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Plano Real: medida anti-inflação completa 30 anos

Plano Real: medida anti-inflação completa 30 anos

Em 2024, o Plano Real faz 30 anos de implementação. O Real foi um grande marco histórico na economia do Brasil, tendo sido iniciado na década de 90 e elaborado para mudar o sistema econômico nacional.

Tudo começou quando o presidente Itamar Franco deu o start ao enviar para votação no Congresso Nacional a Medida Provisória (MP) que criou a Unidade Real de Valor (URV), uma espécie de moeda fictícia que antecedeu o real, em fevereiro de 1994. Entretanto, o crédito do Plano Real é dado, na maior parte das vezes, a Fernando Henrique Cardoso (FHC), ministro da Fazenda na época.

A virada da URV para o Plano Real aconteceu somente no mês de julho. E até hoje, ela é a moeda mais duradoura do país desde 1942. Conheça a história!

Quando começou o Plano Real?

Nos oito anos anteriores ao Plano Real, o Brasil teve quatro moedas diferentes e registrou um aumento anual de preços de quase 2.500%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).

Segundo documentos da época que seguem guardados no Arquivo do Senado, em Brasília, muitos dos senadores demonstraram otimismo e esperança com o possível sucesso do Plano Real; outros já esperavam por uma inflação em queda no início e depois uma volta com força total.

Plano Real - 30 anos. Explicação anos de hiperinflação.

De acordo com os documentos do Arquivo do Senado, em 1994, houve especulações até mesmo sobre um possível golpe de Estado por conta da hiperinflação. Vale lembrar, o Plano Real foi lançado apenas nove anos após os governos militares chegarem ao fim.

Vilão das compras: a remarcação no supermercado

Por décadas, o barulhinho nos corredores dos supermercados era característico. Em época de hiperinflação, os chamados “remarcadores” estavam diariamente nas lojas, remarcando os preços dos produtos.

Era uma verdadeira loucura: a população comprava 1kg de tomate na segunda-feira por R$ 5 e, na quarta, ele já estava R$ 15, por exemplo.

Fazer comprar em época de hiperinflação era como uma corrida contra o tempo para os que precisavam sustentar a casa nas décadas de 80 e 90, antes do Plano Real.

A perda de poder aquisitivo foi forte e era uma caça por promoções, já que nem toda a população conseguia se planejar para fazer suas compras e enfrentava até mesmo a falta de espaço dentro de casa para estocar alimentos e demais produtos essenciais.

foto de Fernando Henrique Cardoso
Fernando Henrique Cardoso, no Senado, em cerimônia dos 20 anos do Real. Foto: Agência Brasil

Estratégias contra a hiperinflação

Com os preços subindo incessantemente, o Governo Federal começou a elaborar estratégias para acabar com a hiperinflação no país, começando já nos anos 80.

Os planos anteriores ao Real não funcionaram e você confere a seguir quais foram eles:

  • 1986 – Plano Cruzado: sob a presidência de José Sarney, foi feito o corte de três zeros da moeda e transformação do cruzeiro no cruzado (Cr$ 1.000 = Cz$ 1), o congelamento da taxa de câmbio oficial e o congelamento de preços;
  • 1987 – Plano Bresser: congelamento de preços;
  • 1989 – Plano Verão: ainda nas mãos de Sarney, houve corte de três zeros na moeda novamente e transformação do cruzado novo (Cr$ 1.000 = NCz$ 1), congelamento da taxa de câmbio oficial e aumento das taxas de juros;
  • 1990 – Plano Collor 1: já sob o comando de Fernando Collor de Mello, foi feita a retenção conhecida como confisco dos depósitos bancários por 18 meses, a transformação do cruzado novo no cruzeiro (NCz$ 1 = Cr$ 1), a criação de impostos como o IPI e o IOF, a implantação do regime de câmbio flutuante e a abertura comercial gradual da economia brasileira;
  • 1991 – Plano Collor 2: em uma segunda tentativa, Collor congelou os preços e salários, fez a extinção das aplicações do tipo overnight (para resgate no dia seguinte) e criação da taxa referencial (TR) de juros, usada até hoje;
  • 1994 – Plano Real (1994): com Itamar Franco veio o plano que deu certo e que usamos até hoje, com uma adoção temporária da Unidade Real de Valor (URV) e depois uma substituição da URV e do cruzeiro real pelo Real (CR$ 2.750 = US$ 1 = 1 URV = R$ 1 no dia 1º de julho).

Em 1994, com a moeda valendo o mesmo que o dólar e sem o congelamento de preços, o Brasil chegaria à inflação de um país desenvolvido: 1,5% em 1998. Em compensação, os juros seguiram na mentalidade do terceiro mundo com o BC colocando a taxa de juros lá no alto, o que desestimulou o consumo e atraiu investidores.

Com uma inflação baixa e juros altos, o Brasil teve pouco crescimento econômico e se manteve sustentado em boa parte pelas exportações. Com o lançamento do Real, o Produto Interno Bruto (PIB), medidor de riqueza do país, cresceu 6%, mas em 98 parou.

