O Acordo de Plaza, assinado em setembro de 1985, foi um pacto entre Estados Unidos, Japão, Alemanha Ocidental, França e Reino Unido para desvalorizar o dólar e reduzir os desequilíbrios comerciais.
Firmado no Hotel Plaza, em Nova York, o acordo permitiu que os bancos centrais desses países interviessem no mercado cambial, vendendo dólares e comprando suas próprias moedas, o que enfraqueceu a moeda norte-americana.
O objetivo era tornar os produtos dos EUA mais competitivos no exterior, reduzindo o déficit comercial do país.
A curto prazo, o acordo foi considerado bem-sucedido, pois ajudou a equilibrar o comércio exterior dos EUA. No entanto, teve efeitos colaterais inesperados, como a bolha financeira no Japão, que estourou na década de 1990, levando o país a um longo período de estagnação econômica.
Agora, quase 40 anos depois, o Acordo de Plaza volta ao debate por conta da nova política econômica do presidente Donald Trump, que busca reduzir o déficit comercial dos EUA e pressionar por um dólar mais fraco.
Por que o Acordo de Plaza está sendo citado no governo Trump?
Desde sua volta à Casa Branca, Trump tem adotado medidas protecionistas agressivas, incluindo tarifas sobre produtos chineses, automóveis europeus e aço. O paralelo com o Acordo de Plaza surge por dois motivos principais:
1 – Combate ao déficit comercial
Assim como nos anos 1980, Trump quer reduzir o déficit comercial dos EUA, que hoje é dominado pela China, União Europeia e México.
No Acordo de Plaza, os EUA conseguiram essa redução via cooperação internacional. Já Trump, opta por tarifas unilaterais, o que gera mais atritos comerciais.
2 – Pressão por um dólar mais fraco
Em diversas entrevistas, Trump criticou o dólar forte, alegando que ele prejudica as exportações dos EUA.
Apesar disso, não há um acordo formal como o Plaza, mas as tarifas comerciais funcionam como uma espécie de substituto político.
Um dólar mais fraco tende a dois fenômenos:
- Efeito indireto: as tarifas incentivam o consumo interno e podem levar países como a China a desvalorizar o yuan para compensar as taxas americanas.
- Risco: essa abordagem pode gerar guerras comerciais, inflação e incerteza para a economia global.
Embora existam semelhanças com o Acordo de Plaza, o cenário de 2024 é muito mais complicado agora do que há 40 anos. Veja a tabela abaixo para verificar a diferença entre os cenários:
Aspecto | Década de 1980 | 2024 |
Principal rival comercial | Japão | China |
Déficit comercial | Concentrado em bens | Inclui tecnologia e serviços |
Estratégia | Acordo multilateral | Tarifas unilaterais |
Inflação | Controlada | Alta pós-pandemia |
Posição dos EUA | Potência hegemônica | Competição com China e Rússia |
Por que as tarifas de Trump são polêmicas?
As tarifas impostas por Donald Trump têm sido alvo de críticas devido aos seus impactos econômicos e comerciais.
Um dos principais problemas é o potencial aumento da inflação, já que a taxação sobre importações encarece os produtos estrangeiros, elevando os preços para os consumidores americanos.
Além disso, as medidas protecionistas podem desencadear retaliações por parte dos países afetados, que, em resposta, podem impor tarifas sobre exportações dos EUA, atingindo setores como a agricultura e a tecnologia.
Outro ponto de preocupação é o enfraquecimento do sistema global de comércio. A Organização Mundial do Comércio (OMC) já tem diversos desafios, e a postura agressiva dos EUA aumenta a incerteza no comércio internacional.
Diferentemente do Acordo de Plaza, que buscou estabilidade por meio da cooperação entre as grandes economias, a estratégia de Trump gera instabilidade e imprevisibilidade nos mercados.
- Leia também: Ontário rompe contrato milionário com SpaceX em retaliação à guerra tarifária
- Big Techs: vale investir após DeepSeek?
- Falta de dólar na carteira dos brasileiros impacta negativamente o patrimônio
O que esperar daqui para frente?
Diante desse cenário, algumas consequências podem ser esperadas.
Trump pode intensificar a pressão sobre o Federal Reserve (Fed) para reduzir as taxas de juros, buscando enfraquecer o dólar e tornar os produtos americanos mais competitivos no exterior. No entanto, essa estratégia pode encontrar resistência dentro do próprio banco central, que prioriza o controle da inflação.
Além disso, a guerra comercial com a China pode se aprofundar, com aumentos tarifários que podem chegar a 60% sobre determinados produtos chineses, além de restrições a empresas como TikTok e BYD.
