“Mercado que reage bem a notícias ruins é mercado de alta. Mercado que reage mal a notícias boas é mercado de baixa.”
A frase acima é de Ivan Sant’Anna, um dos maiores traders do Brasil, que atuou no mercado financeiro desde a década de 1950, tendo sido um dos precursores de diversos mercados no país.
Citamos essa frase recentemente, em uma de nossas reuniões do time de Research aqui na EQI. Felipe Paletta, Olivia Alonso e Frederico Rosas se lembraram dos diversos momentos, anos atrás, em que Ivan nos alertava:
“Se a notícia é boa e o mercado cai, bear market. Se as notícias são ruins e o mercado sobe, bull market”.
Na reunião, comentamos também sobre como ele sempre estava certo.
No fim, os ditados acabam sendo o resumo de algo muito maior. Conhecimento tácito, repertório, estudos, observações e experiência. Vale a pena levar em consideração. Em tempos de inteligência artificial, nada melhor do que beber de uma fonte humana, verdadeiramente rica, valiosa e inteligente.
Hoje, eu trago mais 7 argumentos, meus, que se somam à sabedoria do Ivan, para justificar meu otimismo com a Bolsa brasileira. Quem já acompanha meus áudios diários no EQI+ já os conhece, ainda que de outra forma menos detalhada:
1. Bases acionárias comprimidas.
2. M2/M1 > 10x
3. P/L de 2026 < 7,5x
4. Turquenização
5. Baixa dependência externa
6. MSCI EM, 2% a serem recuperados…
7. VOL do IBOV < VIX
Explicando melhor, um por um:
Bases acionárias comprimidas na bolsa de valores
De 2021 a 2024, a indústria de gestão de recursos brasileira sofreu um abalo sísmico de enorme magnitude. Não só testemunhamos uma mudança na direção do país, mas passamos por um ciclo de elevação na taxa de juros que foi extremamente perverso. Além disso, vimos a China em transição – abandonando o foco na construção civil e passando a direcionar recursos para o setor industrial – e os EUA “sugando” a liquidez global em meio ao surgimento do ChatGPT e ao início de uma nova era de avanços tecnológicos.
Tudo isso, de forma conjunta, contribuiu para que os ativos de renda variável no Brasil registrassem retornos tímidos, não acompanhando o crescimento do PIB nominal nem a “impressão do dinheiro”, medida pelo agregado monetário publicado pelo BC — o M2. Como consequência, as bases acionárias das empresas foram se tornando cada vez mais concentradas. Saíram os acionistas mais “volúveis” e ficaram os mais “comprometidos” com o longo prazo das companhias. Estudos apontam que as empresas vêm recomprando suas ações a despeito do elevado custo de oportunidade (taxa Selic).
M2/M1 > 10x
Em janeiro de 2020, meses antes do surgimento da pandemia, o agregado monetário M2 se situava em 3 trilhões de reais. Tal agregado inclui dinheiro imediato (M1 = papel-moeda + reservas bancárias + saldo em conta corrente dos cidadãos) mais o dinheiro que (eu gosto de afirmar) está “empoçado” na renda fixa brasileira na forma de CDBs e títulos incentivados.
Ao contrário do que aconteceu nos EUA, por aqui não tivemos a “eutanásia do rentismo”. Muito pelo contrário: o rentista está confortavelmente recebendo um retorno desproporcionalmente maior do que o risco do país neste momento. Com isso, a relação M2/M1, que no passado ficou por volta de 6,5x, está hoje em um patamar superior a 10x — o maior múltiplo de M2/M1 dentre os países do G20.
P/L de 2026 < 7,5x
Os meus estudos (e aqui é a opinião “do Marink”) apontam para uma lucratividade das empresas do Ibovespa próxima a 550 bilhões de reais em 2026. Assim, a relação entre o preço (somatório de valor de mercado das empresas que compõem o Ibovespa) e o lucro projetado para 2026 está, neste momento em que escrevo, por volta de 7,30x. Trata-se de um patamar bem inferior à média histórica e extremamente convidativo.
