Na última quarta-feira (6), o evento Onde Investir em 2025, promovido pela EQI Investimentos, reuniu especialistas para debater como fica o mercado de ações após a vitória de Donald Trump nas eleições americanas.
As análises de Marina Valentini, vice-presidente de estratégias de mercados globais da JP Morgan Asset, Felipe Reis, estrategista de ações da EQI Research, e Felipe Cuerba, assessor de investimentos da EQI, ofereceram uma visão abrangente sobre o que investidores podem esperar para o cenário global e, especialmente, para o mercado brasileiro. Confira.
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Promessas de campanha vão se concretizar?
Marina Valentini pontuou que ainda há muitas incertezas sobre como o governo de Trump vai se configurar e quais promessas se concretizarão.
“É importante separar o que foi ‘barulho’ de campanha e o que realmente será implantado, especialmente no que se refere a tarifas”, comentou.
Ela observou que o S&P 500, índice que reúne as 500 maiores empresas americanas listadas, tende a performar bem, independentemente da configuração de governo. Historicamente, o índice subiu tanto sob um governo dividido quanto sob um governo republicano unificado, ela afirma. No entanto, Valentini chamou atenção para possíveis impactos fiscais e tributários e mudanças no mercado de trabalho americano, sobretudo no que tange a políticas de imigração, que sustentam grande parte da força de trabalho.
Felipe Reis foi mais direto ao tratar dos efeitos de uma “varrida vermelha” (cenário em que presidência, Câmara e Senado são controlados pelo Partido Republicano). Segundo ele, esse alinhamento político facilitará a implementação das políticas de Trump, o que terá implicações significativas para a China e o Brasil.
“O cenário nacional já está bastante complicado, e o internacional acaba de ficar ainda mais complexo para as ações no Brasil, especialmente com o câmbio”, explicou. Reis destaca que novas tarifas comerciais de Trump devem impactar várias indústrias, e que o Brasil precisará demonstrar relevância aos olhos dos investidores estrangeiros.
Quanto ao impacto nos mercados emergentes, Valentini destacou que o Brasil, devido à sua forte dependência da China, estará mais exposto à volatilidade econômica. Ela indicou que, apesar das consequências negativas, o cenário não é inteiramente sombrio para países emergentes. “É importante também analisar os potenciais beneficiados nesse contexto, como Índia, Vietnã e Coreia do Sul, que estão investindo em infraestrutura e podem atrair mais capital estrangeiro”, afirmou.
Ao abordar setores específicos, Reis destacou que empresas brasileiras com operações nos EUA, como a Gerdau ($GGBR4) e a JBS ($JBSS3), poderão se beneficiar devido à valorização cambial e ao aumento das receitas em dólar. Ele também ressaltou que, com o fortalecimento do dólar, commodities como cobre e lítio têm boas perspectivas de valorização, enquanto o minério de ferro — principal produto da Vale — poderá sofrer com a desaceleração da economia chinesa e o encolhimento da demanda.
A questão energética também foi tema do evento. Reis explicou que o retorno de Trump implica uma pausa nos esforços de transição para combustíveis renováveis, o que deve impulsionar o petróleo. “A exploração no Alasca, por exemplo, tende a aumentar a oferta de petróleo, mas fatores geopolíticos, como as tensões no Oriente Médio, podem elevar seu preço”, observou.
Reis alertou para o risco das indústrias brasileiras mais dependentes das exportações para os EUA. Ele acredita que o aumento do nacionalismo econômico pode criar barreiras comerciais significativas para setores como o automobilístico, que enfrenta desafios globais. “A era da globalização pode estar perto do fim, e o mercado de automóveis, por exemplo, sofre com concorrência acirrada, especialmente com o avanço chinês”, afirmou.
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S&P deve se favorecer com Trump
Marina Valentini enfatizou que, apesar dos desafios, há motivos para otimismo no mercado de ações dos EUA, impulsionado pelo crescimento do PIB, a expectativa de cortes de juros e o entusiasmo com novas tecnologias, como inteligência artificial.
Ela destacou que os subsídios corporativos, uma bandeira republicana, poderão ser positivos no curto prazo, mas advertiu que questões de longo prazo, como o déficit fiscal e a política de imigração, precisarão ser monitoradas de perto.
O que fazer, então, diante deste cenário?
Com todas essas mudanças em vista, especialistas apontam para a necessidade de o investidor fazer uma análise criteriosa e seletiva na escolha de seus ativos, escolhendo ações de setores menos expostos a riscos externos e de empresas que possam se beneficiar do câmbio e das mudanças nas políticas comerciais dos EUA que devem ser promovidas por Trump.