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Intel e os novos ‘campeões nacionais’ de Trump

Intel e os novos ‘campeões nacionais’ de Trump

Quem copia quem? Por muitos anos, em se tratando de inovações tecnológicas e financeiras, sempre foi difícil competir com os americanos.  

É inquestionável o sucesso dos EUA ao estabelecer um ecossistema que começa na geração de ideias, passa por vastos canais de financiamento e culmina em efervescência em Wall Street. 

Nos últimos anos, porém, a China vem surpreendendo o mundo com seu elevado nível de conectividade interna. 

Empresas como Alibaba, Tencent, JD, BYD e outras se tornaram conhecidas globalmente e transmitem a imagem de um país que não fica devendo nada ao Ocidente em termos de inovação tecnológica. 

O gráfico abaixo, por exemplo, representa a trajetória nos últimos 12 meses dos índices Hang Seng Tech, que mede a performance das principais empresas do setor na Bolsa de Hong Kong, e Nasdaq, referência nos EUA.

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Fonte: Bloomberg

Não por acaso, há quem diga até que os chineses já estão um passo à frente no que diz respeito a tecnologias associadas ao uso do smartphone para soluções de problemas cotidianos. 

Mesmo assim, impressiona saber que o grau de independência tecnológica (ou autossuficiência) da China ainda é tão baixo.  

Um relatório a que tive acesso – oriundo da Gavekal Technologies, empresa cujo grupo é sediado na China – sugere que, em se tratando de semicondutores, o nível de autossuficiência do país é de aproximadamente 14%.  

Quando o assunto são os semicondutores sofisticados (menores do que 8 nanômetros), os chineses praticamente dependem inteiramente dos americanos. 

Quem copia quem? Estado como impulsionador da inovação e comprador de primeira instância

Todavia, há uma mudança em curso que parece alterar a ordem do “Quem copia quem?”. Refiro-me à presença do Estado como agente impulsionador da inovação e comprador de primeira instância.

No Ocidente, a presença do Estado sempre foi marcante em situações de resgate em crises econômicas. Observamos isso de forma clara na crise de 2008, na pandemia e, mais recentemente, na falência do banco californiano SVB – Silicon Valley Bank

O que busco explorar neste texto é a ideia de um Ocidente que parece estar mais interessado em um Estado mais presente, caminhando em uma direção parecida com o modelo chinês. 

Esse movimento do Ocidente ainda é incipiente, mas pode ser facilmente detectado na iniciativa dos EUA de assumir participações acionárias em empresas estratégicas.  

Recentemente, por meio do Departamento de Defesa, os EUA investiram diretamente na empresa MP Materials, única americana operacionalmente ativa na área de metais de terras raras, com um aporte de 400 milhões de dólares em ações preferenciais. 

O gráfico abaixo mostra o impacto e a variação das ações da empresa neste ano.

Fonte: Bloomberg

Depois, foi a vez de Howard Lutnick, secretário de Comércio dos EUA, confirmar que o país está se tornando acionista da Intel, convertendo recursos destinados à empresa por meio do Chips Act da era Biden em participação acionária. 

Fonte: Bloomberg

O mesmo Lutnick, aliás, que já disse que ter o governo americano como acionista estratégico de empresas como a Lockheed Martin faz todo o sentido na atualidade. 

Os anúncios supracitados certamente irritaram os libertários, defensores de um Estado mínimo. Eles logo gritaram: “crony capitalism!!!” (algo como capitalismo de compadrio, em bom português). 

Todavia, nada parece conter o apetite do governo Trump por um Estado de mão mais forte e pesada. E não só nas empresas, mas também em instituições como o Federal Reserve, o banco central mais importante do mundo. 

Se Trump obtiver sucesso em sua tentativa de exercer influência direta no Fed, substituindo Jerome Powell, presidente do órgão, por uma pessoa mais alinhada com sua percepção de que a taxa de juros deve cair, teremos um Fed cada vez mais parecido com o PBoC, o Banco Popular da China.

O que Trump busca fazer com a demissão de Lisa Cook, representante do Fed, é semelhante ao que tentou no início deste ano com Rebecca Slaughter, representante da Federal Trade Commission (FTC). Neste último caso, Trump não obteve sucesso. 

A presença do Estado na China é algo controverso. Há quem diga que a sobrecapacidade de produção que assola o país atualmente tem tudo a ver com a presença estatal, que incentiva setores de forma incomum e intensa.  

Contudo, devemos reconhecer que a presença do Estado na economia praticamente define o modus operandi chinês. O Estado está envolvido em diversas etapas da produção e do planejamento estratégico de diferentes iniciativas. 

Mais importante: o Estado se posiciona como comprador de primeira instância de produtos considerados estratégicos. Este foi o caso da BYD: uma decisão da província de Shenzhen, ao designar o modelo E6 — fabricado em 2009 — como o veículo a ser utilizado pelo governo, se mostrou extremamente importante para o sucesso da empresa nos anos subsequentes.  

Algo análogo ocorre hoje com robôs humanoides produzidos por empresas como Ubtech Robotics e Unitree. Os grandes compradores desses produtos, neste momento, são universidades e institutos de pesquisa comandados pelo Estado. 

Campeões nacionais de Trump?

Será que o governo Trump insistirá nessa direção chinesa, criando “campeões nacionais”? Será que Trump precisa disso para “fazer a América Grande Novamente” — MAGA (Make America Great Again)? Ou será que está nisso apenas por si mesmo, em uma espécie de MTAG (Make Trump Appear Great)?

De uma forma ou de outra, há o risco de que esse movimento trumpiano conceda às estatais um status mais positivo, pelo menos no ponto de partida, até que surjam os velhos problemas já conhecidos, associados à presença de um Estado grande. 

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