Quando se fala em Brasil no exterior, um dos comentários mais frequentes é que o país está entre os países de maior dívida/PIB do mundo. Mas será que essa fama corresponde aos números?
À primeira vista, não exatamente. Quando comparamos a relação dívida/PIB entre as principais economias globais, o Brasil não aparece no topo. Países como Estados Unidos e Japão têm dívidas muito maiores em relação ao tamanho de suas economias. Ainda assim, a preocupação com o Brasil é bem maior. E há um motivo claro para isso.
O ponto central está na comparação correta
Não faz muito sentido analisar o Brasil ao lado de economias desenvolvidas, com moedas fortes, histórico de estabilidade e acesso barato a financiamento. Quando olhamos para países emergentes, com características mais próximas da nossa, o cenário muda bastante.
Nesse grupo, o Brasil se destaca negativamente. Enquanto a média da relação dívida/PIB dos países emergentes gira em torno de 70%, segundo dados do FMI, o Brasil está perto de 91%. Isso significa quase 20 pontos percentuais acima da média de países que enfrentam desafios semelhantes aos nossos. Dentro da América Latina, o quadro é ainda mais claro: o Brasil é o país mais endividado entre seus principais pares.
Mas o problema não é apenas o tamanho da dívida. O que realmente torna a situação mais delicada é o custo dela. O Brasil paga uma das taxas de juros reais mais altas do mundo. Na prática, isso significa que, além de dever muito, o país paga caro para se financiar. Esse combo compromete as contas públicas, reduz espaço para investimentos e aumenta a percepção de risco.
É por isso que, mesmo sem liderar o ranking global de endividamento, o Brasil acaba sendo visto como um caso mais frágil. A combinação de dívida elevada com juros altos pesa mais do que o número isolado da dívida.
Como é possível mudar essa situação?
Resolver esse problema passa por dois caminhos principais. O primeiro, mais tradicional, é reduzir a dívida. Isso envolve gastar menos do que se arrecada, algo que exige escolhas difíceis e disciplina fiscal.
O segundo caminho é aumentar a confiança do mercado, mostrando que o país é capaz de honrar seus compromissos, o que ajudaria a reduzir os juros pagos sobre a dívida.
Ambas as soluções dependem de um esforço conjunto. Governo e sociedade precisam encarar o tema com seriedade. A cada ano em que esse debate é adiado, o custo da dívida aumenta e o espaço para manobra diminui. É isso que faz com que a dívida preocupe tanto no Brasil hoje.





