Os últimos dados econômicos dos Estados Unidos (EUA) surpreenderam negativamente, indicando uma possível desaceleração da economia, enquanto a inflação segue em patamares elevados. Para William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, “a máquina está, sim, desacelerando”, o que levanta preocupações sobre os rumos da economia americana e rumores sobre uma possível estagflação.
Segundo ele, a recente volatilidade nos dados sugere uma mudança no ritmo de crescimento econômico. Mas é preciso observar que, nesses índices, algumas questões devem ser levadas em conta. “Tem sazonalidade mensal, já que fevereiro é frio, e o setor de lazer principalmente demite muito. Além disso, tivemos um impacto das tarifas e da política econômica recente”, destacou. Ele menciona que muitas empresas, investidores e consumidores anteciparam compras e investimentos antes da implementação das tarifas, o que gerou um pico de atividade em novembro de 2024 e janeiro de 2025, seguido de uma desaceleração acentuada em fevereiro.
Outro fator relevante foi a desvalorização do dólar. “O dólar se desvalorizou, mas antes estava em patamares altos. Quando o dólar sobe, a moeda americana se valoriza, os produtos ficam mais caros e isso prejudica a exportação”, explicou Alves.
Estagflação nos EUA: revisão do PIB e mercado de trabalho
A ferramenta GDPNow, do Fed de Atlanta, apontou uma revisão drástica na projeção do PIB americano para o primeiro trimestre de 2025. “A projeção foi de alta de mais de 2% para uma queda de 2,8%, mas houve um erro de contabilidade nesse cálculo. Ainda assim, o dado mais recente mostra uma projeção negativa de 2,4%”, ressaltou o estrategista.
O mercado de trabalho também apresentou sinais de fraqueza. Dados da ADP, empresa de processamento de folha de pagamentos, indicaram a criação de apenas 77 mil novos empregos no setor privado, muito abaixo das expectativas de 148 mil. “A incerteza política e a desaceleração nos gastos do consumidor podem ter levado a demissões ou a uma redução no ritmo de contratações”, como apontou Nela Richardson, economista-chefe da ADP.
O Payroll, principal indicador do mercado de trabalho norte-americano, também trouxe dados abaixo do esperado, com a criação de 151 mil postos em fevereiro, contra uma expectativa de 159 mil. A taxa de desemprego subiu para 4,1%, acima da projeção de 4%. Além disso, as leituras de janeiro e dezembro foram revisadas, com janeiro sendo reduzido de 143 mil para 125 mil e dezembro sendo ajustado para cima, de 307 mil para 323 mil.
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Tarifas e o medo de estagflação
O cenário econômico também está sendo impactado pela política tarifária dos Estados Unidos. “Temos visto tarifas sendo aplicadas a parceiros comerciais como México, Canadá, China e Europa, o que gera um aumento do nível de incerteza e volatilidade no mercado”, afirmou Alves.
A incerteza gerada pela política econômica levou o mercado a considerar um cenário de estagflação, no qual há crescimento baixo ou estagnado com inflação persistente. “A agenda de Trump pode gerar impacto negativo num primeiro momento. Estamos em um período de ressaca depois de anos de altos gastos federais”, explicou Alves.
A estimativa do Fed de Atlanta para o PIB do primeiro trimestre de 2025 foi reduzida para -2,4% na última atualização. O dado preocupa, pois uma parte significativa dessa deterioração viria da balança comercial.
Apesar do temor de estagflação, Alves pondera que ainda é cedo para afirmar que esse será o cenário definitivo. “O mercado adotou e precificou muito rapidamente essa narrativa. A redução dos dados de atividade é algo normal, após meses de números muito fortes”, disse.
Impacto das mudanças de política econômica
Estudos recentes apontam que os ajustes na política econômica americana podem gerar turbulências no curto prazo. “O secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, destacou que políticas de controle de gastos e tarifas podem causar impactos temporários, mas visam uma economia melhor ajustada no médio prazo”, disse Alves.
Uma análise da Apollo Academy, que utiliza metodologia semelhante à do Fed, mostrou que as tarifas e os cortes de gastos do governo podem aumentar a inflação em 0,2% e reduzir o PIB em 0,5% nos próximos trimestres. “Esses são choques temporários que pressionam a inflação para cima e o PIB para baixo, mas tendem a se dissipar no médio prazo”, concluiu o estrategista da Avenue.
Como investir nesse cenário?
A renda fixa, diz Alves, agora está com taxas um pouco menos atrativas para quem vai entrar nos papéis, mas segue como investimento recomendado para o atual cenário. Na bolsa, ele enxerga uma rotação de papéis, com troca para setores que estão performando melhor. “Os portfólios estavam muito concentrados em tecnologia e está havendo uma grande realização”, avalia.
As principais recomendações para os investidores são: não seguir o efeito manada de desespero e ter noção de que a melhor carteira será sempre aquela que atende aos objetivos e prazos de cada investidor. A carteira, inclusive, deve ser rebalanceada mensalmente, juntamente com o assessor de investimentos. Para falar com um assessor da EQI, clique aqui!
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