Carioca com criação mineira, Paulo Guedes é um dos principais economistas da história recente do Brasil. Um dos principais “Chicago Boys” do país, Guedes foi ministro da Economia durante o governo de Jair Bolsonaro, entre 2019 e 2022.
O economista, formado na Universidade de Chicago (daí o apelido), foi o arquiteto das reformas liberalizantes do governo Bolsonaro, defensor de privatizações, austeridade fiscal e de um Estado mínimo.
Mas a trajetória de Paulo Guedes não se resume apenas à sua atuação como superministro do governo Bolsonaro. Ele teve uma presença marcante no mercado financeiro, sendo um dos fundadores do Banco Pactual, que daria origem ao BTG Pactual ($BPAC11), além de atuar como gestor em diversas assets e pioneiro na área de educação ao oferecer um dos primeiros cursos de MBA em finanças.
Agora, Paulo Guedes se junta a Gustavo Montezano, ex-presidente do BNDES, e a outros nomes de destaque do mercado financeiro na Yvy Capital, que se apresenta como uma “gestora verde”, com foco em projetos de infraestrutura que coloquem o Brasil à frente da transição energética mundial.
Quem é Paulo Guedes: infância mineira e formação em Chicago
Paulo Guedes nasceu no Rio de Janeiro em 24 de agosto de 1949, filho de uma servidora do Instituto de Resseguros do Brasil, o atual IRB ($IRBR3), e de um vendedor de material escolar.
Embora tenha nascido na capital fluminense, Guedes foi criado em Belo Horizonte, onde estudou no Colégio Militar.
Desde a infância, sempre demonstrou um perfil competitivo e tinha um “pavio curto” (como ele mesmo define) — traços que o acompanhariam na vida adulta. Seu temperamento ainda lhe rende frases ácidas e diretas, o que contribuiu para sua reputação ao longo da carreira.
Graduado em Economia pela UFMG e mestre pela FGV-RJ, Guedes ficou conhecido por sua defesa do neoliberalismo. No entanto, na época, as universidades seguiam a cartilha dos neokeynesianos, corrente inspirada nas ideias de Paul Samuelson, que defendia maior intervenção do Estado na economia para corrigir distorções do capitalismo.
Em 1974, mudou-se para os EUA com uma bolsa do CNPq, experiência que transformaria sua vida intelectual. Na Universidade de Chicago, doutorou-se sob a influência de Milton Friedman e outros ganhadores do Nobel de Economia, abraçando o liberalismo radical. Foi lá que se tornou um “Chicago Boy”, grupo associado às reformas da ditadura de Pinochet no Chile — experiência que mais tarde tentaria replicar no Brasil.
Seus professores e os debates com colegas moldaram para sempre sua forma de pensar. Sua tese sobre questões fiscais e endividamento do governo reflete o mantra que repetiria por décadas e que se tornaria ainda mais presente na campanha de Bolsonaro: “é preciso reduzir o Estado e os gastos públicos”.

Rejeitado no Brasil, Paulo Guedes vai trabalhar no Chile
Após concluir a formação em Chicago, Guedes retornou ao Brasil com o objetivo de atuar no meio acadêmico. Seu plano era trabalhar em tempo integral em instituições de ensino superior, mas só conseguiu vagas de tempo parcial na PUC-Rio, FGV e no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa).
Em entrevistas, Guedes afirmou que as universidades da época eram compostas por grupos fechados de professores avessos a novas ideias.
No início dos anos 1980, aceitou um cargo na Universidade do Chile, então sob intervenção militar do governo de Augusto Pinochet.
Apesar de afirmar que não compactuava com o regime, sua passagem pelo país — onde testemunhou privatizações, a autonomia do Banco Central e troca do sistema de previdência por capitalização — rendeu-lhe críticas permanentes. “Sempre defendi ideias, não regimes”, costuma responder quando questionado.
Nem mesmo o pioneirismo neoliberal dos chilenos fez com que Guedes permanecesse no país por muito tempo. Após um terremoto em Santiago, que assustou sua esposa, Cristina, então grávida de sua única filha, Paula, ele decidiu voltar ao Brasil.
Do mercado financeiro à crítica pública
De volta ao Brasil, retomou sua trajetória na Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex) antes de ser convidado para assumir uma diretoria no Instituto Brasileiro do Mercado de Capitais (Ibmec), a convite do então vice-presidente da instituição, Roberto Castello Branco.
