiamentos habitacionais, crédito rural ou empréstimos do BNDES.
A Selic elevada, atualmente fixada em 15% ao ano, exerce papel central nesse movimento. Ao encarecer o custo do dinheiro na economia, a taxa básica acaba sendo repassada ao consumidor final, tornando empréstimos, financiamentos e linhas de crédito cada vez mais caros.
Pessoas físicas sentem mais o peso do juro bancário
Os dados do Banco Central mostram que o impacto do juro bancário é mais intenso para as pessoas físicas. Em novembro, a taxa média de juros para esse grupo subiu de 58,5% para 59,4% ao ano, o maior patamar desde agosto de 2017. O cenário reforça a dificuldade enfrentada pelas famílias para acessar crédito em condições mais favoráveis.
No caso das empresas, houve leve alívio. A taxa média caiu de 25,1% para 24,5% ao ano no mesmo período. Ainda assim, especialistas avaliam que o custo do crédito segue elevado, especialmente para pequenos e médios negócios, que dependem mais de recursos bancários, segundo informações do G1.
A combinação de Selic elevada e maior percepção de risco por parte dos bancos contribui para juros mais altos, já que as instituições financeiras buscam se proteger contra a inadimplência crescente.
Cheque especial e cartão seguem como vilões do crédito
Entre as linhas de crédito mais caras, o cheque especial e o cartão de crédito rotativo continuam liderando. No cheque especial, o juro bancário subiu para 141,7% ao ano em novembro. Já no cartão de crédito rotativo, a taxa alcançou 440,5% ao ano, mantendo-se acima de 400% e consolidando-se como a modalidade mais onerosa do mercado.
Mesmo com o limite imposto pelo Conselho Monetário Nacional desde janeiro de 2024, que impede que a dívida ultrapasse o dobro do valor original, o custo dessa linha segue proibitivo. Analistas reforçam que o uso do crédito rotativo deve ser evitado sempre que possível.
O crédito rotativo é acionado quando o consumidor não paga o valor total da fatura do cartão, e os juros passam a incidir automaticamente. A recomendação dos especialistas é priorizar o pagamento integral da fatura para evitar o efeito bola de neve das dívidas.
Endividamento e inadimplência seguem em níveis elevados
O cenário de juro bancário alto, impulsionado pela Selic elevada, também se reflete nos indicadores de inadimplência e endividamento. A taxa média de inadimplência do sistema financeiro permaneceu em 3,8%, próxima do recorde histórico de 4%. Entre pessoas físicas, o índice chegou a 4,7%.
Já o endividamento das famílias com os bancos atingiu 49,3% da renda acumulada em 12 meses, o maior nível desde o período mais crítico da pandemia. O dado inclui todas as modalidades de crédito e reforça o impacto dos juros elevados no orçamento doméstico.
Enquanto o volume total de crédito segue crescendo, chegando a R$ 7 trilhões, o desafio para consumidores e empresas é equilibrar acesso ao crédito com sustentabilidade financeira em um ambiente de juros persistentemente altos.






