O governo chinês anunciou recentemente um megapacote de estímulos com o objetivo de reverter a desaceleração da sua economia, que registrou um crescimento de 4,6% no terceiro trimestre de 2023.
O Produto Interno Bruto (PIB) da China do 3TRI24 foi divulgado na noite de quinta-feira (17) e apresentou crescimento abaixo do desempenho do trimestre anterior (4,7%), apesar de ter vindo em linha com as expectativas dos analistas.
O principal desafio da China, no momento, é atingir a meta ambiciosa de 5% de crescimento para 2024, especialmente em um cenário marcado por consumo doméstico fraco e uma crise imobiliária prolongada.
China: Cautela com o pacote de estímulos
O megapacote anunciado pelo governo visa impulsionar o consumo e dar suporte ao combalido setor imobiliário, mas, segundo analistas, há dúvidas sobre a real efetividade dessas ações.
Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, ressalta a natureza incomum das medidas anunciadas, especialmente as destinadas às empresas. “Uma das medidas anunciadas têm o objetivo de estimular o mercado acionário local, através de linha de crédito para recompra de ações das empresas, o que é bem pouco usual, nunca vimos no mercado ocidental desenvolvido algo parecido”.
Entre as medidas do pacote também está a concessão de crédito para que bancos regionais possam adquirir imóveis não vendidos, em uma tentativa de evitar o contágio da crise imobiliária no sistema financeiro. “É uma linha de salvamento para bancos locais, para que eles possam comprar imóveis em estoque, e evitar um contágio entre o setor imobiliário e o setor financeiro”, explica Kautz, destacando que o objetivo é proteger o sistema bancário chinês e evitar a quebra de instituições regionais.
Além disso, o pacote inclui estímulos ao setor imobiliário com a flexibilização no acesso a crédito para reformas e na aquisição de novos imóveis. Dentre outras medidas, o governo reduziu as taxas de entrada e facilitou a compra de um segundo imóvel pelos chineses.
Mesmo assim, Kautz alerta que o mercado ainda não está convencido do impacto dessas medidas: “Os valores mencionados ainda não foram significativos e ainda faltam detalhes dessas linhas, como quando começam e a duração. O mercado ainda se questiona sobre o tamanho desse pacote e a efetividade para fazer a economia voltar a crescer”, diz.

Expectativa por crescimento mais fraco
Apesar das medidas, as expectativas de crescimento para a China permanecem modestas. Kautz observa que o cenário é de viés negativo: “Para nós, o viés de crescimento é para baixo, com PIB ficando perto de 4%, 4,5% em 2024”, afirma.
Isso representa um desafio para a meta de 5% definida pelo governo.
A cautela do mercado reflete a falta de clareza sobre a implementação prática e o impacto real das medidas. Kautz também ressalta que o estímulo pode não ser suficiente e não há, ao menos por enquanto, expectativa de mais medidas de política monetária.
“Pode ser que tenha anúncio de mais gastos públicos para reativar a economia, mas por enquanto ainda parece pouco provável. O governo não acredita que seja preciso incentivar o consumo doméstico de maneira substancial. Eles estão apostando muito na oferta do setor industrial como principal motor de crescimento”, complementa.
Ouça áudio na íntegra:
Impacto no Brasil
O pacote chinês pode gerar algum impacto positivo para o Brasil, especialmente para o setor de commodities, como o minério de ferro, cujos preços podem aumentar com a recuperação da demanda chinesa. Empresas como a Vale ($VALE3) podem se beneficiar desse movimento. Contudo, o agronegócio brasileiro pode não sentir o mesmo efeito, uma vez que o consumo interno chinês, particularmente de produtos alimentícios, segue fraco.
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