Quase 40 anos depois, Guedes indicaria Castello Branco para a presidência da Petrobras ($PETR4), em 2019.
A passagem de Guedes pelo Ibmec foi histórica. Ele ajudou a instituição a criar o primeiro MBA executivo em finanças do país, curso que se tornaria um dos motores de crescimento e expansão do instituto.
Em 1983, Guedes fundou o Banco Pactual, após um convite de Luiz Cezar Fernandes. Fernandes havia sido forçado a deixar a sociedade com Jorge Paulo Lemann no Banco Garantia, para dar espaço a novos sócios, como Marcel Telles e Beto Sicupira.
Contrariado com sua saída, Fernandes decidiu abrir um concorrente, junto com Guedes e André Jakurski. PG tornou-se o estrategista-chefe do banco, escrevendo relatórios econômicos com sua já conhecida acidez.
Foi com esses relatórios que Paulo Guedes se tornou um dos nomes mais respeitados (e temidos) do mercado. Suas previsões certeiras, como a do fracasso do Plano Cruzado, consolidaram sua reputação.
Em 1986, uma de suas previsões sobre o fracasso do Plano Cruzado transformou-se em uma aposta certeira, impulsionando o crescimento do Pactual no mesmo ano em que o plano falhou miseravelmente.
Com o sucesso do banco, Guedes tornou-se um dos nomes mais respeitados do mercado na época. Ele comandava o trading do Pactual, setor responsável por cerca de 90% dos lucros da instituição.
Enquanto Jakurski cuidava da renda variável, Guedes comandava as áreas de câmbio, renda fixa e juros.
Apesar de seu sucesso, Guedes perdeu milhões em operações de day trade. Segundo ele, foi um período de aprendizado. Seus próprios sócios pediram que interrompesse as operações.
Nos anos 1990, Guedes deixou o Pactual após discordar da expansão do banco para o varejo e criou a gestora JGP, junto com André Jakurski. O nome da gestora é um acrônimo dos nomes Jakurski, Guedes e da palavra “Partners”.
Sem Guedes e Jakurski, Luiz César Fernandes aceitou deixar o controle do Pactual, abrindo caminho para uma nova geração de sócios, liderada por André Esteves, Eduardo Plass, Gilberto Sayão, Luiz Cláudio Garcia e Marcelo Serfaty. Após ser vendido e recomprado do UBS, o Pactual se transformou no BTG Pactual.
Em 2004, Guedes deixou a JGP após a gestora receber um novo aporte de recursos. Fora da empresa, montou uma consultoria com seu irmão Gustavo, a GPG – Gustavo e Paulo Guedes –, mantendo forte participação no mercado futuro da Bolsa de São Paulo.
Quando a crise financeira de 2008 eclodiu, Guedes já comandava a BR Investimentos, empresa criada em 2006.
Em 2013, a gestora fundiu-se com a Mercatto Asset, especializada em fundos de ações, crédito e multimercado, e com a Trapezus, focada em estratégias quantitativas, dando origem à Bozano Investimentos, liderada por Guedes e Sergio Eraldo De Salles Pinto.
Durante seu período à frente da BR Investimentos, captou mais de R$ 1 bilhão para investimentos em projetos educacionais.
Paralelamente ao mercado, o economista atuava no Ibmec. No final da década de 1990, ele comprou o instituto e conseguiu aprovar sua cisão em duas áreas distintas, que seguiriam operando sob a mesma marca.
Para essa empreitada, Guedes buscou como sócio Carlos Haddad, ex-diretor do Banco Central e do banco Garantia. Juntos, aportaram R$ 2,9 milhões e adquiriram a escola do Ibmec.
No entanto, divergências sobre o futuro da instituição levaram a uma nova virada na carreira de Guedes. Sem acordo com Haddad, ele deixou a sociedade em 2003, vendendo sua participação por R$ 30 milhões.
Posteriormente, sob o controle de Haddad, o Ibmec foi dividido: as unidades do Rio de Janeiro e Belo Horizonte foram vendidas ao grupo DeVry por R$ 700 milhões em 2015, enquanto a unidade de São Paulo passou a se chamar Insper.
Além de sua atuação no setor educacional, Guedes cofundou o Instituto Millenium, um think tank liberal. Suas colunas na imprensa, com críticas ao que chamava de “gasto público descontrolado” e a defesa da Operação Lava Jato, pavimentaram seu caminho para a política.
