Assista a Money Week
Compartilhar no LinkedinCompartilhar no FacebookCompartilhar no TelegramCompartilhar no TwitterCompartilhar no WhatsApp
Compartilhar
Home
Economia
Notícias
Políticos x CEOs: caso Datena expõe a diferença de preparo para gerir bilhões

Políticos x CEOs: caso Datena expõe a diferença de preparo para gerir bilhões

A administração de uma cidade do porte de São Paulo envolve desafios que vão desde saúde pública até segurança, passando por educação e infraestrutura. Com uma receita estimada em R$ 110,7 bilhões em 2024, a prefeitura paulistana opera com um orçamento comparável ao de algumas das maiores empresas do Brasil.

Entretanto, enquanto CEOs dessas corporações são escolhidos com base em extensiva experiência em gestão e profundo conhecimento de suas áreas, os políticos candidatos à prefeitura muitas vezes demonstram níveis de preparo consideravelmente menores. E quem perde, sempre, é o cidadão. Confira.

CEOs x políticos: o desafio de gerir bilhões

A receita estimada de São Paulo — R$ 110,7 bilhões — coloca a cidade em pé de igualdade com grandes conglomerados empresariais do país, como o Carrefour, que registrou R$ 109 bilhões em 2023, ou a Ambev, com R$ 79 bilhões de faturamento em 2023.

Na lista de empresas com maior faturamento no ano passado, a Petrobras (PETR4) desponta como a primeira colocada, com receita superior a R$ 500 bilhões. Atualmente, a CEO da empresa é Magda Chambriard. A empresa tem economia mista, ou seja, tem capital aberto, mas o Estado brasileiro é seu principal acionista. Ainda assim, apesar da constante ameaça de ingerência política, o currículo de Chambriard destaca anos de experiência na indústria de petróleo e gás e é respeitado no setor.

Depois da Petrobras, quem desponta entre as empresas com maior receita são JBS (JBSS3) e Vale (VALE3), com R$ 363 bilhões e R$ 208 bilhões, respectivamente. A JBS tem como CEO Gilberto Tomazoni, que é engenheiro mecânico, com pós-graduação em gestão, tem vasta experiência e conhecimento da indústria de alimentos e trabalhou durante 27 anos na Sadia, onde iniciou como trainee e foi diretor-presidente. Já na Vale, Gustavo Pimenta é o recém-nomeado CEO, que assume o cargo em janeiro de 2025. Ele tem vasta experiência internacional nos setores financeiro, energético e de mineração, acumulando mais de 20 anos de carreira no Brasil, Estados Unidos e Europa.

Publicidade
Publicidade

A Raízen (RAIZ4) também está entre as empresas com faturamento superior ao orçamento da Prefeitura de São Paulo, tendo receita de R$ 220 bilhões em 2023. A empresa tem como CEO Ricardo Mussa, graduado em engenharia de produção pela Escola Politécnica da USP, tendo sido CEO da Radar (que também cofundou) e da Moove, do grupo Cosan, e passou por multinacionais como Unilever e Danone. Mussa foi apontado no ranking de melhores CEOs da revista Forbes em 2023, por ter tornado a empresa uma referência em bioenergia.

A Vibra (VBBR3) é outra empresa com orçamento que ultrapassa o da Prefeitura: R$ 163 bi em 2023. À frente da empresa está Ernesto Pousada, formado em engenharia mecânica pela Escola de Engenharia Mauá (1989), com especialização em Administração e Negócios pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Em 2021, foi eleito Executivo de Valor no setor de Transporte e Logística pelo jornal Valor Econômico.

A Marfrig (MRFG3), que faturou R$ 136 bi em 2023, é comandada por Rui Mendonça Junior, CEO da Operação América do Sul. Ele está na empresa desde 2007, já tendo ocupado o cargo de diretor de industrializados da América do Sul. O CEO é formado em engenharia com MBA em Gestão de Agronegócios, e atua no setor há mais de 40 anos, em diferentes áreas como operacional, produção e financeira.

A UItrapar (UGPA3), com faturamento de R$ 126 bilhões, tem como CEO Marcos Marinho Lutz. Ele é formado em Engenharia Naval pela Universidade de São Paulo (USP) e possui MBA em marketing, operações e logística pela Northwestern University – Kellogg School of Management. O executivo ingressou no Grupo Ultra em 1994 como trainee e permaneceu até 2003, tendo chegado a presidente da Ultracargo. Teve passagens também pela CSN como diretor de infraestrutura e energia e foi CEO da Cosan entre 2009 e 2020.

O Carrefour (CRFB3), com faturamento de R$ 109 bi, tem como CEO Stéphane Maquaire, que está na empresa desde 2019. O executivo tem ampla experiência no varejo, tendo atuado como CEO em companhias como Monoprix, Vivarte e Manor.

A Ambev (ABEV3), por sua vez, faturou R$ 79 bilhões em 2023 e tem como CEO Jean Jereissati. Jereissati é administrador formado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e ingressou na Ambev em 2000, tendo ocupado diversos cargos ao longo desses anos, incluindo de diretor geral das operações de América Central e Caribe e de diretor geral das operações da China e diretor-geral da Ásia e Pacífico Norte na Anheuser-Busch InBev.

