A crescente valorização das terras raras — grupo de minerais essenciais para tecnologias modernas — voltou a movimentar o mercado internacional, principalmente nesse contexto de tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Para entender os desdobramentos desse cenário, o analista internacional Marink Martins, da EQI Research, destacou como o domínio chinês nesse setor está redesenhando a correlação de forças entre as principais economias globais.
O analista ressalta que, embora o interesse dos Estados Unidos no setor de terras raras seja estratégico, o país ainda está distante de competir com a estrutura consolidada da China.
“Não basta extrair. É preciso refinar, processar e dominar a cadeia de valor. E nisso, os chineses estão muito à frente”, disse.
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Para Martins, o atual domínio chinês sobre as terras raras é resultado de um projeto de Estado iniciado há mais de quatro décadas.
“Desde o fim dos anos 1970, quando Deng Xiaoping afirmou que, se o Oriente Médio tem petróleo, a China tem terras raras, o país passou a investir pesado nesse setor. Hoje são mais de 120 mil pessoas envolvidas direta ou indiretamente na produção, com centros de pesquisa, universidades e políticas industriais alinhadas a esse propósito”, explicou.
Terras raras como posição estratégica
Esse avanço, segundo ele, garante à China uma posição estratégica em praticamente todas as cadeias industriais ligadas à transição energética e às tecnologias digitais. Segundo ele, quem controla o fornecimento desses minerais controla o ritmo de inovação global. É por isso que o tema deixou de ser apenas econômico e passou a ser geopolítico.
Sobre o papel do Brasil nesse contexto, o analista da EQI Research destacou que o país possui reservas relevantes, mas ainda carece de tecnologia e estrutura para competir em escala global. Ele explicou que o Brasil tem potencial mineral, especialmente em estados como Goiás e Minas Gerais, mas falta integração industrial. Se houver política pública consistente e investimento privado coordenado, podemos ocupar um espaço importante na cadeia de fornecimento.
Martins conclui que o debate sobre terras raras é apenas um capítulo da disputa tecnológica e econômica entre China e Estados Unidos.
“Essa corrida não é só por recursos, é pelo controle da próxima era industrial. As terras raras são a base invisível de tudo o que está por vir: energia limpa, inteligência artificial e defesa. E, por enquanto, a China segue jogando com vantagem”, completou ele.
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