Entramos na reta final das eleições 2022, uma das mais polarizadas dos últimos pleitos, que está agendada para o próximo domingo (2). De acordo com a última pesquisa Genial/Quaest, mais de 75% dos eleitores já definiram os seus votos para presidente. Apesar disso, é fundamental conhecer as principais propostas dos candidatos 2022, principalmente os investidores, para compreender um eventual cenário em caso de vitória do candidato A, B ou C.
Tradicionalmente, a economia é a pauta guia para a escolha dos candidatos. Não é à toa que dentro da Ciência Política há diversos artigos acadêmicos que citam a correlação das eleições e o momento econômico.
No artigo “Avaliação do governo e ‘voto econômico'”, Yan de Souza Carreirão, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), faz a seguinte ponderação:
“Há um grande debate na literatura internacional sobre a importância da avaliação que os eleitores fazem a respeito do desempenho do governo, especialmente nas questões econômicas. A formulação central, em torno da qual se dá o debate é a seguinte: se a economia vai bem, o governo tende a ser avaliado positivamente e mantido, com o voto dos eleitores; se a economia vai mal, o eleitor avalia o governo negativamente e vota contra ele.”
Uma pesquisa do Datafolha, divulgada em maio, corrobora com o argumento do cientista político. Segundo a empresa de pesquisas de mercado, 53% dos brasileiros consideravam que a situação econômica teria “muita influência” na sua decisão de voto. Somados aos que acham que a economia teria “um pouco de influência” (24%) na escolha do candidato, o grupo chegava a 77% do eleitorado.
Pensando nisso, o portal EuQueroInvestir fez um levantamento das propostas dos principais candidatos à presidência, aqueles com o maior potencial de vitória, para a economia.
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Propostas dos candidatos 2022: Lula x Bolsonaro
Lula
O programa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cita que o objetivo de um eventual governo petista é “proteger o patrimônio do país e recompor o papel indutor e coordenador do Estado e das empresas estatais” no processo de desenvolvimento econômico, social, produtivo e ambiental do país.
Lula indicou que, se eleito, revogaria o teto de gastos, mudaria alguns pontos da legislação trabalhista, reforma tributária, além de uma revisão nas regras previdenciárias. Com base nisso, a gestão do petista implementaria uma nova política de valorização do salário mínimo e correções na tabela do IRPF (Imposto de Renda para Pessoa Física).
O programa de governo de Lula aponta que a prioridade será o combate à fome e a redução das desigualdades sociais.
Na última terça-feira (20), o canal do Youtube do Eu Quero Investir transmitiu o EQI Talks “Eleições 2022: possibilidades políticas e o impacto nos investimentos”, comandado por Denys Wiese, economista e head de renda fixa; Valter Manfro, head de operações estruturadas e Roberto Chagas, gestor de renda variável da EQI Asset.
Os especialistas da EQI Investimentos explicaram as melhores opções para investir com uma vitória de Lula ou Bolsonaro.
Na avaliação dos especialistas, o plano de governo do candidato Lula é resumido nos seguintes pontos:
- O Estado como indutor do desenvolvimento;
- Maiores gastos públicos, direcionados para áreas prioritárias;
- Investimentos públicos em infraestrutura;
- Fomento ao mercado interno, com crédito barato;
- Fomento à indústria nacional, com crédito barato e política de proteção e de compras (pelo Estado) de produtos nacionais;
- Agenda ESG forte;
- Contrário às privatizações;
- Revogação de reforma trabalhista: volta da gratuidade da justiça trabalhista para o empregado;
- Outra reforma previdenciária, mais inclusiva;
- Melhoria da imagem e estabilidade institucional, evitar e acabar com a crise entre poderes através da conversa;
- Revogação do teto de gastos;
- Provável volta do imposto sindical;
- Fomento à construção civil e à habitação;
- Fomento ao Turismo;
- Fomento à Educação;
- Setores beneficiados com compras governamentais: saúde, energia, alimentos e defesa;
- Intervenção no mercado cambial (intenção de diminuir a volatilidade);
- Política de preços controlada de energia e fomento de produção de “bens de consumo críticos”: armas para o controle da inflação;
- Aumento da concorrência do setor bancário e desburocratização.
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Avaliação dos analistas da EQI Investimentos para a vitória de Lula
Em uma eventual vitória de Lula, Denys Wiese afirma que o atual plano de governo do candidato Lula não tem nenhuma novidade em relação ao que já foi feito durante os seus dois mandatos (2003-2010).
“Todas as propostas já foram feitas antes, com destaque para a atuação do estado como indutor do desenvolvimento, direção completamente oposta ao que propõe o adversário Bolsonaro, que apoia o desenvolvimento pelos empreendedores e iniciativa privada”, aponta o economista.
“Dentro deste plano, as áreas que irão receber investimentos como saúde, energia, alimentos e defesa devem ‘bombar’. Outro ponto que chama a atenção é a intenção de fomentar a concorrência no setor bancário, o que irá beneficiar a população de modo geral”, complementa Wiese.
Por outro lado, Roberto Chagas questiona a capacidade de execução do plano de governo de Lula como um todo no cenário atual.
