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Falta de dólar na carteira dos brasileiros impacta negativamente o patrimônio

Falta de dólar na carteira dos brasileiros impacta negativamente o patrimônio

Os brasileiros ganham em real, mas gastam em dólar. Ainda que você não tenha viajado para o exterior recentemente nem feito compras internacionais, grande parte dos seus gastos no dia a dia é dolarizada. Isso inclui desde a gasolina para abastecer o seu carro até o pãozinho do café da manhã.

Assim, quando há uma grande variação da moeda americana em relação ao real, o seu bolso tende a sentir o impacto.

Claro que essa oscilação do dólar afeta o desempenho dos seus investimentos. O tema foi destaque no evento “Impacto Cambial no Patrimônio dos Brasileiros: Uma Verdade Urgente”, promovido pela Avenue, e que contou com a participação de William Castro Alves, estrategista-chefe da corretora, e de Ricardo Rochman, professor de Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Rochman foi um dos professores responsáveis pelo estudo “Impacto Cambial no Consumo dos Brasileiros e a Necessidade de Diversificação Internacional”.

A tese dos pesquisadores aponta que brasileiros de todas as faixas de renda estão expostos aos impactos das variações cambiais no seu padrão de consumo. Diante disso, os especialistas destacam a importância da diversificação internacional dos investimentos como uma forma essencial de preservar o poder de compra.

O impacto do dólar na vida dos brasileiros

No início da apresentação, o professor da FGV brincou que o brasileiro já está acostumado a sofrer com as oscilações do dólar, relembrando a disparada da moeda americana frente ao real no final de 2024.

Ainda que a cotação do dólar seja uma das previsões mais difíceis na vida de um economista, ele sempre tende a ter um viés de alta em relação ao real”, afirmou Rochman.

Castro Alves descontraiu o debate ao comentar que ele próprio, como economista, sofre com a volatilidade cambial.

No início de 2024, algumas projeções indicavam que o dólar poderia chegar a R$ 4,50, em um cenário de maior controle da inflação e crescimento econômico. No entanto, a realidade atropelou as expectativas, e terminamos o ano com a moeda passando dos R$ 6,30”, relembrou o estrategista da Avenue.

Embora o brasileiro tenha consciência da força do dólar em relação ao real, grande parte dos investidores ainda prefere manter seus recursos no Brasil. Segundo Rochman, muitos pensam: “Já invisto no IPCA+ alguma coisa, e isso me protege da inflação”. No entanto, acabam não percebendo o impacto real da inflação sobre o seu patrimônio.

Muitas vezes, vamos ao mercado e reclamamos dos preços, dizendo que eles não refletem o que o IPCA mostra. O indicador pode ser abrangente, mas ele esconde variações expressivas em produtos que consumimos diariamente e que não estão na cesta medida pelo IBGE”, explica o professor da FGV.

Castro Alves complementa, mencionando que já encontrou itens como sardinha, pescado e até mesmo DVDs no cálculo do IPCA. Entretanto, outros produtos do dia a dia, como salmão ou assinaturas de serviços de streaming, como Netflix (NFLX; $NFLX34) e Spotify (SPOT; $S1PO34), ficam de fora.

O estudo revela que o impacto do câmbio no IPCA varia conforme a faixa de renda: de 11% para famílias de renda mais alta a 14% para as de renda mais baixa. Além disso, há gastos no exterior que afetam as classes mais altas, com um impacto médio de 2,65% no consumo. Por fim, a volatilidade do câmbio, que precisa ser neutralizada, impacta todas as faixas de renda em aproximadamente 3%”, destaca a pesquisa da FGV.

De acordo com os professores, a inflação afeta o consumo de maneira diferente entre os segmentos.

  • No setor de alimentos e bebidas, as famílias de baixa renda são impactadas em 37%, enquanto as de média renda enfrentam uma alta de 20,9% e as de alta renda, 13,1%.
  • No setor de habitação, os impactos são de 21,9% para a baixa renda, 16,2% para a média e 9% para a alta.

Esses dados desmontam a ideia de que apenas indivíduos ricos são afetados pela variação cambial. Na verdade, as classes D e E costumam ser as mais prejudicadas.