Já a Braskem (BRKM5), que faturou R$ 70 bilhões ano passado, tem como CEO Roberto Bischoff, que foi presidente da Ocyan, empresa do setor de Óleo & Gás controlada pela Novonor. O executivo é formado em engenharia mecânica, já tendo atuado anteriormente na Braskem de 1979 a 2019.

Com faturamento abaixo da Prefeitura de São Paulo, é possível citar também outras empresas admiradas pelos brasileiros, como o BTG Pactual (BPAC11), que teve receita de R$ 21,6 bi em 2023 e tem como CEO Roberto Salloutti, que ingressou no banco como estagiário em 1994 e lá permaneceu, fazendo uma carreira admirável.

A WEG (WEGE3), a “queridinha” dos investidores brasileiros, teve faturamento de R$ 32,5 bilhões em 2023 e tem como CEO Alberto Kuba, engenheiro eletricista com MBA em Gestão Empresarial, especialização em Finanças Corporativas e especialista em liderança e gestão, tendo participado do Programa Executive Program for Growing Companies na Stanford Business School, nos Estados Unidos. Desde 2002 na WEG, o executivo iniciou sua carreira como estagiário e trainee.

O currículo dos políticos

Comparativamente, em um breve currículo dos concorrentes à Prefeitura de São Paulo, despontam:

  • Marina Helena (Novo): economista, formada pela Universidade de Brasília (UNB), onde também fez mestrado. Foi diretora de Desestatização do Ministério da Economia a convite do então ministro Paulo Guedes e também teve passagens pelo mercado financeiro.
  • Tabata Amaral (PSB): deputada federal, foi eleita pela primeira vez em 2018 e foi reeleita em 2022. É formada em Ciência Política e Astrofísica pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
  • José Luiz Datena (PSDB): apresentador de televisão.
  • Ricardo Nunes (MDB): atual prefeito, é empresário, e já foi vereador por dois mandatos, entre 2012 e 2016. Ele assumiu a prefeitura de São Paulo após a morte do ex-prefeito Bruno Covas, em 2021. Chegou a cursar Direito no Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), mas não concluiu a formação.
  • Pablo Marçal (PRTB): empresário e influenciador digital. Natural de Goiânia, é formado em Direito pela Universidade Paulista (UNIP).
  • Ricardo Senese (UP): operador de transporte metroviário e tenta se candidatar na política pela primeira vez.
  • Altino Prazeres (PSTU): metroviário, foi presidente do Sindicato dos Metroviários por duas gestões. É formado em Matemática pela Universidade de São Paulo (USP).
  • Guilherme Boulos (PSOL): graduado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) e mestre em psiquiatria pela Faculdade de Medicina da USP. Foi candidato à Presidência da República em 2018 e candidato à Prefeitura de São Paulo em 2020.

Candidatos à Prefeitura: preparo duvidoso?

O contraste entre o nível de capacitação e experiência exigidas dos CEOS e o despreparo da grande maioria dos candidatos políticos fica evidente.

O episódio de violência protagonizado por José Luiz Datena no cenário eleitoral de 2024 é um exemplo claro dessa discrepância.

O apresentador de TV, famoso por suas declarações explosivas e estilo polêmico, deu uma cadeirada no opositor Pablo Marçal, após ser atacado e ofendido durante debate televisionado neste domingo (15). A cena, inédita no cenário político brasileiro, chocou a opinião pública e ilustrou o nível preocupante da política brasileira.

cadeirada Marçal

“A cadeirada é o ápice da polarização e da loucura que virou o nosso cenário político”, avalia Juliano Custodio, CEO da EQI Investimentos. “Faz com que a gente tenha urgência em fazer a população se dar conta de que esse tipo de candidato não serve para as nossas cidades”, diz.

Custodio destaca a importância de a população rever quem é colocado no comando de cidades como São Paulo: “A gente precisa acabar com o ‘pão e circo’. E precisa educar as pessoas sobre a gravidade de colocar pessoas altamente despreparadas para gerir nosso dinheiro, as cidades, os estados, a nação”, enfatiza.

A falta de experiência e preparo entre os candidatos à prefeitura de São Paulo não é apenas um problema teórico. Custodio defende que essa deficiência tem consequências práticas: “A falta de capacidade de gestão dessas pessoas é o que faz faltar dinheiro para a saúde, para a educação”, pontua.

Para ilustrar, vale pensar no impacto de uma gestão ineficiente em uma cidade que movimenta mais de R$ 110 bilhões anuais. Como dito, esse valor está acima da receita anual de empresas como Weg ou BTG Pactual. Em um ambiente corporativo, um CEO que falhasse na alocação de recursos dessa magnitude seria rapidamente removido, substituído por alguém com a experiência necessária para evitar danos irreversíveis à empresa.

Já na esfera pública, o peso das decisões mal tomadas recai sobre os cidadãos, especialmente os mais vulneráveis. É esse o ponto que Custodio sublinha ao dizer que “a gente tem que rever o tipo de gente que a gente quer gerindo tanto dinheiro”.