O Méliuz (CASH3) entrou em uma nova fase — e mais arriscada — de sua trajetória. A decisão do Banco BV de encerrar o acordo de serviços financeiros com a companhia expôs uma fragilidade relevante do modelo de negócios e, ao mesmo tempo, acelerou uma mudança que já vinha sendo observada pelo mercado: a empresa está deixando de ser, na prática, uma plataforma de cashback para se tornar uma aposta cada vez mais alavancada em Bitcoin.
A leitura consta em relatório do BTG Pactual (BPAC11), divulgado nesta terça-feira (16), que revisou suas projeções após a notificação formal do BV.
O banco de investimentos reduziu o preço-alvo da ação de R$ 9 para R$ 8, mas manteve a recomendação de compra, ao avaliar que o valuation atual já reflete um cenário excessivamente pessimista para o negócio operacional do Méliuz.
A parceria com o BV, responsável pela oferta de produtos financeiros dentro da plataforma, respondia por cerca de 25% do EBITDA da companhia. Embora o contrato ainda permaneça válido por um período de aviso prévio de 18 meses, a sinalização de ruptura foi suficiente para pressionar as ações e reacender dúvidas sobre a capacidade de geração de resultados recorrentes no médio prazo.
Méliuz sem BV: O fim do acordo expõe fragilidade do core business
Na avaliação do BTG, o impacto vai além da perda direta de receita. O fim do acordo escancara a dificuldade estrutural do Méliuz em escalar sua vertical financeira em um ambiente mais adverso para crédito, marcado por juros elevados, maior seletividade dos bancos e deterioração da economia unitária de clientes de cartões monoline. Ao longo dos últimos trimestres, a própria empresa já vinha reportando uma desaceleração relevante dessa linha de negócios.
Mesmo após excluir as receitas ligadas ao BV de suas estimativas, o banco avalia que novas iniciativas dificilmente serão suficientes para compensar integralmente, no curto prazo, a perda do EBITDA associada à parceria encerrada.
Méliuz vira uma tese cada vez mais dependente do Bitcoin
Com isso, o peso do negócio operacional tradicional no valuation do Méliuz encolheu de forma significativa. Segundo os analistas do BTG, cerca de 67% do valor de mercado da companhia já está diretamente relacionado à sua exposição ao Bitcoin, por meio da estratégia de tesouraria adotada pela empresa.
“Hoje, o preço do Bitcoin se tornou altamente relevante para o caso de investimento do Méliuz, dado o peso que a criptomoeda passou a ter na composição do valor de mercado da companhia”, avaliam os analistas do BTG.
Na prática, isso significa que o desempenho das ações passou a depender muito mais da trajetória do BTC do que da evolução do cashback, da base de usuários ou da eficiência operacional. O Méliuz, que nasceu como uma plataforma de fidelização e geração de valor no consumo, passou a ser analisado pelo mercado como um ativo híbrido — e, cada vez mais, como um proxy de criptomoeda na Bolsa brasileira.
Essa mudança de perfil cria uma assimetria clara para o investidor. De um lado, uma eventual retomada do Bitcoin pode destravar valor rapidamente, sobretudo diante de múltiplos considerados comprimidos. De outro, o enfraquecimento do core business reduz a previsibilidade de resultados e aumenta a dependência de fatores exógenos, como o humor global com ativos de risco e a volatilidade do mercado cripto.
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“Apesar do corte no preço-alvo, seguimos vendo a ação negociada a múltiplos que embutem um cenário excessivamente negativo para a operação remanescente”, afirma o BTG, ao justificar a manutenção da recomendação de compra.
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