Na época, Ásia e Rússia ficaram em crise, ao longo de 97 e 98, o que trouxe uma queda nas exportações, tendo a moeda quase que completamente desvalorizada em 1999. O dólar que antes era comprado a R$ 1 passou a custar R$ 2 – e hoje em dia está na casa dos R$ 5.

O BC adotou o câmbio flutuante e o sistema de metas para a inflação e taxa de juros, o que acompanhamos hoje a cada 45 dias com as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom).

Implementação do Plano Real

Na época, a moeda foi implementada com base em um plano de três fases:

  1. Ajuste fiscal com a criação do Programa de Ação Imediata (PAI): criado em julho de 1993, o PAI veio para restabelecer o equilíbrio nas contas públicas, como um preparo para o lançamento do Plano Real no ano seguinte. Teve entre suas medidas o Fundo Social de Emergência (FSE) para aumentar a arrecadação tributária, visando desvincular verbas do orçamento da União e direcionar os recursos para o Fundo. Isso daria ao governo margem para remanejar e/ou cortar gastos públicos supérfluos.
  2. Criação da Unidade Real de Valor (URV): assinada em fevereiro de 1994 por Itamar Franco, essa etapa estabeleceu o uso de uma moeda escritural, a Unidade Real de Valor (URV), que funcionava como uma conversão entre a moeda da época, o Cruzeiro, e a nova moeda que viria a circular, o Real.
  3. Transformação da URV em Real: Já em junho foi feita a conversão para a terceira fase finalmente chegando ao Plano Real, com edição da Medida Provisória que fixou a nova moeda.

30 Anos do Plano Real

Neste ano, o Plano Real completa 30 anos presente na economia brasileira. Em forma de comemoração, o Banco Central realizou a II Conferência Anual para lembrar da evolução gerada com o Plano e visões de grandes nomes da economia. A mesa redonda contou com a presença de grandes nomes do BC, como Roberto Campos Neto, Pedro Malan, Pérsio Arida, Gustavo Franco e Gustavo Loyola.

“Foi um período longo. A inflação disparava, tentava-se fazer alguma coisa. Às vezes, algum resultado era conseguido. Mas logo em seguida a hiperinflação voltava. Havia, então, a grande dúvida se nós brasileiros conseguiríamos encontrar uma solução para esse problema”, relatou o economista Raul Velloso.

De acordo com Roberto Campos Neto, após o fracasso de tantos planos de estabilização da inflação, a estabilidade proporcionada pelo Plano Real foi um fator chave para o desenvolvimento econômico do país.

“A estabilidade contribuiu não só para a redução da inflação como para a criação de um ambiente mais previsível e seguro para exceções de investimento”, comentou o presidente do BC ao abrir a Conferência.

“Em resumo, o Plano Real foi um marco histórico e um sucesso na história econômica do Brasil, permitindo controlar a inflação depois de décadas de descontrole inflacionário, contribuindo para o desenvolvimento econômico e amadurecimento institucional do Brasil”, ressaltou o presidente do Banco Central.

Já Pedro Malan, relembrou as conversas políticas da época para se decidir quais estratégias seriam adotadas durante a mudança de moeda e relatou o quanto o trâmite foi complicado.

“Havia muita gente que achava que não tinha o que fazer. Estávamos perto das eleições, faltava apenas um ano para as eleições de outubro de 1994 e teríamos que esperar um novo governo para pensar em implementar um plano”, comentou. “O problema era que nós não tínhamos esse tempo todo.”

Apesar de uma queda na inflação em 1995, os preços só baixaram realmente em 1996. Para Malan, esse foi um longuíssimo processo.

Derrubar a inflação x baixar a inflação

De acordo com Pérsio Arida, há uma enorme diferença entre derrubar a inflação e sustentá-la baixa. “O primeiro ponto é que aquela solução nunca tinha sido tentada em outro lugar. O segundo problema é que, uma vez que a inflação está baixa, é preciso remanejar as políticas fiscal e monetária para sustentá-la”, comenta.

Arida afirma que o Real inovou nas duas funções. Segundo ele, a URV foi o que derrubou a inflação, já para segurar a inflação havia uma proposta de modernização econômica do Brasil, ou seja, não era um problema puramente macroeconômico.

“Todos os políticos na época sabiam que quem conseguisse derrubar a inflação seria fatalmente reeleito ou faria seu sucessor”, comenta Arida sobre a corrida contra o tempo e contra a alta generalizada dos preços.

Dava para ter feito o Real antes? Segundo Arida não, pois a dinâmica da inflação era outra e que para fazer o Real foi preciso ter uma liderança política como foi a de Fernando Henrique Cardoso.

“Fazer um plano requer documentos legais, pensar todos os obstáculos possíveis e imagináveis, o que vai acontecer pela frente… É um problema muito mais complexo e é um plano coletivo, mas precisa ter uma liderança política. No caso do Plano Real precisava também de alguém com capacidade intelectual para entender do que se tratava”.

Segundo Gustavo Loyola, o sistema financeiro brasileiro passou por muitas tensões após 1995 e resistiu a tudo. “Eu diria que nós criamos várias instituições importantes na parte de regulação bancária e ficou muito clara a importância da estabilidade financeira para a estabilidade macroeconômica da política monetária”, complementa.

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