Nesta quarta-feira (6), o evento Onde Investir em 2025, organizado pela EQI Investimentos, reuniu especialistas para debater as perspectivas econômicas para o ano que vem. No centro do debate, estão as expectativas para China, Estados Unidos e Brasil.
No painel, participaram Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset; Cláudio Ferraz, associate partner do BTG Pactual; e Mirella Hirakawa, coordenadora de pesquisa e sócia da Buysidebrazil, que trouxeram análises sobre as complexidades de cada cenário. Entenda.
China: reformas e desafios econômicos
A China implementou recentemente uma série de medidas fiscais e de estímulo ao consumo para conter a desaceleração de sua economia. Contudo, o impacto dessas políticas foi limitado. A meta oficial de crescimento econômico para 2024 é de 5%, e as ações do governo chinês, segundo Mirella Hirakawa, têm um objetivo claro: alcançar essa meta, em vez de impulsionar uma aceleração mais robusta da economia.
Cláudio Ferraz acrescenta que o país enfrenta dificuldades estruturais, em especial no setor imobiliário, onde a bolha do setor imobiliário causou uma crise de confiança que gera instabilidade em diversas províncias e mercados locais.
A recuperação da confiança, segundo ele, é um processo complexo e incerto. Além disso, a China começou a adotar políticas comerciais que têm gerado tensão com outros países, que já ameaçam impor tarifas sobre produtos chineses.
Stephan Kautz trouxe um ponto demográfico importante: o rápido envelhecimento da população chinesa. Esse fator reduz o potencial de demanda interna e impacta diretamente o setor imobiliário, com menor necessidade de habitações e bens de consumo. Essa dinâmica, segundo ele, sugere um crescimento econômico mais fraco da China nos próximos anos, o que representa um desafio para o Brasil, fornecedor de commodities para o país asiático.
Estados Unidos: “Super Trump” e implicações econômicas
A confirmação da eleição de Donald Trump e o fortalecimento da sua posição com maioria no Congresso moldam o cenário econômico dos EUA para os próximos anos.
Para Mirella Hirakawa, o foco principal de Trump será a política comercial, especialmente com a imposição de tarifas à China, o que poderá acentuar a desaceleração da economia chinesa e trazer efeitos inflacionários a economias emergentes como o Brasil. Ela sugere, no entanto, que as medidas de Trump podem ser implementadas de forma gradual, suavizando impactos negativos.
Para Cláudio Ferraz, o principal desafio será diferenciar as promessas de campanha da capacidade de implementação real de Trump. Com maior poder no Congresso, ele pode avançar mais facilmente em temas como imigração e expansão fiscal.
Mas, como o Federal Reserve (Fed), banco central americano, ainda não tem o “plano de voo” de Trump em mãos para basear suas decisões de política monetária, tende a manter um ritmo de corte de juros mais moderado, talvez com uma taxa terminal em torno de 3,5% ao ano. Essa política monetária mais restritiva visa a controlar a inflação sem prejudicar o crescimento.
Stephan Kautz observa que o governo Trump deve seguir com uma política fiscal expansionista, com estímulos à economia. Segundo ele, essa abordagem poderá sustentar o crescimento econômico dos EUA por um período prolongado. Ainda assim, Kautz destaca a importância de ajustar a política monetária de forma equilibrada para não estimular excessivamente uma economia que já cresce em ritmo acelerado.

Brasil: inflação, juros e reforma fiscal
No Brasil, o cenário externo adiciona complexidade à política monetária e fiscal. A desaceleração da China afeta os preços das commodities, influenciando a balança comercial e o câmbio. Como explica Mirella Hirakawa, a possibilidade de valorização do dólar e de encarecimento das importações pressionam a inflação. No cenário atual, em que a política fiscal e monetária parecem em direções opostas, o desafio é evitar uma desancoragem das expectativas inflacionárias, que já se encontram acima da meta para este ano.
Stephan Kautz levantou o conceito de “dominância fiscal”, em que a capacidade do Banco Central de ajustar juros é limitada pela situação fiscal. Embora ele não veja o Brasil em uma situação de dominância fiscal, Kautz salienta que o país precisa reforçar a credibilidade da política fiscal para garantir estabilidade a longo prazo. Para o economista, uma manutenção da taxa Selic elevada, perto de 12,5% a 13%, é provável até pelo menos o segundo semestre de 2025.
Cláudio Ferraz vê um cenário de continuidade de aperto monetário, especialmente se não houver um avanço significativo nas reformas fiscais. Sem uma postura mais firme do governo quanto aos gastos, o Banco Central pode ser forçado a manter a Selic elevada, dificultando uma redução sustentável dos juros. Ele alerta que, sem uma surpresa fiscal positiva, o cenário pode exigir ajustes mais prolongados e intensos na taxa de juros, impactando negativamente o crescimento.
Perspectivas para investidores em 2025
Diante desses desafios, os especialistas recomendam cautela aos investidores. A desaceleração da China e as incertezas nos EUA, agora sob um segundo mandato de Trump, devem continuar a pressionar mercados emergentes, incluindo o Brasil. Para investidores locais, a renda fixa segue como principal destaque, mas há boas oportunidades em ativos de risco. A orientação geral é diversificar e monitorar de perto os impactos fiscais, cambiais e inflacionários, que podem influenciar os ativos brasileiros ao longo de 2025.
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