A renda variável está em xeque no Brasil, com o investidor dando preferência à renda fixa e deixando a bolsa de valores (B3) de lado por conta de fatores macroeconômicos, como os juros.
Outro fator que deixa o mercado em suspenso diz respeito ao ruído político, com as eleições esquentando cada vez mais. O brasileiro deve ir às urnas domingo (2), mas analistas dizem acreditar que o pleito deve mesmo seguir para um segundo turno, dia 30 de outubro.
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No exterior, inflação nos EUA, crise energética na Europa, com conflito militar no Leste, e as tensões aumentando na Ásia, com Taiwan despertando a atenção de militares chineses. Esse panorama estressa os mercados mundiais e deixa o investidor acuado.
Desta forma, muitos estão recorrendo aos títulos do Tesouro, e também aos CDBs, RDBs, LCIs, LCAs, debêntures e por aí vai. O objetivo é encontrar alguma proteção nesse “mar encapelado” que se tornou o mercado de capitais.
Trata-se de um contingente de pessoas que – pelas razões expostas e outras mais, deixam provisoriamente os produtos da renda variável, como ações, fundos de ações, fundos de índice, fundos imobiliários, fundos cambiais, ouro, opções e mercado futuro.
Para se ter ideia de como o mercado está atípico, o Ibovespa apresentou, pela primeira vez na história, níveis de volatilidade anual inferiores aos do S&P 500, principal referencial acionário dos EUA.
Acontece que a bolsa brasileira se manteve, no último ano, entre 19 e 21 pontos de volatilidade. O referencial americano, que chegou a ficar abaixo dos 12 pontos em novembro, agora se aproxima dos 22. Desde 2002, a volatilidade média do Ibovespa é de 26,83 pontos, e a do S&P 500, de 17,55 pontos.
O banco Santander (SANB11) tem uma projeção bastante otimista para a bolsa. A instituição financeira diz acreditar que o Ibovespa alcance os 140 mil pontos no fim de 2023. Outras casas acreditam que 130 mil pontos é uma possibilidade.
O banco Santander diz ainda que o Ibovespa geralmente sobe 9% nos três meses seguintes à votação presidencial.
Esse quadro mostra que, em teoria, a bolsa brasileira está barata. Em tese, quem encontrar ativos resilientes no Ibovespa possivelmente encontrará o caminho do lucro em breve. Mas isso é uma perspectiva, não um fato.
Na prática, o que o investidor quer mesmo saber é para onde vai a bolsa de valores do Brasil.
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Quais são os setores mais pressionados da bolsa de valores do Brasil?
A bolsa de valores do Brasil tem alguns segmentos bastante pressionados por conta dos fatores já expostos, bem como outros como a própria pandemia do novo coronavírus que já recuou significativamente, com boa parte da população imunizada, mas deixou um rastro de estragos.
Quem foi grandemente afetado por esse fenômeno foi o setor de varejo, devido aos lockdowns constantes, e também ao arrocho salarial da população. Acontece que boa parte dos brasileiros tira seu sustento da informalidade e, assim, com restrição do direito de ir e vir, a renda dos trabalhadores inseridos nessa categoria caiu substancialmente.
Com menos dinheiro no bolso, as famílias deixam de comprar bens industriais para se concentrarem nas necessidades básicas. Ou seja, quem pretendia comprar uma geladeira ou trocar o sofá, por exemplo, vai adiar esse movimento, dando preferência à aquisição de comida que, nesse cenário de elevação dos preços, obriga a população a trazer menos gastando mais.
De olho nisso, o investidor se distancia de empresas como Via (VIIA3) e Magazine Luiza (MGLU3), duas empresas cujas ações estão em queda livre. Elas já foram as queridinhas dos traders mas, agora, estão em “stand by” na recomendação de analistas.
Tanto é assim que a ação MGLU3 reporta queda de 72,36% no período de um ano, conforme cotação de 21 de setembro de 2022, quando o ativo estava valendo R$ 4,53. Vale destacar que no mesmo dia do ano passado, o papel estava cotado em R$ 16,39.
