A eleição de Javier Milei para a presidência da Argentina já está provocando mudanças nos investimentos.
Por exemplo, as ações da petrolífera estatal YPF na bolsa de Buenos Aires, a Merval, subiram mais de 57% desde segunda-feira (20), enquanto as ADRs (American Depositary Receipt), negociadas na bolsa de valores de Nova York (NYSE), cresceram 48,85%.
Este movimento não é à toa! Durante a campanha eleitoral, Milei defendeu a redução do Estado na economia argentina com a privatização das principais empresas estatais do país. E não apenas isso.
O câmbio, outro exemplo, subiu com força nesta semana, visto que uma das promessas de Milei é a dolarização da economia argentina e o fim do Banco Central e do Peso.
A stablecoin “cripto dólar” teve uma forte valorização, com a moeda chegando a 1,2 mil pesos.
Com a proximidade geográfica e econômica da Argentina com o Brasil, a eleição de Milei irá afetar as ações das empresas brasileiras.
Por isso, algumas casas de análise, como o BTG Pactual (BPAC11) e o Bradesco BBI, elaboraram relatórios explicando como o efeito Milei afetará as empresas daqui.
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Efeito Milei: BTG avalia o impacto da Argentina no agronegócio, combustíveis e alimentos

O BTG alertou em relatório que as alterações políticas na Argentina podem afetar três segmentos no Brasil: agronegócio, combustíveis e alimentos. O banco aponta o risco de uma maior desvalorização do peso frente ao dólar.
Segundo o BTG, a inflação argentina não foi totalmente repassada para a taxa de câmbio oficial desde 2019. Este fato gerou um efeito contábil positivo para as empresas que atuam no país, pois as receitas e o Ebitda foram convertidos em moedas mais fortes.
Ambev
A Ambev (ABEV3) teve um aumento da participação da divisão LAS (América Latina Sul) no seu Ebitda total, de 17% em 2014 para 25% em 2022, sendo que a Argentina representa cerca de 60% do Ebitda da LAS.
O BTG estima que, se o peso oficial se igualar ao dólar paralelo, o Ebitda consolidado da Ambev em 2023 teria uma queda de 7%.
Além disso, o banco também ressalta que a redução dos hedges no país pode antecipar o impacto de uma eventual desvalorização.
Raízen
A Raízen (RAIZ4) também registrou números mais fortes na sua operação de distribuição na Argentina devido ao câmbio oficial inflado.
O BTG calcula que, se o peso se ajustar ao dólar paralelo, o Ebitda consolidado da empresa cairia 7%. Porém, o banco lembra que isso não considera uma possível mudança na política de preços dos combustíveis pelo novo governo.
Como os preços são regulados e estão abaixo da paridade de importação, uma eventual correção poderia beneficiar as margens de refino da Raízen.
Minerva
A Minerva (BEEF3) poderia se beneficiar com o fim das restrições à exportação de carne bovina na Argentina, segundo o BTG.
O banco observa que a empresa reduziu seus volumes de abate e vendas no país devido às dificuldades impostas pelo controle de exportação e de preços no mercado interno.
O BTG afirma que a Argentina tem potencial para recuperar sua tradição e competitividade na produção e exportação de carne bovina, se houver liberdade de preços. Deste modo, a Minerva, que tem capacidade ociosa no país, seria favorecida por esse cenário.
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Bradesco BBI fez uma análise setorial
O Bradesco BBI e o Morgan Stanley publicou um relatório explicando como o efeito Milei pode afetar as empresas brasileiras. Os bancos analisaram os setores de bancos, transportes, varejo e companhias aéreas, que têm alguma exposição à Argentina.
Veja os principais pontos do relatório:
Bancos
O Banco do Brasil (BBAS3) é o mais exposto à Argentina, pois possui 80,39% do Banco Patagonia S.A., que representa 7,2% da sua receita líquida de juros. Uma desvalorização cambial na Argentina poderia impactar o resultado do banco.
Enquanto que o Itaú (ITUB4) já se desfez do Itaú Argentina em agosto, vendendo-o por R$ 250 milhões, com um impacto negativo de R$ 1,2 bilhão.
Transportes
Mahle Metal Leve (LEVE3) e Marcopolo (POMO4) são as empresas com maior exposição à Argentina no segmento de transporte e bens de capital.
Segundo o Bradesco BBI, a Mahle Metal Leve pode ter seus resultados e margens afetados pela desvalorização cambial.
No caso da Marcopolo, os contratos das operações na Argentina são efetuados em dólar, o que deve limitar o impacto nas transações.
Companhias aéreas
As companhias aéreas têm exposição a voos internacionais para a Argentina, com bilhetes em dólares americanos. Para o Bradesco BBI, A desvalorização cambial pode aumentar a demanda turística internacional para a Argentina, beneficiando operadoras de turismo como CVC (CVCB3), Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4).
Varejo
No setor de varejo, Natura (NTCO3) e Mercado Livre (MELI34) são empresas que têm forte exposição ao mercado doméstico e também à Argentina.
Segundo o Morgan Stanley, a Natura teve 8% da sua receita proveniente da Argentina em 2022, com um impacto negativo de R$ 190 milhões no resultado financeiro líquido.
Já o Bradesco BBI informa que o Mercado Livre publicou uma análise de sensibilidade para a desvalorização do peso e estimou um impacto negativo de 15-20% no Ebit, mas sem impacto no lucro por ação.
Vale lembrar que o Mercado Livre é uma empresa argentina e possui um papel importante no e-commerce aqui no Brasil.
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