No último domingo (19), Javier Milei, economista ultraliberal do Libertad Avanza, venceu as eleições argentinas com 55% dos votos válidos, contra 44% de Sergio Massa, do Unión por la Patria.
Aos 52 anos, Milei assumirá a presidência em dezembro para um mandato de quatro anos, enfrentando uma série de desafios significativos. Entre eles, a pior crise econômica que o país enfrentou em décadas, marcada por alta inflação, uma grande proporção da população vivendo em condições de pobreza, desvalorização da moeda, dívida externa elevada e escassez de reservas internacionais.
Durante sua campanha, Milei propôs medidas extremas, como a dolarização da economia argentina e a dissolução do Banco Central do país. Diante das propostas extremas, ainda há incertezas sobre como elas serão implementadas e qual será o perfil do governo Milei.
Para esclarecer as principais dúvidas, o portal EuQueroInvestir compilou informações importantes sobre o que pode acontecer com nossos vizinhos, para que os investidores saibam o que esperar do governo Milei na Argentina.
Milei terá dificuldades para emplacar as pautas mais polêmicas por falta de apoio político
No primeiro turno, apesar do discurso antipolítico de Milei, onde ele se posicionava contra o sistema de castas, o ultraliberal recebeu o apoio da direita mais tradicional da Argentina, representada pelo ex-presidente Mauricio Macri e pela terceira colocada do 1º turno, a ex-ministra da Segurança, Patricia Bullrich.
Logo no primeiro discurso, Milei agradeceu Macri pelo apoio a ele.
No entanto, a direita mais tradicional da Argentina será crucial para o governo libertário. O partido de Milei elegeu apenas sete senadores de um total de 72. Na Câmara, o Libertad Avanza conquistou apenas 38 dos 129 assentos necessários para formar a maioria.
Para aqueles que desejam implementar reformas mais radicais, como o fechamento do Banco Central e a dolarização da economia com o fim do Peso, o grupo político de Milei precisará do apoio de partidos de direita e centro-direita.
Mas mesmo assim, Milei destacou que mudanças drásticas precisam ser feitas e que não há espaço para gradualismo.
O grupo político liderado por Macri e Bullrich elegeu 24 senadores e 93 deputados. Fazendo um cálculo simples, a combinação mais à direita não conseguiria formar uma maioria simples no Senado, o que impediria uma reforma mais ampla na casa alta.
Na Câmara, a união da extrema-direita com a direita mais tradicional poderia formar uma maioria simples, com uma diferença de apenas duas cadeiras. No entanto, essa maioria estaria muito apertada para aprovar medidas mais simples, sem mencionar que existem parlamentares de direita insatisfeitos com o discurso mais extremista de Milei.
Portanto, mesmo com o apoio de Macri, Milei não tem um apoio expressivo no Parlamento argentino.
Com a derrota de Sergio Massa, atual Ministro da Economia, o peronismo perdeu mais força entre os grupos de esquerda. De acordo com o jornalista César Felício, do Valor, a principal referência da oposição deverá ser o governador reeleito da província de Buenos Aires, Axel Kicillof, que tem um perfil mais à esquerda do que os membros do peronismo.
O jornalista ressaltou que os grupos peronistas tendem a ser uma oposição rigorosa, capazes de desestabilizar governos anteriores. No entanto, Milei enfatizou que adotará uma postura mais firme contra as manifestações de rua. “Dentro da lei, tudo. Fora da lei, nada. Não há espaço para os violentos. Seremos implacáveis”, declarou.
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Como foi o primeiro discurso de Milei como presidente?
Em seu discurso inicial, Milei afirmou que a Argentina se tornará novamente uma potência mundial, o que exigirá a implementação de mudanças drásticas. Ele também enfatizou que a democracia será respeitada.
O futuro presidente argentino fez um discurso moderado, sem improvisações, e convidou outras forças políticas do país para se unirem ao seu projeto.
Milei proclamou que este é o fim da decadência argentina e que o país irá “virar a página” de sua história. Ele acenou para aqueles que desejam se juntar à “nova Argentina”, mas reforçou que “dentro da lei, tudo, fora da lei, nada”.
“Vamos transformar essa realidade tão trágica para toda a Argentina. As mudanças que o país precisa são drásticas, não há espaço para sermos leves, temos que ir com força. Se não avançarmos rapidamente com mudanças estruturais, iremos para a pior crise”, disse Milei. “Hoje termina o modelo empobrecedor do Estado onipresente que só beneficia alguns enquanto a maioria dos argentinos sofre. Hoje termina a ideia de que o Estado é um espólio para ser dividido entre os políticos e seus amigos. Hoje termina esta visão de que os que vitimam são as vítimas e as vítimas, os que vitimam”, discursou.
O presidente eleito enfatizou que a Argentina voltará a abraçar o modelo de liberdade para se tornar uma potência mundial. “A todos os que olham de fora, a Argentina voltará a ocupar o lugar que nunca deveria ter perdido”, afirmou.
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O discurso para o seus eleitores
No discurso para seus eleitores, Milei foi às ruas de Buenos Aires, capital da Argentina, para discursar para seus correligionários em um carro de som. A frase de destaque do presidente é que a tarefa de governar o país “não é para fracos, covardes ou corruptos”.
Ele também afirmou que seu modelo de governo está baseado no respeito à liberdade e à propriedade e destacou que há esperança. “Os países que abraçam a ideia da liberdade são oito vezes mais ricos que os reprimidos”, disse o economista.
“Além da alegria e da honra de ser o primeiro presidente liberal libertário da história da humanidade, quero dizer que a tarefa que vem pela frente não é fácil. Estão nos deixando uma economia destruída, com uma inflação que chega a 300%, caminhando para uma hiperinflação com um desequilíbrio fiscal colossal, desequilíbrio de preços, uma série de problemas no mercado, câmbio, com o problema da dívida… Essa não é uma tarefa para fracos, não é uma tarefa para covardes, e muito menos para corruptos. Esta é uma tarefa para aqueles que querem colocar a Argentina de pé”, disse.
Em sua visão de reconstrução, Milei afirmou que as ideias de liberdade transformaram a Argentina em uma potência mundial no século XIX.
“Vamos fazer isso como foi feito no século XIX, quando a partir de 1860 colocaram em andamento as ideias que em 35 anos nos transformaram na primeira potência mundial”, observou, em meio a gritos de “liberdade” dos eleitores.
Ao falar sobre seu modelo de governo, Milei destacou que a base é “o respeito irrestrito ao projeto de vida do próximo, ao direito de não agressão, à vida, à liberdade e à propriedade”.
“As instituições são a propriedade privada, os mercados livres de intervenção estatal, a concorrência, a divisão do trabalho e a cooperação social, onde só é possível ter sucesso servindo ao próximo, com mais qualidade”, disse Milei.