Rochman também ressalta que o desempenho dos títulos IPCA+ geralmente acompanha a trajetória do dólar, alternando momentos mais favoráveis para um ou para o outro. Portanto, investir em um título atrelado ao IPCA não é garantia de proteção contra a inflação.

Castro Alves destaca que vivemos um momento único, em que uma NTN-B está quase pagando IPCA + 8%. No entanto, ao comparar esse retorno com o desempenho do S&P 500, que tem um ganho médio de 10% ao ano desde os anos 1950, somado à valorização do dólar, as oportunidades no exterior ainda parecem mais atrativas.

Se dolarizar é importante, qual a porcentagem ideal?

Diante desse cenário, o estudo aponta que a exposição mínima ideal ao dólar está entre 16% e 18%, percentual que reflete o impacto cambial sobre a renda dos brasileiros.

Ter pelo menos 16% a 18% do patrimônio dolarizado é o mínimo para se proteger das variações cambiais. Mas isso deve ser feito gradualmente, e não de uma vez só. A influência da variação do câmbio não ocorre de uma hora para outra, mesmo em momentos de forte alta. Em alguns casos, leva meses para o impacto ser sentido. O ideal é ir comprando aos poucos para mitigar os efeitos das oscilações do dólar”, explica Rochman.

Castro Alves reforça essa visão e destaca que o mínimo de 16% a 18% serve apenas para evitar o “zero a zero”. Para obter ganhos e aproveitar o mercado norte-americano, o ideal é ter uma exposição ainda maior.

Questionado sobre sua própria estratégia, Rochman revelou que mantém aproximadamente 30% do seu patrimônio no exterior. Com formação em Ciência da Computação, ele prefere investir em empresas de tecnologia, como Apple (AAPL; $AAPL34) e Microsoft (MSFT; $MSFT34). Ele comentou, de forma descontraída, que até gostaria de investir na startup responsável pela DeepSeek, mas que isso não seria possível, já que a empresa está na China e não tem capital aberto em bolsa.

Fugindo do viés doméstico

Rochman explica que o brasileiro tem um dos maiores vieses domésticos do mundo, ou seja, prefere investir nos ativos que já conhece.

O brasileiro gosta de investir aqui dentro. Nosso viés doméstico é altíssimo. No entanto, há uma correlação negativa entre o Ibovespa e o câmbio. Isso significa que o investidor precisa buscar proteção contra a volatilidade brasileira”, alerta.

E não é à toa. O professor lembra que o Brasil já discute se está entrando em um processo de dominância fiscal.

A dominância fiscal ocorre quando a política fiscal do governo (gastos, impostos e dívida) passa a influenciar as decisões da política monetária, limitando a capacidade do Banco Central de controlar a inflação. Esse fenômeno geralmente acontece em cenários de alta dívida pública, onde o governo prioriza o financiamento de seus gastos em detrimento da estabilidade econômica.

A alta dos juros não está segurando a inflação. O aumento dos gastos públicos e as maiores oscilações cambiais são sinais preocupantes”, adverte Rochman.

O estrategista da Avenue complementa, lembrando que fortes oscilações no câmbio geralmente estão ligadas a momentos históricos marcantes, como:

Castro Alves ainda destacou que, nos mais de 30 anos do Plano Real, apenas entre 2003 e 2013 o dólar se manteve relativamente estável. Fora desse período, a moeda americana tende a se valorizar constantemente frente ao real.

Para concluir a palestra, Castro Alves fez uma provocação com duas perguntas:

Você gostaria de estar vendido em dólar? Se tivesse duas maletas, uma com US$ 1 milhão e outra com R$ 6 milhões, qual você escolheria?

Ele mesmo responde: normalmente, as pessoas optam pela maleta com US$ 1 milhão, já que o dólar tende a ser uma moeda muito mais estável que o real.

Com isso em mente, o estrategista da Avenue explica que estar vendido em dólar diariamente significa não ter investimentos dolarizados. Quem não se protege contra a variação cambial vê seu patrimônio perder valor frente à moeda global. 

Afinal, somos consumidores globais, compramos produtos atrelados ao dólar e devemos fugir da mentalidade de ser apenas investidores locais”, salientou.

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