Na sequência, a Via (VIIA3), dona da Casas Bahia e Ponto, vê seu ativo despencar 62,98% no período de um ano, cuja cotação em 21 de setembro de 2022 marcava R$ 3,25 contra R$ 8,78 de igual data em 2021.
Como, basicamente, todos os principais setores da bolsa brasileira estão em queda, e alguns em queda acentuada, fica mais fácil falar daqueles que ainda estão performando bem. Como já era de se esperar, as instituições financeiras continuam no azul. Mas não são todas as empresas que estão performando, logo, o investidor precisa puxar uma lupa e olhar cada uma com calma.
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Qual o cenário para o Ibovespa no curto prazo?
O cenário para o Ibovespa no curto prazo não é dos piores. Isso porque ele acumula alta de 8% em agosto e 5% no ano.
Vale lembrar que o Ibovespa, que é um índice, é o benchmark do investidor, ou seja, quando se monta uma cesta de ativos, o alvo é que ela fique acima desse indicador.
Portanto, se sua carteira se manteve acima dos 8% de retorno em agosto, significa que você ultrapassou o benchmark e deve, com isso, comemorar, dada a volatilidade do mercado.
De igual modo, se no acumulado do ano sua carteira lhe trouxe retornos superiores a 5%, significa que você fez a lição de casa.
Para 2022, contudo, há uma variável que deve ser levada em consideração quando a intenção é ganhar no curto prazo: as eleições.
Períodos eleitorais são sempre complicados para o mercado de capitais, pois a verborragia entre políticos e possíveis ingerências sobre empresas públicas listadas acabam gerando oscilação no preço dos ativos.
Como exemplo, pode-se citar a Petrobras (PETR3; PETR4) que esteve diariamente no noticiário ao longo do ano, e nem sempre com acontecimentos de natureza positiva. A petroleira se viu no meio de um turbilhão por conta do preço dos combustíveis.
A Vale (VALE3) também reportou muita oscilação ao longo do ano, mas por conta de seu principal cliente, a China, devido aos picos de Covid-19 e suas variáveis que, até este momento, não deram trégua ao país asiático.
Voltando ao imbróglio eleitoral de 2022, o mercado ouve “ruídos”, mas não está tão assustado quanto poderia, visto que os dois principais elegíveis na dianteira já são velhos conhecidos dos brasileiros.
Significa dizer que ninguém espera que qualquer um deles solte o “bicho papão” assim que houver um vencedor. Ou seja, ninguém está esperando qualquer tipo de ruptura institucional ou qualquer indisposição com setores da economia que se posicionaram em favor do “outro” ao longo da campanha.
Aparentemente, os traders já precificaram toda essa verborragia e boa parte se reposicionou para, assim, trabalhar com ativos de proteção por conta de possíveis trancos na bolsa brasileira na reta final das eleições.
Ao final de tudo, o que se espera depois da tempestade é sempre alguma calmaria. Essa é a expectativa, embora o Brasil tenha suas peculiaridades.
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Histórico da B3 em anos eleitorais
Na realidade, não existe, de fato, um padrão para o desempenho da bolsa de valores em anos eleitorais. O que se vê, no geral, é um desempenho semelhante de acordo com as características do pleito.
Na primeira eleição de Lula, em 2002, na segunda eleição de Dilma em 2014, e na eleição de Bolsonaro, em 2018, o mercado tinha muitas inseguranças sobre como seriam os governos dos novos presidentes em primeiro mandato.
O que se percebe é sempre o medo de que o novo ocupante do Palácio do Planalto traga mudanças radicais para a economia.
Já em outros pleitos, como de 2006 e 2010, o mercado encarava os favoritos à presidência com tranquilidade.
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Desempenho do Ibovespa em 2022

