As recentes medidas fiscais e tributárias anunciadas pelo governo, com destaque para orçamento e aumento do IOF, causaram forte repercussão nos mercados e levantaram dúvidas sobre a consistência da política econômica. Para Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, a estratégia adotada, embora contenha elementos positivos, apresenta problemas relevantes de composição e execução.
O contingenciamento de R$ 30 bilhões no orçamento — acima do esperado — foi bem recebido inicialmente, mas a forma como foi estruturado decepcionou.
Segundo Kautz, o ajuste ficou excessivamente concentrado na revisão para baixo de receitas, com pouca ênfase no corte efetivo de despesas. Isso compromete a credibilidade da política fiscal e deixa o governo próximo do limite inferior da meta de déficit primário zero, estabelecida na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
“Apesar desses R$ 30 bi de contingenciamento, as contas continuam não sendo suficientes para chegar no déficit primário zero, que é o objetivo que a equipe econômica está almejando. Então, eles ficaram muito próximos do que seria o limite mínimo da meta do primário. Ou seja, um volume bom, mas com uma composição ruim”, afirma.
IOF dobra o custo de crédito das empresas, na contramão de outras medidas do governo
Em relação ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o impacto foi ainda mais sensível. O anúncio de uma alíquota unificada de 3,5% para diversas operações cambiais, com expectativa de arrecadação extra superior a R$ 60 bilhões até 2026, foi mal recebido pelos investidores.
Kautz destaca que a medida praticamente dobra o custo do crédito para empresas, num momento em que o governo busca reduzir o custo do crédito via outras frentes, como os consignados. O resultado prático será a retração do crédito e o enfraquecimento da atividade econômica — ainda que ajude o Banco Central no combate à inflação.
A reação negativa da bolsa e dos fundos multimercado também foi influenciada pela comunicação falha do governo. A reversão parcial das mudanças no IOF para investimentos no exterior, feita às pressas nas redes sociais, só reforçou a percepção de improviso e falta de articulação com o mercado. Isso gera insegurança quanto aos próximos passos e dificulta o planejamento dos agentes econômicos.
“Ficou aquela sensação ruim de que a medida não foi muito bem pensada ou muito bem discutida sobre quais seriam as consequências e fica a dúvida de quais vão ser os próximos passos daqui para frente, o que o governo ainda pode anunciar adicionalmente. Mas, em geral, o crédito deve ficar mais caro e algumas transações de câmbio também permanecem mais caras, mesmo com o governo revertendo algumas decisões”, afirma.
Ouça o áudio na íntegra: