Gerir uma grande fortuna vai muito além de investir bem. Envolve proteger o patrimônio, planejar o futuro da família, lidar com riscos, impostos, disputas e até o ensino financeiro dos herdeiros. Quando o volume de ativos ultrapassa centenas de milhões, a complexidade atinge um novo nível e é aí que entra o Family Office.
Esse modelo de gestão patrimonial é mais do que uma assessoria financeira: é uma estrutura completa, criada exclusivamente para atender às necessidades de famílias com patrimônio líquido altamente elevado. Nos últimos anos, os Family Offices ganharam espaço no Brasil à medida que mais famílias buscaram soluções sofisticadas e personalizadas para cuidar de suas fortunas com discrição, segurança e eficiência.
O que é?
O Family Office é uma entidade privada dedicada à gestão do patrimônio de famílias extremamente ricas. É como um “centro de comando” financeiro e administrativo, estruturado para cuidar de tudo: dos investimentos ao planejamento sucessório, da contabilidade às questões jurídicas, passando pela filantropia, estilo de vida e até a organização de viagens.
Ao contrário de uma gestora de investimentos tradicional, que atende múltiplos clientes com serviços padronizados, um Family Office opera com foco exclusivo (ou semi-exclusivo) em uma ou poucas famílias, oferecendo uma abordagem holística e personalizada para proteger e expandir a riqueza ao longo de gerações.
O que faz esse tipo escritório?
A missão de um Family Office é clara: administrar a riqueza familiar como se fosse uma empresa. Isso implica em uma gestão integrada, onde especialistas de diversas áreas trabalham juntos para garantir que o patrimônio seja administrado de forma eficiente, ética e alinhada aos valores da família.
Entre os serviços oferecidos, destacam-se:
- Gestão de investimentos: alocação estratégica de ativos, análise de risco, investimentos alternativos, fundos exclusivos, private equity e muito mais;
- Planejamento fiscal e tributário: minimização legal da carga tributária, compliance, estruturação de ativos internacionais e planejamento de heranças;
- Planejamento patrimonial e sucessório: criação de fundos fiduciários, testamentos, planejamento de transmissão de bens e estruturação societária;
- Educação financeira da nova geração: preparar herdeiros para entender, respeitar e gerir a fortuna familiar com consciência;
- Serviços de concierge e lifestyle: organização de viagens, administração de imóveis, contratação de funcionários domésticos, segurança pessoal e até gerenciamento de jatinhos e iates;
- Consultoria filantrópica: apoio na criação e gestão de fundações familiares, doações e projetos de impacto social.
Cada Family Office é estruturado sob medida. Alguns são mais focados na gestão financeira, outros expandem sua atuação para questões de governança familiar e estilo de vida.
Quais são os tipos de Family Office?
Existem três modelos principais de Family Office, com características e custos diferentes. A escolha depende do tamanho da fortuna, da complexidade das necessidades e do nível de personalização desejado.
Single-Family Office (SFO)
É o modelo mais exclusivo. Como o nome indica, atende apenas uma família e é criado sob medida para suas necessidades.
- Vantagens: total controle, confidencialidade, equipe dedicada, alinhamento absoluto com os valores e objetivos familiares;
- Desvantagens: custo altíssimo. Estimativas apontam que manter um SFO pode ultrapassar R$ 1 milhão por ano. Geralmente, recomendado para patrimônios acima de R$ 200 milhões.
Multi-Family Office (MFO)
Modelo mais comum, o MFO é uma estrutura que atende várias famílias, compartilhando os custos operacionais e a equipe de especialistas.
- Vantagens: mais acessível, mantendo um nível alto de serviço personalizado. Ideal para famílias com patrimônio a partir de R$ 30 milhões;
- Desvantagens: menor exclusividade e controle. Algumas decisões estratégicas podem seguir padrões aplicados a outros clientes.
Family Office terceirizado (ou virtual)
Nesse formato, profissionais independentes colaboram em nome da família, como contadores, advogados, consultores e planejadores financeiros. Um deles atua como coordenador geral.
- Vantagens: flexibilidade e custo reduzido. Pode ser escalável conforme a necessidade da família;
- Desvantagens: menor integração entre os serviços, menos controle, risco de conflitos entre os prestadores.
Quem trabalha em um Family Office?
A equipe de um Family Office é multidisciplinar. Seus integrantes não são apenas especialistas técnicos — são conselheiros de confiança, gestores de crise e até mediadores familiares. Os profissionais mais comuns incluem:
- Gerentes de Investimentos: são responsáveis por estruturar, executar e monitorar os investimentos da família, seja em renda fixa, renda variável, imóveis, ativos alternativos, startups ou fundos exclusivos;
- Especialistas Tributários: contadores e advogados focados em tributação garantem que a família pague apenas o necessário, dentro da lei, evitando multas, bitributações e riscos fiscais, especialmente em operações internacionais;
- Advogados: eles oferecem assessoria jurídica completa: planejamento sucessório, proteção de bens, criação de holdings, blindagem patrimonial, governança e suporte em questões empresariais;
- Planejadores Patrimoniais: especialistas que cuidam da estruturação do patrimônio de forma inteligente e sustentável, muitas vezes trabalhando em conjunto com as próximas gerações;
- Consultores de Governança e Educação: profissionais que ajudam a estabelecer regras claras de convivência financeira entre os membros da família e a formar os herdeiros para uma gestão responsável;
- Gestores de Lifestyle: cuidam de todos os aspectos da vida pessoal da família, desde a contratação de funcionários, segurança, viagens e eventos, até o suporte em mudanças internacionais.
Por que ter um?
A criação de um Family Office não é apenas uma questão de status. Ele se torna essencial quando a complexidade do patrimônio começa a ameaçar sua continuidade. Afinal, uma fortuna pode desaparecer em uma geração se mal administrada.
Veja algumas razões pelas quais famílias recorrem a um Family Office:
- Desejo de proteger e expandir a fortuna familiar ao longo de gerações;
- Necessidade de um planejamento tributário sofisticado;
- Falta de tempo ou conhecimento para lidar com as decisões financeiras;
- Conflitos familiares relacionados ao dinheiro;
- Desejo de discrição e atendimento personalizado;
- Investimentos internacionais e diversificados;
- Preocupação com a educação financeira dos herdeiros;
- Planejamento de herança e sucessão de negócios familiares.
Quem deve considerar um Family Office?
Se você ou sua família possuem um patrimônio líquido acima de R$ 30 milhões e enfrentam desafios como investimentos complexos, sucessão de empresas, múltiplas residências, questões fiscais em diferentes países ou conflitos entre gerações, um Family Office pode ser a estrutura ideal.
Em geral, os Single-Family Offices são recomendados para patrimônios a partir de R$ 200 milhões, enquanto os Multi-Family Offices atendem famílias com valores a partir de R$ 30 milhões.
O Family Office não é para todos — e nem precisa ser. Mas para quem alcançou um nível de riqueza em que os erros custam milhões, a falta de estratégia pode ser catastrófica e a desorganização patrimonial vira um risco real, essa estrutura pode fazer toda a diferença.
Mais do que proteger ativos, um Family Office protege o legado, promove a continuidade da família e garante que a fortuna construída ao longo de uma vida (ou várias) não se perca por falta de planejamento financeiro, orientação ou governança. Se bem estruturado, um Family Office é muito mais que uma consultoria — é o pilar de sustentação de uma família rica, unida, preparada e financeiramente resiliente.
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