Turquenização
Em 2021, o líder turco Erdogan promoveu uma marcante intervenção na política monetária da Turquia. Nesse processo, o M1 (dinheiro imediato do país) disparou e a inflação, conforme esperado, também disparou. Como consequência, os preços dos títulos de renda fixa prefixados do país despencaram. Nesse processo, entretanto, ocorreu uma surpresa.
Ao contrário do esperado, os investidores locais e estrangeiros buscaram refúgio na renda variável. Nos meses subsequentes à intervenção de Erdogan, os índices de renda variável da Turquia — medidos em dólares norte-americanos — se valorizaram. Assim, tal fenômeno de busca por ativos reais como proteção passou a ser chamado por alguns estrategistas de “turquenização”.
Curiosamente, tal fenômeno está em curso nos EUA, onde investidores globais passaram a privilegiar ações de empresas de tecnologia em detrimento da demanda por títulos emitidos pelo Tesouro norte-americano de prazos mais longos. Assim, ainda que o S&P 500 esteja próximo de sua máxima histórica, o mesmo não pode ser dito para a renda fixa de longo prazo.
Penso que, no Brasil, o processo de turquenização ainda nem começou. Todavia, a proximidade de uma eleição presidencial e um cenário mais desafiador em 2027 tendem a fazer com que a renda variável assuma maior protagonismo nos próximos meses.
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Baixa dependência externa
Em 2016, mais de 25% dos títulos emitidos pelo Tesouro brasileiro estavam nas mãos de investidores estrangeiros. Hoje, tal percentual é inferior a 10%. Além disso, o percentual da dívida brasileira atrelada à moeda estrangeira, que no passado esteve próximo de 10%, é hoje inferior a 5%. Tudo isso, de forma conjunta, contribui para uma economia mais resiliente do que muitos pensam.
MSCI EM, 2% a serem recuperados…
O Brasil vem sendo negligenciado por um processo de indexação! Esta é uma das minhas afirmações mais relevantes. Isso tem a ver com a forma como os ativos são alocados nas carteiras MSCI — que representam uma importante referência de alocação de ativos globais. A carteira MSCI emite um comunicado a investidores globais que funciona como uma espécie de “vá por ali”.
No caso da carteira MSCI — Mercados Emergentes, o Brasil, que em um passado distante já foi líder, está hoje bem atrás de China, Taiwan, Índia e Coreia do Sul, com somente 4,2% de participação. A participação brasileira encontra-se achatada por uma notícia que é, na verdade, positiva: a redução no “free float” — total de ações circulando no mercado.
Quando digo que o Brasil é negligenciado pela indexação, na essência estou transmitindo que a carteira MSCI valoriza algo que não é tão valorizado no Brasil: um grande “free float”. Assim, o banco indiano HDFC acaba tendo uma posição bem mais relevante na carteira MSCI EM do que o Banco Itaú — o que, na minha opinião, é quase uma aberração. É também uma bela oportunidade para aqueles que estão atentos a tudo o que está acontecendo no mundo.
VOL do IBOV < VIX
Este é o argumento mais técnico da minha lista, mas se situa entre os mais importantes. Nos últimos dois anos, o principal “input” no cálculo da precificação dos contratos de opções — uma medida chamada volatilidade implícita — tem se mantido mais baixo por aqui (em se tratando de contratos associados ao Ibovespa) do que lá fora (em se tratando de contratos associados ao S&P 500).
Dito de forma mais simples, os mercados estão “dizendo” que a probabilidade de uma queda mais expressiva no S&P 500 é maior do que no Ibovespa. Nem sempre foi assim. Na verdade, ao longo da minha carreira, nunca foi assim. Por essa razão, considero este fenômeno importantíssimo.
Espero que tenha gostado.
Convido você, agora, a assistir a um vídeo do CEO da EQI, gravado em fevereiro deste ano, com outros argumentos que também se somam aos meus para acreditar em um mercado bom para o investidor de Bolsa no caso de uma virada política no Brasil.
Você pode ver o “Grande Reset” clicando no vídeo abaixo.
Um abraço e bons investimentos!