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Ata do Copom: juros estacionam em 15% por período ‘bastante prolongado’

Ata do Copom: juros estacionam em 15% por período ‘bastante prolongado’

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) divulgou nesta terça-feira (24) a ata de sua 271ª reunião, realizada nos dias 17 e 18 de junho, quando decidiu elevar a taxa Selic — a taxa básica de juros da economia — em 25 pontos-base, fixando-a em 15% ao ano.

De acordo com o Copom, a elevação foi motivada pela resiliência da atividade econômica, que dificulta a convergência da inflação à meta estabelecida. Esse cenário, segundo o comitê, exige um aperto monetário mais intenso. Por outro lado, o documento ressalta que o ciclo de alta já implementado foi “particularmente rápido e bastante firme”, o que reforça a percepção de que os efeitos completos dessa política ainda não se manifestaram totalmente na economia, devido às defasagens naturais da política monetária.

Diante desse quadro, o comitê reafirmou, na ata, o sinal já dado no comunicado pós-reunião: a interrupção do ciclo de alta dos juros, a fim de observar os efeitos acumulados das medidas já adotadas.

“A construção da confiança necessária para definir o grau apropriado de restrição monetária ao longo do tempo depende de garantir que os canais de transmissão da política monetária estejam funcionando plenamente, sem obstáculos ou fatores que mitiguem sua eficácia”, destacou o Copom.

Ata do Copom: pausa para avaliar impacto dos juros

A estratégia agora passa a ser a de pausa na elevação da Selic, para avaliar se o nível atual é suficiente para garantir a convergência da inflação à meta.

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“Uma vez determinada a taxa de juros apropriada, ela deverá permanecer em nível significativamente contracionista por um período prolongado, considerando o desancoramento das expectativas inflacionárias”, afirmou o comitê. A ata também reforça que o Copom continuará atento aos desdobramentos econômicos e que poderá retomar os ajustes na taxa de juros, caso considere necessário.

Cenário segundo o Copom

O comunicado do Copom descreve um cenário externo adverso e incerto, influenciado principalmente pelas políticas fiscal e comercial dos Estados Unidos, além de tensões geopolíticas, como o conflito no Oriente Médio. Esse ambiente tem gerado volatilidade nos mercados e impactos sobre os investimentos e o consumo, exigindo cautela por parte de países emergentes como o Brasil.

O comitê destaca que ainda não é possível mensurar totalmente os efeitos desse cenário na economia doméstica, embora o país pareça menos exposto a algumas medidas internacionais, como tarifas, do que outras economias.

No cenário interno, a atividade econômica apresenta sinais mistos. Há alguma moderação no crescimento, mas setores como a agropecuária continuam fortes, e o consumo das famílias voltou a crescer após recuar no trimestre anterior.

O mercado de trabalho segue aquecido, com aumento da ocupação, baixa taxa de desemprego e elevação da renda, embora haja sinais de desaceleração recente nos rendimentos. O crédito bancário também permanece dinâmico, mas começa a mostrar inflexão diante do aperto das condições financeiras, com juros mais altos e menor oferta de crédito, sobretudo para pessoas físicas.

Expectativas para a inflação

O Copom observa que a inflação corrente e suas medidas subjacentes continuam acima da meta (3%), assim como as expectativas para 2025 e 2026, que seguem desancoradas. Embora alguns dados recentes tenham vindo abaixo das expectativas, como no caso de alimentos e bens industrializados, a inflação de serviços permanece elevada, refletindo um hiato do produto ainda positivo. Os núcleos de inflação continuam pressionados, o que reforça a avaliação de que há uma inflação sustentada pela demanda.

As projeções do cenário de referência indicam inflação de 4,9% em 2025 e de 3,6% em 2026. O comitê alerta que o cenário de inflação é desafiador, com riscos tanto de alta quanto de baixa.

Entre os riscos de alta, estão a persistência da desancoragem das expectativas, uma inflação de serviços mais resistente e uma política econômica que leve a uma depreciação prolongada do câmbio. Do lado das quedas, destacam-se a possibilidade de desaceleração mais forte da economia doméstica, um cenário global mais fraco e queda nos preços das commodities.

Por fim, o Copom ressalta que os vetores inflacionários permanecem desfavoráveis, com destaque para a resiliência da atividade, pressões no mercado de trabalho, expectativas desancoradas e projeções de inflação elevadas. Diante disso, reforça a necessidade de manter a política monetária em um patamar significativamente contracionista por um período prolongado, de forma a garantir a convergência da inflação à meta.

Tá, e aí?Stephan Kautz

Para Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, as projeções da inflação apresentadas pelo Copom mostraram virtual estabilidade em 2025 e 2026. Ambas acima da meta, especialmente em 2026, horizonte relevante da política monetária.

“Esses números, com a decisão da alta de juros na semana passada, e a ata indicam que não há espaço para cortes de juros nos próximos meses. Os desafios continuam relevantes para a política monetária, que tem como única obrigação entregar a inflação na meta”, avalia.

“Esperamos que a taxa Selic permaneça estável até o primeiro trimestre de 2026, quando nossas simulações apontam espaço de cortes um pouco menor do que o precificado na curva (200 pontos-base versus 250 pontos-base)”, complementa.

Na opinião de Kautz, o Copom fez o certo elevando novamente a taxa Selic. ” A aposta é que as altas realizadas farão o efeito desejado, desacelerando a atividade e reduzindo a inflação. O sucesso dessa estratégia será verificado somente nos dados relativos ao segundo semestre de 2025″, finaliza.