Durante live promovida pela EQI Investimentos na quinta-feira (3), o economista-chefe da EQI Asset, Stephan Kautz, analisou os principais vetores que devem impactar os mercados globais e brasileiros nos próximos meses — em um ambiente cada vez mais complexo, instável e volátil. E, para esta nova realidade, fez um recomendação relevante: a diversificação geográfica dos investimentos. Confira!
Diversificação geográfica dos investimentos: solução para mundo desglobalizado
Para Kautz, o mundo vive uma transformação profunda no cenário geopolítico e econômico, marcada por um processo de desglobalização que se intensificou a partir do governo de Donald Trump.
Segundo ele, essa mudança tem provocado o enfraquecimento das instituições multilaterais criadas no pós-Segunda Guerra Mundial — como a ONU, Otan, FMI, OMC e União Europeia — que até então promoviam a integração econômica e a estabilidade global.
“Estamos vivendo um momento geopolítico e econômico importante, que terá efeitos pelos próximos anos para os investidores”, alertou.
Kautz compara o atual cenário global a uma nova Guerra Fria:
“Não há ataques diretos entre grandes potências, mas sim disputas indiretas por influência regional.” Como exemplo, citou o recente conflito no Oriente Médio, envolvendo Israel, Hamas, Irã e Estados Unidos. Para ele, trata-se de uma guerra indireta, com forte conotação geopolítica, mais do que meramente religiosa.
O mesmo se aplica à guerra na Ucrânia, onde a Europa evita o confronto direto com a Rússia, mas financia o esforço de guerra ucraniano.
“Vivemos em um mundo multipolar, onde os conflitos são fragmentados, indiretos e estratégicos”, disse.
A recente aprovação do orçamento do governo Trump — com aumento de gastos e cortes de impostos — acendeu um alerta no mercado, que já vinha precificando impactos da inflação com as tarifas de importação.
Como efeito dessa nova política expansionista e protecionista dos EUA, o dólar teve sua pior performance em um semestre desde 1973. Para Kautz, o aumento do déficit fiscal americano elevou a percepção de risco em relação à economia dos EUA.
“A concentração dos investimentos globais nos EUA atingiu um nível crítico. A economia americana representa 30% do PIB global, mas responde por cerca de 70% dos investimentos. Em um mundo mais volátil e incerto, a diversificação geográfica passa a ser uma necessidade, e não mais uma opção”, afirmou.
No entanto, ele descarta o fim do dólar como moeda de referência.
“O que vemos é o fim do ‘excepcionalismo americano’. O dólar continuará relevante, mas o excesso de concentração está sendo corrigido”, explicou.
Essa movimentação, segundo ele, ajuda a explicar a valorização recente de moedas como o euro, a libra esterlina, o dólar canadense e o peso mexicano — além do real.
Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, foi convidado de live da EQI Investimentos. Foto: Divulgação/EQI
Estados Unidos: inflação e política monetária
Nos EUA, a combinação de desaceleração econômica e risco inflacionário cria um dilema para o Federal Reserve (Fed), banco central norte-americano. A curva de juros chegou a precificar cortes já nos próximos meses, mas Kautz discorda dessa visão.
“Os efeitos das tarifas anunciadas por Trump ainda não chegaram. Parte do mercado está vendo só metade da história.”
Ele acredita que o Fed terá menos espaço para cortar juros do que o mercado espera.
“A inflação já estava perto da meta de 2%, e o Fed poderia iniciar os cortes. Mas com o anúncio das tarifas, o banco central interrompeu esse movimento e, agora, prefere esperar”, explicou.
O Fed revisou sua projeção de inflação para cima, de 2,8% para 3,1%, e a de crescimento para baixo: de 1,7% para 1,4%.
“Quando economia cresce menos, a inflação tende a ser menor. O que do Fed está dizendo é que isso não vai acontecer. Quando a economia cresce menos e a inflação sobe, acontece a estagflação. Então, nós acreditamos que o Fed vai cortar juros, só não achamos que é na magnitude que o mercado está precificando hoje”, afirmou.
Brasil: desaceleração suave e dilemas do BC
No Brasil, a economia dá sinais suaves de desaceleração, sem expectativa de recessão. A produção industrial tem crescido quase exclusivamente puxada pelo setor extrativo, enquanto manufatura permanece estável, explicou Kautz. Ainda assim, o consumo e o setor de serviços seguem sustentando o crescimento.
“A economia deve crescer em torno de 2% este ano, após quase 3,5% no ano passado. Mas não é uma freada brusca. O mercado de trabalho está aquecido, com desemprego nas mínimas históricas e aumento real da renda. Isso mantém o consumo em alta”, disse.
O Banco Central projeta inflação próxima de 5% em 2025 e em 3,6% em 2026. A EQI Asset, por sua vez, projeta 5,5% e 4,5%, respectivamente. Para o Produto Interno Bruto (PIB), a expectativa é que economia recue de 3,5% em 2024 para 2% este ano.
Diante desse cenário, a autoridade monetária subiu a taxa Selic para 15% em sua última reunião, indicando manutenção deste patamar por período “bastante prolongado”.
“Nossa projeção é de cortes só a partir do segundo trimestre de 2026”, afirmou.
Divulgação: EQI Investimentos
Fiscal: alerta segue ligado
O cenário fiscal também preocupa no Brasil. Mesmo com metas de déficit próximas de zero, a dívida pública deve continuar crescendo nos próximos anos.
“Com juros altos e dívida elevada, é necessário cortar gastos ou aumentar a arrecadação. Não há mágica”, disse Kautz.
Recomendações para o investidor
Diante das incertezas, a palavra de ordem para o investidor hoje é diversificação. A EQI Asset tem recomendado em suas carteiras de wealth (gestão de grandes fortunas) que pelo menos 30% da carteira esteja alocada em moedas fortes, como dólar, euro e libra esterlina. “É uma proteção natural em um mundo mais instável”.
“Não se trata de abandonar o dólar, mas de buscar equilíbrio diante do novo mapa geopolítico e econômico mundial”, enfatizou.