Ao falar de renda fixa, é comum que investidores confundam “taxa de juros” e “curva de juros”. Como explicou Felipe Paletta, analista da EQI Research, “o conceito que muita gente confunde quando a gente fala de renda fixa é taxa de juros com curva de juros. O que é uma coisa? O que é outra coisa?”.
Essa dúvida surge porque ambos os termos envolvem o rendimento do dinheiro, mas em perspectivas diferentes: uma trata da taxa definida hoje pelo Banco Central, enquanto a outra reflete as expectativas do mercado para o futuro.
O que é a taxa de juros?
João Neves destacou que a taxa Selic é a base de toda a economia brasileira. Ele lembrou que, no passado, era conhecida como “overnight”, já que representa “o quanto você ganha para deixar o dinheiro guardado hoje na taxa de juros por vencimento o mais curto possível, de um dia”.
Essa é a taxa definida pelo Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central, e serve de referência para o crédito, para os investimentos mais conservadores e para os títulos públicos indexados à Selic. Por isso, é considerada o investimento de menor risco no país.
O que é a curva de juros?
A curva de juros, por sua vez, projeta o futuro. Ela mostra quanto o mercado acredita que a Selic vai render nos próximos anos. Neves explicou: “os juros futuros são uma expectativa de quanto essa taxa Selic vai ser no futuro. Ou seja, quanto os investidores estão demandando e acham que vão ganhar de rendimento daqui até o vencimento do título”.
Paletta trouxe um exemplo prático: “pensa que o governo bateu na sua porta e pediu dinheiro emprestado e vai te devolver lá em 2035. Que taxa de juros você vai usar de referência para emprestar esse dinheiro para ele? Uns 15% hoje?”.
Nesse raciocínio, os títulos de longo prazo embutem previsões de inflação, política monetária e risco fiscal. Hoje, segundo os analistas, a taxa básica está em 15%, mas o mercado precifica que até 2035 os juros devem ficar em torno de 14% ao ano.
Relação entre taxa Selic e curva de juros
Embora a taxa de juros definida pelo Copom e a curva de juros estejam conectadas, elas não são a mesma coisa. Neves lembrou que “muitas vezes, quando você escutar que o juros chegou aqui na máxima, agora o juros vai cair, é hora de comprar renda fixa? Presta atenção que não é bem assim”.
Isso porque a curva já reflete as expectativas do mercado. Se a queda esperada não se confirmar, o investidor pode ter um retorno abaixo do que teria obtido em aplicações atreladas à Selic. “Você tem que assumir que ele vai cair mais no futuro do que já está hoje desenhado na curva de juros”, resumiu Paletta.
Impacto para o investidor
Para quem investe em renda fixa, a lição é clara: não basta olhar a decisão do Copom. É preciso entender como o mercado precifica os juros no futuro. Caso contrário, há risco de entrar em um investimento acreditando que está aproveitando uma “taxa alta”, quando, na prática, o mercado já projetou esse cenário.
Neves reforçou que a Selic deve sempre ser associada ao curto prazo, enquanto os juros futuros são “expectativas”. Embora haja correlação entre eles, não se pode confundir os dois. “Tem que ser muito cuidado e entender que tem uma diferença grande entre essas duas coisas”, concluiu o analista.
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