Desempenho do Ibovespa em 2018
A eleição de Bolsonaro foi em clima de euforia na bolsa, com a escolha do liberal Paulo Guedes para a Economia. O principal índice da bolsa brasileira subiu 15,03% no ano.

Desempenho do Ibovespa em 2014
Na reeleição de Dilma, a volatilidade do Ibovespa foi bastante intensa. O mercado desejava, na verdade, a alternância de poder, com a possibilidade de Aécio Neves (PSDB) vencer o pleito. No ano, o Ibovespa recuou 2,91%.

Desempenho do Ibovespa em 2010
Na primeira eleição de Dilma Rousseff, a bolsa teve alta de 1,04% no ano. José Serra (PSDB) era o candidato preferido do mercado. Mas os investidores ponderavam que, mesmo que Dilma ganhasse, as linhas gerais da economia seriam mantidas.

Desempenho do Ibovespa em 2006 – reeleição de Lula
No ano em que Lula venceu seu hoje candidato a vice, Geraldo Alckmin, o Ibovespa teve alta de 32,93%, impulsionado pelo crescimento chinês e a demanda acelerada por commodities.

Desempenho do Ibovespa em 2002
Na vitória de Lula sobre José Serra, a bolsa recuou 17,01% no ano. A volatilidade no período pré-eleitoral foi bastante forte, porque o mercado acreditava em uma ruptura econômica.

Desempenho do Ibovespa em 1998
Nem mesmo a vitória de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), favorito do mercado, sobre Lula, conteve o Ibovespa, que terminou o ano com recuo de 33,46%, devido às crises globais.


Como se posicionar na bolsa de valores do Brasil?
O investidor que ainda tem apetite a risco deve se posicionar na bolsa de valores do Brasil por meio de ativos de proteção. Mas isso está cada vez mais difícil de encontrar. Desta forma, ele precisa analisar as empresas mais robustas em busca de oportunidades.
Entretanto, ele deve ser mais razão e menos coração quando se trata do Ibovespa, visto que, segundo Luis Stuhlberger, gestor e sócio da Verde Asset, “ficou claro que não é mais possível obter retorno substancial com investimentos nas empresas listadas em bolsa se o Produto Interno Bruto (PIB) não cresce”.
Ele participou de um evento da Anbima e B3, em São Paulo, e disse que a leitura sempre foi a de que as empresas listadas têm vantagem competitiva em relação às medianas, porque conseguem captar mais fácil, mas agora está mais difícil. “Não tem muita saída para o Brasil melhorar sem o PIB crescer”, destacou.
O BTG Pactual (BPAC11), por sua vez, se mostra um pouco mais otimista em relação à B3 (B3SA3). Para o banco de investimentos, os volumes de ações aumentaram na comparação mensal, tornando as expectativas do terceiro trimestre mais altas do que tem atualmente em seu modelo.
De acordo com suas projeções atuais “conservadoras”, a B3 deve registrar R$ 2,2 bilhões em receita líquida no 3TRI22, 5% abaixo do consenso.
Esses dois posicionamentos mostram que não é tão simples cravar uma tendência, e o melhor mesmo é sempre estudar o mercado, ouvir os analistas, ler os relatórios, e buscar oportunidades, pois elas existem.
Se o panorama econômico mudar, o Ibovespa muda?
O movimento dos juros no Brasil pode servir de remédio ou veneno ao Ibovespa. Tanto é assim que o boom que se viu na B3, com o ingresso de milhares de novos investidores Pessoa Física (PF), foi uma fuga da poupança devido à queda de rentabilidade e atratividade.
Isso porque quando os juros do Brasil chegaram ao patamar de 2% ao ano – coisa rara, a tradicional poupança, que nem investimento é, acabou perdendo sua atração junto às pessoas que até então resistiam às demais opções do mercado financeiro.
Isso aconteceu em agosto de 2020, quando a autoridade monetária reduziu a Selic para 2% ao ano. Os correntistas sacaram suas reservas e foram em busca de um “novo mundo”. Quando olharam da “proa do navio”, avistaram os CDBs e a bolsa de valores, sendo o primeiro um produto da renda fixa, e o outro um veículo de investimento atrelado à renda variável.
Desse contingente de desbravadores, alguns gritaram “terra à vista” e outros gritaram “terra a prazo”. Somente os segundos entenderam que o ganho mais substancial se dá com um período de rentabilidade mais longo, enquanto uma parcela dos primeiros já abandonou a aventura.
Importante dizer que os juros são apenas uma das variáveis que influenciam o mercado de capitais. Existem outras e todas devem ser levadas em consideração. Mas a expectativa é que eles comecem a cair a partir de junho do ano que vem.
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