Paralelamente, aliados históricos dos EUA, como a União Europeia e o México, também podem ser alvos de novas tarifas, especialmente em setores estratégicos como o de carros elétricos, ampliando as tensões diplomáticas e comerciais.
O presidente Donald Trump anunciou, no sábado (1º), tarifas de 25% sobre importações do Canadá e México e 10% sobre produtos chineses.
A resposta do Canadá foi imediata. Na noite do mesmo dia, o primeiro-ministro Justin Trudeau anunciou tarifas retaliatórias de 25% sobre US$ 155 bilhões em produtos americanos. Segundo ele, US$ 30 bilhões em tarifas entrarão em vigor já na terça-feira (4), enquanto os US$ 125 bilhões restantes serão aplicados em 21 dias.
Trudeau afirmou que a medida afetará diversos produtos dos EUA, incluindo cerveja, vinho, bourbon, frutas, sucos, roupas, equipamentos esportivos e eletrodomésticos.
“Não queremos estar aqui, não pedimos por isso. Mas não recuaremos na defesa dos canadenses e da parceria de sucesso entre o Canadá e os EUA“, declarou o premiê, admitindo que as próximas semanas serão desafiadoras para ambos os países.
Já a presidente do México, Claudia Sheinbaum, declarou em uma postagem na rede social X que instruiu seu secretário da Economia a implementar “medidas tarifárias e não tarifárias em defesa dos interesses do México”. Embora não tenha especificado quais ações serão adotadas, Sheinbaum criticou a decisão unilateral de Trump, afirmando que “não é impondo tarifas que os problemas se resolvem, mas sim conversando e dialogando”.
Após a repercussão do caso, Sheinbaum informou que chegou a um acordo com Trump promovendo um uma pausa de um mês na aplicação das tarifas que Washington havia anunciado contra o país.
A decisão foi tomada após uma conversa entre os dois líderes, na qual também foram discutidas medidas de cooperação para conter o tráfico de drogas e a imigração ilegal.
Como parte do acordo, Sheinbaum confirmou que o México reforçará imediatamente a fronteira norte com 10 mil membros da Guarda Nacional, em um esforço para prevenir o tráfico de drogas para os EUA, com foco especial no fentanil.
Em resposta, Trump afirmou que o México também se comprometeu a conter o fluxo de imigração ilegal para os EUA.
Além disso, os dois países decidiram criar grupos de trabalho que, ao longo das próximas semanas, discutirão soluções conjuntas para combater o crime organizado, controlar a imigração e fortalecer a economia bilateral.
Os Estados Unidos também prometeram atuar para prevenir o tráfico de armas de alto calibre para o México, um dos principais desafios na luta contra a violência no país.
A China também reagiu, prometendo contestar as novas tarifas na Organização Mundial do Comércio (OMC). Em um comunicado publicado neste domingo (2), o Ministério do Comércio chinês afirmou que as medidas de Trump “violam seriamente” as regras da OMC e pediu que os EUA “se envolvam em um diálogo franco e fortaleçam a cooperação”.
Paralelamente, aliados históricos dos EUA, como a União Europeia e o México, também podem ser alvos de novas tarifas, especialmente em setores estratégicos como o de carros elétricos, ampliando as tensões diplomáticas e comerciais.
Concluindo…
Trump menciona o Acordo de Plaza porque ambos os cenários têm um objetivo comum: corrigir desequilíbrios comerciais. Porém, enquanto em 1985 houve cooperação internacional, agora Trump age de forma unilateral, criando incerteza para os mercados globais.
A grande contradição é que suas tarifas podem acabar fortalecendo o dólar, prejudicando suas próprias metas comerciais. Isso cria um ciclo vicioso, onde tarifas elevam os custos, aumentam a inflação e forçam novas rodadas de medidas protecionistas.
Seja por meio de novas tarifas, pressão sobre o Fed ou negociações tensas com parceiros comerciais, as políticas de Trump continuarão moldando a economia global – e mantendo o Acordo de Plaza como um paralelo histórico inevitável.
Veja abaixo as semelhanças e diferenças do Acordo Plaza e Trump:
Aspecto | Acordo Plaza (1985) | Políticas de Trump (2024) |
Objetivo | Reduzir déficit via dólar fraco | Reduzir déficit via tarifas e pressão |
Método | Intervenção coordenada no câmbio | Tarifas unilaterais |
Efeito sobre o dólar | Desvalorização planejada | Fortalecimento não intencional |
Relação com aliados | Cooperação internacional | Conflito comercial |
Papel do Fed | Alinhado ao governo | Tensão entre Trump e Fed |
Você leu sobre Acordo de Plaza. Para investir melhor, consulte os e-books, ferramentas e simuladores gratuitos do EuQueroInvestir! Aproveite e siga nosso canal no Whatsapp!