“A natureza do plano de Lula é de um Estado mais intervencionista, contudo, é preciso analisar se existe ‘capital político’ para executar 100% dessas propostas. Outro ponto visto na campanha que deve ser destacado é a demonstração de apoio de Henrique Meirelles (ex-Presidente do Banco Central entre 2003–2010), o que confere mais coerência para o uso do capital público. De qualquer forma, o mercado espera uma atuação mais pragmática. Não deve haver um descarrilamento do rumo atual, assim como não deve haver uma grande aceleração da economia no longo prazo”, observa.
- Guia Eleições 2022. Saiba tudo o que é preciso para a hora do voto.
Bolsonaro
O programa de governo do atual presidente Jair Bolsonaro (PL) cita que a prioridade será o incentivo ao empreendedorismo, desburocratização, desestatizações, simplificação tributária, manutenção da atual legislação trabalhista e garantia do processo de consolidação fiscal como pilares para o desenvolvimento do país.
Bolsonaro ainda destaca que irá manter o Auxílio Brasil com o valor de R$ 600, implementar uma correção na tabela do IRPF e buscar alternativas para aumentar o número de empregos formais na economia.
O EQI Talks também analisou em eventual segundo mandato do governo Bolsonaro, que tem como destaques os seguintes pontos:
- Redução do peso do Estado;
- Desburocratização;
- Redução da dívida em % do PIB;
- Redução de impostos;
- Proteção dos direitos de propriedade;
- Empreendedorismo;
- Liberdade Individual;
- O indivíduo e a família não podem depender do Estado;
- Continuidade da agenda de reformas;
- Transparência e segurança jurídica;
- Concessões e privatizações;
- Fomento à infraestrutura com capital privado;
- Maior produtividade dos agentes públicos, com avaliação de desempenho, metas e planos de carreira;
- Tripé macroeconômico garantido: teto de gastos e autonomia do Banco Central;
- Aumento da concorrência e da competitividade.
- Eleições 2022: quais são os impactos para os seus investimentos. Entenda aqui.
Avaliação dos analistas da EQI Investimentos para a vitória de Bolsonaro
Wiese entende que eventual governo Bolsonaro deve “destravar valor na economia”.
“Vejo a criação de um ambiente de negócios mais seguro, a continuidade de entrada de capital estrangeiro no Brasil e investimentos de longo prazo sendo feitos. Se houver redução da dívida em % do PIB, os juros irão cair e daí, os investimentos em negócios, renda variável, ações e Fundos Imobiliários tendem a andar bastante. Até a renda fixa, como as NTNBs longas, devem se beneficiar”, cita o economista da EQI Investimentos.
Para Roberto Chagas, “o governo de Bolsonaro deve dar sustentabilidade ao PIB e previsibilidade na economia”.
“Isso deve causar impactos na expectativa de inflação do país, que espera corte de juros em 2023, o que é bom para os mercados e para a bolsa de valores. De qualquer forma, analisamos que em ambos os governos não deve haver uma grande ruptura”.
Propostas dos candidatos 2022: Ciro e Tebet
Ciro Gomes
O programa de Ciro Gomes (PDT) defende o fim do teto de gastos, da taxação de grandes fortunas, alteração na política de preços da Petrobras, a criação de programa de refinanciamento de dívidas e o desenvolvimento de um “Complexo Industrial de Defesa”.
Assim como os líderes das pesquisas eleitorais, Ciro prometeu taxar dividendos e colocar em pauta uma reforma tributária com a junção de todos os impostos federais.
Em resumo, as propostas do pedetista são as seguintes:
- Fim do teto de gastos;
- Maior arrecadação após reforma tributária e fiscal;
- Taxação de grandes fortunas e junção de cinco impostos;
- Alteração na Política de preços da Petrobras (PPI);
- Estímulo à indústria;
- Refinanciamento de dívidas;
- Novo programa de distribuição de renda;
- Criação da Lei Antiganância.
- Com guerra e eleições 2022, é hora de comprar ou vender Petrobras (PETR3; PETR4)?
Simone Tebet
Simone Tebet (MDB) aponta que o seu programa de governo é baseado em quatro eixos: combate às desigualdades sociais; compromisso com a economia verde; construção de um governo parceiro com a iniciativa privada; transparência, inclusão e combate a todas as formas de preconceito e discriminação.
Para melhorar a economia, a medebista prometeu destravar as reformas tributária e administrativa do Congresso Nacional. Na avaliação da candidata, essas medidas visam promover maior eficácia, competitividade e produtividade, além de estimular parcerias público-privadas.
Ademais, Tebet é contra a privatização da Petrobras e promete acabar com a regressividade do Imposto de Renda.
Em resumo, as propostas de Simone Tebet são as seguintes:
- Retomar o crescimento sustentável da economia;
- Manutenção do teto de gastos;
- Reforma tributária;
- Reduzir tarifas de importação;
- Revisão do imposto de renda e tributação de dividendos;
- Ampliar privatizações;
- Contra a privatização da Petrobras;
- Novo programa social para substituir o Auxílio Brasil;
- Seguro de renda, uma espécie de FGTS, para trabalhadores informais;
- Reforma administrativa;
- Adoção de política de desenvolvimento regional;
- Promover a segurança jurídica, regulatória e institucional;
- Melhorar o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI);
- Abertura da economia e novos acordos.
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