Na manhã desta sexta-feira (23), a Avenue realizou a live “Aumento do IOF e do Risco-Brasil: o que você controla?” para esclarecer os impactos da medida do governo federal que alterou, de forma abrupta, as alíquotas do IOF em operações de câmbio.
Inicialmente, a medida anunciada pelo governo gerou confusão e incerteza no mercado, especialmente pela forma abrupta como foi comunicada.
A interpretação inicial era de que o IOF poderia subir de 0,38% para até 3,5% em remessas internacionais, dependendo da finalidade. Após críticas e revisões, a alíquota para investimentos foi definida em 1,1%, enquanto para gastos em contas internacionais passou a ser de 3,5%.
O movimento, que pegou o mercado de surpresa, foi duramente criticado por William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, e por Roberto Lee, CEO da corretora, que participaram da transmissão. Ambos alertaram para o aumento do que classificam como “risco de fronteira”, um conjunto de incertezas econômicas e institucionais que afetam a confiança em países emergentes.
“Ontem a gente viu uma aula do que a gente chama de risco de fronteira, como que a gente pode, dentro do nosso país, não controlar nosso próprio dinheiro”, afirmou Castro Alves logo no início da live.
Uma sinalização que custou caro
Na avaliação da Avenue, o aumento súbito do IOF foi interpretado pelo mercado como uma tentativa de controle de capitais, o que piora a percepção de segurança para investidores — especialmente os estrangeiros.
“O governo acendeu, com essa decisão, um alerta que a gente chama de risco de fronteira. Não é só risco Brasil, é mais profundo: é a incerteza institucional, a mudança abrupta de regras, a falta de previsibilidade”, destacou o estrategista.
Embora o governo tenha voltado atrás e mantido a alíquota de 1,1% para investimentos (ante os 3,5% anunciados anteriormente), as operações para gastos pessoais em contas no exterior passaram a ser taxadas em 3,5%. O retorno de recursos ao Brasil continua com alíquota de 0,38%. A mudança gerou dúvidas operacionais, que a Avenue se apressou em esclarecer aos clientes.
“A confiança não volta junto com a decisão do governo. Ela se perde num segundo, como já dizia o Warren Buffett, e leva anos para ser reconstruída”, alertou Castro Alves.
CEO da Avenue critica instabilidade e defende investimento estrutural no exterior
Durante a transmissão, o CEO da Avenue, Roberto Lee, destacou que a medida do governo reforça a importância de se pensar no investimento internacional como parte permanente da estratégia financeira dos brasileiros. Ele ressaltou que, diante da instabilidade local, cresce entre os investidores a percepção de que manter todo o patrimônio no país é arriscado.
“O que a gente acredita — e não só acredita, a gente tem certeza — é que o investimento no exterior deve acontecer de forma estrutural na vida do brasileiro”, afirmou.
Lee também mencionou que boa parte dos clientes da plataforma declara buscar esse tipo de diversificação por segurança, e não apenas por retorno.
Por que o Brasil exibe risco de fronteira?
Durante a live, Castro Alves explicou as principais características de países considerados risco de fronteira: instabilidade econômica, volatilidade cambial, inflação elevada, mudanças regulatórias abruptas e insegurança jurídica.
Ele listou exemplos como Venezuela, Argentina, Nigéria e Turquia — e incluiu o Brasil entre os países que, apesar de emergentes, flertam com essas características em momentos de crise institucional.
“Infelizmente, o Brasil apresentou um exemplo clássico de risco de fronteira com esse episódio do IOF. Quando o governo modifica uma alíquota para algo dez vezes maior da noite para o dia, isso gera um ambiente de insegurança que afasta o investidor”, analisou.
A fala foi acompanhada de exemplos históricos. O estrategista relembrou que, durante a pandemia, o dólar saltou rapidamente, e que em momentos como o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o real se desvalorizou fortemente.
Ele também mencionou os casos extremos da lira turca e do peso argentino, que sofreram desvalorizações massivas após medidas de controle de capital.
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Diversificar é essencial — e urgente
A resposta para enfrentar esse cenário, segundo a Avenue, está na diversificação internacional. Ter parte do patrimônio em dólar, investido em ativos fora do país, é a forma mais eficaz de proteger o poder de compra e reduzir a exposição a políticas domésticas imprevisíveis.
“Diversificação internacional é ter uma parcela da sua poupança fora daquela jurisdição que concentra o risco. O chileno entendeu isso: mais de 50% da poupança do país está fora do Chile”, exemplificou Castro Alves.
Ele destacou também que o custo do IOF, mesmo com a manutenção da alíquota em 1,1%, pode ser compensado pelos retornos dos investimentos internacionais ao longo do tempo.
Estudos da FGV mostram que o ideal seria ter entre 16% e 18% do patrimônio atrelado ao dólar, justamente para reduzir o impacto de crises locais.
“O que custa caro não é o IOF. O que custa caro é o tempo. Se você tivesse investido em S&P com o dólar valorizando, teria tido retorno de quase 20% em um ano”, exemplificou.
Não espere o câmbio ideal — o tempo é o ativo mais valioso
A live também abordou um dos comportamentos mais comuns entre investidores brasileiros: esperar o “melhor momento” para comprar dólar. William argumentou que, diante da imprevisibilidade de fatores como reformas, eleições ou trocas de ministros, esse tipo de postura costuma resultar em perda de oportunidade.
“Vale mais a pena estar seis meses adiantado do que cinco minutos atrasado. Tem gente que mandou dinheiro com IOF de 0,38%. Quem esperou, pagou 1,1%. Amanhã, pode ser 6%.”
Além disso, ele alertou para a importância de pensar em prazos longos. Ao simular investimentos em títulos que rendem 5% ao ano, ele mostrou que o retorno acumulado em cinco anos pode superar 60% caso o dólar também se valorize — mesmo com oscilações no câmbio ou no IOF.