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Independência do Fed em xeque: troca de diretores pode mudar política monetária global

Independência do Fed em xeque: troca de diretores pode mudar política monetária global

As mudanças previstas para fevereiro de 2026 no Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, o “Copom” dos EUA) podem redefinir os rumos da política monetária global e colocam em xeque a independência do Federal Reserve (Fed). A avaliação é de Marink Martins, analista internacional da EQI Research, para quem o banco central norte-americano enfrenta hoje “um perigo real e imediato” comparável apenas aos episódios mais turbulentos de sua história.

A tensão foi intensificada pela tentativa do presidente Donald Trump de demitir Lisa Cook, integrante do conselho de governadores do Fed, sob acusação de fraude hipotecária – ainda sem denúncia formal. O movimento, considerado “significativo” pelo JPMorgan, abriria a segunda vaga no conselho em menos de um mês e permitiria ao republicano nomear aliados alinhados à sua agenda econômica. Lembrando que Trump indicou em 7 de agosto Stephen Miran para integrar o Conselho de Governadores do Federal Reserve (Fed). Miran irá substituir Adriana Kugler, que renunciou ao cargo.

Marink Martins, analista internacional da EQI Research
Marink Martins, analista internacional da EQI Research. Divulgação/EQI

Trocas no Fomc: O tabuleiro do poder no Fed

Segundo Marink Martins, o cerne do risco está no processo de renovação dos mandatos dos 12 presidentes regionais do Fed, marcado para fevereiro de 2026. A cada cinco anos, essas cadeiras precisam ser revalidadas, e cabe ao conselho de governadores dar o aval.

“Se Trump conseguir consolidar maioria entre os sete governadores, ele terá condições de influenciar diretamente a escolha dos cinco presidentes regionais com direito a voto no Fomc. Isso significa, na prática, o controle da política monetária americana”, explica.

Hoje, Trump já conta com apoios internos importantes. Michelle Bowman e Christopher Waller, ambos indicados por ele, têm defendido cortes de juros mais agressivos, em sintonia com o discurso da Casa Branca. Waller, inclusive, é forte candidato à vaga de presidente da autoridade monetária. A recente substituição de Adriana Kugler por Stephen Myron – descrito como “trumpista de carteirinha” por Martins – reforça essa tendência. Caso a remoção de Lisa Cook prospere, outro aliado poderá se somar ao bloco pró-Trump.

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Um risco comparável a 1994

Martins faz um paralelo histórico para dimensionar o tamanho da ameaça. Ele lembra de 1994, quando o Fed elevou os juros seis vezes consecutivas, surpreendendo o mercado e provocando perdas bilionárias em bancos como o Goldman Sachs, além da quase falência de Orange County, na Califórnia.

“Assim como naquele ano, vivemos agora um momento em que as decisões do Fed podem abalar as bases do sistema financeiro global. A diferença é que, em 1994, tratava-se de uma estratégia técnica contra a inflação. Em 2026, corremos o risco de ver a política monetária sendo capturada por interesses políticos diretos”, afirma.

O analista usa até uma metáfora cinematográfica para reforçar sua avaliação:

“O título de um dos grandes sucessos de Hollywood em 1994, ‘Perigo Real e Imediato’, se aplica perfeitamente à situação atual do Fed.”

Impactos globais

Para Martins, a possível perda de independência do Fed teria repercussões que vão muito além dos EUA.

“O custo do dinheiro nos Estados Unidos define a taxa livre de risco global. É a base para precificar todos os demais ativos. Se essa base for ameaçada por ingerência política, não será apenas a economia americana em jogo, mas a estabilidade de todo o sistema financeiro internacional”, alerta.

O analista também lembra que os mercados já dão sinais de preocupação. A curva de juros americana, que esteve invertida durante boa parte de 2023 e 2024, voltou a se inclinar positivamente, refletindo incertezas sobre a condução da política monetária.

“Se a percepção de risco aumentar, poderemos ver fuga de capitais do dólar, desvalorização cambial e até um episódio semelhante ao Liz Truss moment no Reino Unido, quando o mercado reagiu em pânico a medidas fiscais consideradas imprudentes”, projeta, referindo-se à ex-primeira ministra britânica, que ficou apenas 45 dias no cargo.

O que está em jogo?

Na visão de Martins, o que se desenha é um embate institucional inédito entre a Casa Branca e o Fed.

“Trump indicou Jerome Powell à presidência do Fed em 2017, mas se arrependeu de ter seguido o trâmite institucional. Agora, ele parece determinado a não repetir o que considera um erro. O objetivo é moldar o banco central à sua imagem e vontade. Se conseguir, teremos o maior abalo à independência do Fed em quase um século”, conclui.

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