Guedes e a comunicação
Além do mercado financeiro e da educação, Guedes também teve forte influência no setor de comunicação. À frente da BR Investimentos, ele adquiriu 20% da Abril Educação, tornando-se sócio da família Civita, então controladora da Editora Abril.
O negócio com os Civita só avançou após a venda da HSM — empresa focada em eventos e educação corporativa — para o grupo RBS e a Globo Participações, da família Marinho, que controla a Rede Globo.
Além de investir em empresas, Guedes integrou conselhos de administração de companhias listadas na bolsa, como PDG Realty ($PDGR3), Localiza ($RENT3) e Ânima Educação ($ANIM3).

A ascensão política: de Huck a Bolsonaro
Reconhecido por sua leitura macroeconômica, Guedes foi sondado diversas vezes para atuar como ministro em diversos governos. Apesar de ser o principal nome do ultraliberalismo no Brasil, sua entrada no mundo político ocorreu de forma inusitada: através de uma conversa com a então presidente Dilma Rousseff.
Na ocasião, Dilma buscava um substituto para Joaquim Levy no Ministério da Fazenda. Levy, por sua ligação com o mercado financeiro, era criticado por alas mais radicais do PT.
Em uma reunião que durou mais de quatro horas, Guedes sugeriu que a presidente adotasse o plano “Ponte para o Futuro”, apresentado meses antes pelo PMDB (atual MDB). Em troca, recomendou que Dilma exigisse do Congresso a aprovação de uma reforma política. Apesar do longo diálogo, Dilma não o convidou para integrar o governo.
Percebendo o agravamento da crise econômica, Guedes antecipou que a inflação dispararia e que o Brasil buscaria um nome outsider nas próximas eleições.
Inicialmente, ele tentou convencer Luciano Huck a disputar a presidência. Conversou com o apresentador e compartilhou sua visão de país, mas Huck desistiu da candidatura dois anos depois.
Foi então que Guedes voltou sua atenção para um nome em ascensão nas redes sociais: Jair Bolsonaro.
Na época, Bolsonaro era conhecido por defender pautas nacionalistas e protecionistas, em contraste com a agenda liberal de Guedes. O economista, no entanto, orgulha-se de ter convertido Bolsonaro ao liberalismo em poucas semanas.
Governo Bolsonaro: reformas e obstáculos
No comando do Ministério da Economia — uma fusão inédita de quatro pastas —, Guedes concentrou seus esforços na Reforma da Previdência, aprovada em 2019, ainda que com modificações. Entre suas prioridades estavam a privatização de estatais e a simplificação tributária.
Uma de suas propostas mais polêmicas foi a criação de um imposto sobre transações financeiras, similar à extinta CPMF, que enfrentou forte resistência, inclusive do próprio presidente.
A PEC do Pacto Federativo, que previa a extinção de municípios inviáveis financeiramente e o corte de salários de servidores, também encontrou barreiras no Congresso.
A agenda de privatizações avançou em algumas frentes, como a venda do controle da BR Distribuidora, a atual Vibra ($VBBR3), e a desestatização de ativos da Petrobras, como dutos, campos e refinarias. No entanto, Bolsonaro resistiu à venda de empresas estratégicas, como Petrobras, Banco do Brasil ($BBAS3) e Caixa Econômica Federal.
A pandemia frustrou a meta de zerar o déficit fiscal em 2020, mas Guedes manteve seu discurso otimista: “As reformas são inevitáveis”.
Em 2019, Guedes foi eleito “Melhor Ministro da América Latina” pela revista GlobalMarkets.

Pós-governo Bolsonaro
Após deixar o governo em 2022, Guedes retomou suas atividades no setor privado e acadêmico.
Em janeiro de 2023, tornou-se conselheiro do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, assumindo um papel consultivo sem vínculo com a administração estadual.
Cumprida a quarentena obrigatória de seis meses, em julho de 2023, Guedes tornou-se sócio do grupo Legend Capital, assumindo a presidência do conselho e liderando reestruturações empresariais. E integra o time estrelado da Yvy Capital, gestora voltada para transição energética, que conta com alguns nomes do antigo governo.
No meio acadêmico, passou a ministrar aulas no MBA em Macroeconomia & Portfolio Management, em parceria com o influenciador financeiro Thiago Nigro. O curso conta com a participação de outros ex-integrantes do governo Bolsonaro, como Adolfo Sachsida e Gustavo Montezano.
Além disso, Guedes colaborou com Sachsida na elaboração do livro A Política Econômica no Período 2019-2022: Consolidação Fiscal e Reformas Pró-Mercado para Aumento de Produtividade, publicado em março de 2024. O livro analisa as estratégias econômicas do governo Bolsonaro e suas implicações para o futuro do país.
