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O que seria a dolarização da economia proposta por Milei? Quem já fez esse movimento?

O que seria a dolarização da economia proposta por Milei? Quem já fez esse movimento?

Uma das principais propostas de Javier Milei, o novo presidente da Argentina, é a dolarização da economia do país. Esta medida tem como objetivo mitigar os efeitos da alta inflação, além de eliminar a função do Banco Central de emitir moeda, levando ao seu eventual encerramento.

No entanto, essa ideia não é inédita! Vários países da América Latina, incluindo a própria Argentina, já adotaram o modelo de dolarização da economia no passado.

A experiência desses países vizinhos que dolarizaram suas economias pode servir como referência para os planos de Milei de implementar essa medida.

Dolarização: quais países da América Latina adotaram o dólar?

O Panamá adotou a moeda dos EUA em 1903, logo após conquistar a independência da Colômbia com o apoio dos americanos. Naquela época, os EUA exerciam uma forte influência no país centro-americano para a construção do Canal do Panamá.

Em 2000, foi a vez do Equador. Os equatorianos adotaram o dólar para superar uma profunda crise bancária que causou prejuízos de US$ 5 bilhões e levou milhares de pessoas à falência. Além disso, o aumento dos preços ameaçava levar o país a um cenário de hiperinflação. 

Com a adoção do dólar, o Equador conseguiu registrar níveis baixos de inflação, incluindo períodos de deflação. Para 2023, a previsão é que o índice anual de inflação fique em 3,1%.

Um ano depois, El Salvador dolarizou sua economia. Na época, o governo de Francisco Flores (1999-2004) afirmou que pretendia tornar El Salvador mais atraente para investimentos estrangeiros e comércio. 

Vale mencionar também a Venezuela. Embora o país não tenha oficialmente o dólar como moeda, ele é amplamente utilizado pelos cidadãos venezuelanos desde 2018. O governo do país flexibilizou os rígidos controles cambiais como uma válvula de escape para a profunda crise. Naquela época, o país estava enfrentando seu primeiro ano de hiperinflação, com escassez da moeda local, o bolívar.

Assim como ocorre na Argentina, o dólar é utilizado para a compra de bens e serviços e contratos de aluguel em alguns outros países latino-americanos, como o Uruguai e o Peru. 

Nestes países, os preços de bens duráveis, como imóveis, veículos e eletrodomésticos, são fixados em dólares. 

Além disso, é possível abrir contas bancárias na moeda dos Estados Unidos e sacar dólares diretamente nos caixas eletrônicos.

Como seria a dolarização e quais seriam as suas vantagens e desvantagens?

Durante a campanha, Milei explicou que o governo argentino substituiria o peso pelo dólar como moeda nacional durante um período de transição de 16 meses, inspirando-se no modelo equatoriano. 

Nesse período, a inflação cairia devido a um choque de preços e confiança. Somente após essa fase, o Banco Central seria extinto.

No entanto, analistas alertam que essa mudança significaria o fim da autonomia da Argentina para controlar sua própria política monetária. A taxa de juros e a quantidade de moeda em circulação não seriam mais determinadas pelas autoridades governamentais argentinas.

A adoção do dólar no Equador e em El Salvador teve um impacto direto no controle da inflação. 

Entretanto, com a dolarização, esses países enfrentam a falta de autonomia monetária. Isso contribui para uma distorção no sistema de preços doméstico, o que pode tornar os produtos mais caros para os cidadãos e dificultar o gerenciamento de crises.

Outro problema da dolarização é a falta de flexibilidade para valorizar ou desvalorizar a moeda em situações de crise. Durante a pandemia de covid-19, por exemplo, o Equador enfrentou dificuldades no controle de preços porque o país não conseguia injetar mais dinheiro na economia para implementar as medidas necessárias.

Por outro lado, a dolarização dos países latino-americanos trouxe estabilidade para uma região que sofre com a desvalorização repentina e o descontrole inflacionário. A credibilidade da moeda americana atrai investimentos estrangeiros devido à facilidade das transações.

No Equador, por exemplo, a taxa de inflação no país não ultrapassa dois dígitos há mais de duas décadas.

Economia argentina já teve paridade com o dólar, mas não resolveu a sua situação

A proposta de dolarizar a economia argentina não é recente. Durante o governo de Carlos Menem (1989-1999), a Argentina adotou a paridade entre o peso e o dólar – uma espécie de dolarização informal – em meio a uma hiperinflação de 3.079% ao ano no final de 1989.

Em 1991, foi aprovada paridade fixa entre o peso argentino e o dólar. Essa medida estabilizou a inflação argentina. E cinco anos depois, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) caiu para 0%.

Além disso, a dolarização trouxe uma abertura econômica, acompanhada da privatização de empresas públicas. Com a baixa taxa de juros na economia americana, os investimentos estrangeiros começaram a chegar ao país.

No entanto, em 1996, uma sequência de choques externos em países emergentes, primeiro no México, depois na Ásia e na Rússia, juntamente com um aumento dos juros nos EUA, enfraqueceu o modelo argentino, pois os capitais externos fugiram para países mais seguros.

Além disso, a desvalorização do real em 1999 afetou duramente as exportações argentinas, que sofreram uma queda significativa. A Argentina observou uma queda nas exportações par ao Brasil caírem, o que prejudicou os setores automotivo, têxtil, lacticínio e calçado.

O modelo, para funcionar, dependia de o país receber dólares. Sem os dólares, o governo não podia emitir uma quantidade equivalente em pesos e gastar. Com a fuga de capital devido às crises externas, faltaram dólares para sustentar a economia e o sistema entrou em colapso.

A Argentina enfrentou uma recessão e o desemprego atingiu a casa dos 30%. Em 2001, após o fracasso da dolarização, os argentinos mergulharam em uma crise profunda, que resultou na fuga do presidente Fernando De La Rúa, de helicóptero, da Casa Rosada.