Assista a Money Week
Compartilhar no LinkedinCompartilhar no FacebookCompartilhar no TelegramCompartilhar no TwitterCompartilhar no WhatsApp
Compartilhar
Home
Educação Financeira
Artigos
Como gerenciar grandes patrimônios?

Como gerenciar grandes patrimônios?

Quem já acumulou um grande patrimônio sabe: o desafio muda. Não se trata mais de construir riqueza a qualquer custo, mas sim de preservá-la, garantir segurança para o futuro e, se possível, continuar crescendo de forma inteligente. Nesse contexto, entender como gerenciar grandes patrimônios é fundamental — e exige uma abordagem mais sofisticada do que a simples busca por rentabilidade acima da média.

No Brasil atual, com juros reais entre os mais altos do mundo, a Renda Fixa ganhou protagonismo na gestão de fortunas. E, segundo Elias Wiggers, assessor de investimentos especializado em clientes de alta renda na EQI Investimentos, isso mudou o jogo para quem possui milhões investidos.

“A palavra mágica é diversificação — e, junto com ela, a diluição de riscos”, afirma o especialista. Mas a diversificação aqui não é a de prateleira, feita no “olhômetro” ou com base apenas no FGC. Para grandes fortunas, as estratégias precisam ser mais estruturadas e, preferencialmente, conduzidas por profissionais.

FGC é pouco: segurança vai além da garantia

Quem possui mais de R$ 1 milhão investido rapidamente percebe que o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) cobre apenas uma fração do total — até R$ 250 mil por instituição, limitado a R$ 1 milhão por CPF. Se o investidor tem, por exemplo, R$ 10 milhões, apenas 10% estarão protegidos.

Por isso, o segredo está em espalhar o risco. “A estratégia correta é diversificar entre emissores, setores e prazos diferentes”, destaca Wiggers. 

Publicidade
Publicidade

É uma gestão ativa que requer análises criteriosas e planejamento profissional, muito além do que se consegue sozinho ou com base em dicas de internet.

Preservação patrimonial é a prioridade

Para quem já construiu sua fortuna, o foco muda: sai a pressa por multiplicação rápida e entra a preocupação com longevidade e estabilidade. “A maioria dos clientes está mais preocupada com a preservação e sucessão patrimonial do que com grandes apostas”, explica o assessor da EQI.

Isso inclui pensar em aposentadoria com conforto, viagens, manutenção do estilo de vida e a segurança dos herdeiros. Muitos já organizaram questões de herança e querem garantir que o patrimônio siga intacto, mesmo diante de crises ou decisões erradas.

Estratégia para 2025: pós-fixados na frente

Com a Selic ainda elevada e sem clareza sobre quando o ciclo de cortes se consolidará, os investimentos pós-fixados são os mais recomendados. Segundo Wiggers, entre 60% e 70% da carteira ideal em 2025 deve estar nesse tipo de ativo. O restante pode ser dividido entre títulos prefixados e atrelados à inflação (IPCA).

Papéis IPCA+, especialmente os de longo prazo, continuam relevantes para blindar a carteira contra a perda do poder de compra. E, caso haja queda nos juros, podem ainda trazer ganhos de valorização.

Renda fixa pode perder isenção: risco ou oportunidade?

Um ponto de atenção para investidores de alta renda é a possível mudança nas regras de isenção fiscal para CRIs, CRAs e debêntures incentivadas. Um projeto em tramitação prevê o fim da isenção a partir de 2026, com alíquota de 5%.

Apesar da incerteza, o especialista da EQI recomenda cautela. “Se a proposta avançar, os ativos comprados antes da mudança tendem a se valorizar, pois novas emissões terão de oferecer taxas maiores”, observa. Assim, pode haver uma janela de oportunidade até o fim de 2025 para aproveitar as condições atuais.

Exposição internacional: proteção contra o “risco Brasil”

Outra recomendação importante é a diversificação geográfica. Investir parte do patrimônio fora do país reduz a exposição ao risco político e econômico local. “Cerca de 20% a 30% da carteira deveria estar no exterior”, diz Wiggers.

Esses investimentos podem ser feitos por meio de contas internacionais, estruturas offshore ou PICs (empresas patrimoniais internacionais). Mesmo que os retornos lá fora sejam menores, a estabilidade compensa, principalmente quando se trata de proteção.

Leia também:

Produtos alternativos: tempero com moderação

Para quem busca retorno superior sem comprometer a segurança, alternativas como FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) e Notas Comerciais são opções. Mas a alocação deve ser limitada: de 5% a 15% do portfólio, no máximo.

Esses ativos podem entregar 120% ou até 130% do CDI, mas envolvem maior risco e, muitas vezes, menor liquidez. “O segredo está em dosar: usar como complemento e não como base da carteira”, ressalta o especialista.

Diversificar é distribuir risco com inteligência

Na prática, uma carteira diversificada pode ter entre 15 e 25 ativos, com peso de 1% a 3% cada. Isso reduz o impacto de eventuais perdas. “Se um ativo representar só 1% da carteira e der problema, o dano é controlável”, explica Wiggers.

A diversificação deve considerar diferentes tipos de indexadores (pós-fixados, prefixados, IPCA+), emissores variados e prazos distintos, evitando concentração de vencimentos.

Wealth Management e Private: o papel da assessoria

Gerenciar grandes fortunas exige estrutura e conhecimento técnico. Por isso, o atendimento a clientes de alta renda costuma ser feito por meio dos segmentos Private e Wealth Management.

  • Private: o cliente participa das decisões, com assessoria próxima, ideias de alocação e mesa de oportunidades.
  • Wealth: modelo discricionário, em que o investidor delega as decisões a um time profissional, seguindo uma política de investimentos definida.

Ambos oferecem personalização e acesso a produtos exclusivos, mas a escolha depende do perfil de cada investidor.

Sucessão e previdência: legado estruturado

Quando o objetivo é estruturar a sucessão, a previdência privada surge como ferramenta-chave — especialmente os planos de Renda Fixa, que oferecem previsibilidade e segurança para os herdeiros. As estruturas offshore também podem ajudar nesse planejamento, trazendo proteção cambial e tributária.

“Organizar a sucessão com antecedência evita conflitos e garante que o patrimônio seja preservado ao longo das gerações”, diz Wiggers.

Evite armadilhas: foco em risco, não só em rentabilidade

Um dos erros mais comuns entre investidores de alto patrimônio é focar demais na rentabilidade prometida. Propostas que oferecem 200% do CDI, por exemplo, muitas vezes escondem riscos excessivos ou baixa liquidez.

“Às vezes o investidor já vendeu a empresa que criou e não terá outra chance se errar. É hora de proteger, não de apostar tudo”, alerta o especialista.

Rentabilidade com equilíbrio e visão de longo prazo

Com a Renda Fixa pagando 110% a 120% do CDI, o Brasil vive um cenário em que é possível ter retorno atrativo com segurança. Para Elias Wiggers, o mais importante para quem já tem muito é não correr riscos desnecessários.

“Nem sempre vale a pena buscar mais retorno com mais volatilidade. Depois de uma década, muitas vezes o ganho foi o mesmo, mas com muito mais dor de cabeça pelo caminho”, afirma.

Gerenciar grandes patrimônios, portanto, é uma arte que exige clareza de objetivos, disciplina e apoio profissional. O segredo não está em multiplicar rapidamente — mas em proteger com inteligência o que já foi conquistado com esforço.