Expandindo sua atuação internacional, Guedes participou de eventos como o Fórum Liberdade, no Uruguai, e o Conservative Political Action Conference (CPAC), nos EUA, onde discursou sobre os “perigos do socialismo na América Latina”.
Mantendo uma posição ativa no debate econômico, Guedes continua crítico à política econômica do governo Lula, apontando preocupações com o aumento dos gastos públicos e o que considera uma intervenção excessiva do Estado na economia.
O desafio verde da Yvy Capital
A Yvy Capital, uma das novas empreitadas de Guedes, traz como sócios, além do ex-BNDES Montezano; o ex-ministro do Meio Ambiente Joaquim Leite; o diplomata e ex-diretor geral da Organização Mundial de Comércio (OMC) Roberto Azevedo; e o ex-CEO do UBS Pactual e do Bank of America no Brasil, Rodrigo Xavier.
A gestora definiu quatro verticais de investimentos: transição energética, recursos naturais (de mineração a celulose), agroindústria e saneamento e resíduos.
“O Brasil tem recursos em escala. Mas temos uma certa carência de capital financeiro, de patrimônio científico, de capital intelectual e, até certo ponto, também de projetos. É um diamante bruto que precisa ser lapidado”, explicou Montezano à época da formação da gestora.
“Queremos investir na turma que está realmente produzindo a transição energética e não em quem abraça árvore, toma ayahuasca e chama isso de ESG”, brincou o ex-ministro em entrevista ao Brazil Journal.
“O Brasil vai ser protagonista dessa transição. Temos tudo. Temos um ambiente muito bom para solar e eólica. Vamos produzir hidrogênio verde e amônia verde baratos. O que precisamos é transformar tudo isso numa alavanca para gerar a descarbonização produtiva”, disse Guedes.
Para o ex-ministro, não é preciso “parar de crescer” para ser ESG. “Acreditamos em uma transição energética rentável, que gere crescimento e aumento de produtividade”, diz.
Fundo focado em infraestrutura
A Yvy Capital está lançando um novo fundo de investimentos: o Yvy Capital Fic Infra (YVYQ11).
Focado no setor de infraestrutura, o fundo busca oportunidades em projetos estratégicos nas áreas de rodovias, portos, energia e saneamento, além de atuar em setores essenciais como tecnologia, saúde, educação e agronegócio.
O Yvy Capital Fic Infra será gerido por Gustavo Montezano, André Resende e Rafael Castello, profissionais altamente experientes, com mais de 20 anos de atuação no mercado financeiro. O fundo busca oferecer retornos atrativos aos investidores por meio da diversificação e gestão estratégica de ativos.
Com mais de R$ 1 bilhão em potenciais operações de crédito, o fundo investirá em segmentos estratégicos, como saneamento, rodovias estaduais, geração distribuída e biometano. Essas operações estão distribuídas entre as regiões Sul, Sudeste e Nordeste, garantindo diversificação e redução de riscos setoriais e regionais.
Detalhes do Yvy Capital Fic Infra
O Yvy Capital Fic Infra é um fundo estruturado como condomínio fechado, ou seja, suas cotas não podem ser resgatadas antes do prazo de duração, que é de 5 anos, podendo ser prorrogado por mais 2 anos.
O objetivo deste investimento é gerar um retorno de CDI + 2% ao ano por meio da aquisição de cotas de FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios). Para pessoas físicas, os dividendos são isentos de tributação, o que torna essa opção ainda mais atraente. O público-alvo são investidores qualificados, que possuem maior familiaridade com esse tipo de produto.
A liquidez do fundo não permite resgates diretos, mas as cotas podem ser negociadas via Cetip, caso haja demanda de outros investidores. Em termos de risco, o fundo está exposto ao risco de crédito das operações e ao risco de spread de crédito. Contudo, não há risco de marcação a mercado, uma vez que os ativos estão atrelados ao CDI+, garantindo maior previsibilidade no retorno.
Por que investir em CDI + neste momento?
Com alta da Selic, ativos CDI+, vinculados à taxa de juros, se beneficiam. Atualmente em 13,25%, a Selic já tem como certa outra elevação de 1 ponto porcentual na reunião de março, indo a 14,25%. Após esse movimento, são esperadas novas altas. A EQI Asset, por exemplo, vê Selic em 16,25% até o final do ano.
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