A crise de energia que abateu a Europa no mês passado, mais precisamente na Espanha e em Portugal, gerou muitos temores de desabastecimento – principalmente em supermercados – e também dúvidas. Muitos se perguntaram: o Brasil está seguro? O tema foi discutido em live da EQI Research na quarta-feira (7).
A discussão apontou quais os eventuais riscos para o Brasil e, quanto aos investimentos, abordou ainda a magnitude de como uma eventual crise de energia por aqui pode respingar nas empresas do setor elétrico.
O analista João Zanott, que participou da live ao lado do analista Felipe Paletta, mostrou que o episódio ocorrido na Espanha e em Portugal deixou os principais centros às escuras, então as pessoas se desesperaram, correram para o mercado, e foi observada uma reação em cadeia. De acordo com a avaliação de Neves, houve uma paralisação de cerca de 15 gigawatts (GW), em um período de cinco segundos, no fornecimento de energia.
“Normalmente quando a gente vê um apagão, é uma coisa mais localizada, algum problema na rede. Quando ocorre em países inteiros, realmente é algo que assusta. Foi algo de grandes proporções”, disse João Neves.
Paletta acrescentou que o volume de energia que deixou de ser enviado para os países é o equivalente à potência instalada da hidrelétrica binacional de Itaipu, que tem pouco menos de 15 GW.
“Então foi praticamente uma Itaipu inteira que sumiu do sistema, então realmente é relevante”, completou Paletta.
Crise de energia: ataque cibernético?
Diante dessa magnitude, uma questão ficou em aberto: o apagão pode ter sido causado por um ataque cibernético? Paletta lembrou que a geopolítica tem tomado um espaço grande nas discussões econômicas. O que leva a uma preocupação de desdobramento de conflitos, como a guerra bélica entre Ucrânia e Rússia; e a crise tarifária entre China e Estados Unidos.
Daí fica a pergunta: qual é o risco para o Brasil? Neves explicou que o panorama brasileiro é diferente do europeu. Enquanto o sistema daqui funciona em um único país, em território europeu são vários países. Espanha e Portugal possuem investimentos grandes em energias renováveis, então possuem uma incidência de sol grande para o aproveitamento da luz solar, porque se localizam ao sul da Europa, em uma região mais perto dos trópicos, próxima ao norte da África.
Por outro lado, as duas nações ficam expostas à baixa diversificação das fontes. Uma informação trazida durante a live é que, no momento do apagão, cerca de 60% de toda a energia gerada na Espanha era da fonte solar.
No caso brasileiro, a predominância é por energia hidrelétrica, que funciona como uma espécie de bateria.
“Há água à disposição, é possível liberar aquele fluxo, passa pelas turbinas e vai gerar energia”, explicou João Zanott.
E como ficam os investimentos?
Com este cenário, como ficam os investimentos no setor elétrico? Paletta lembrou que, no Brasil, há empresas transmissoras de energia que conseguem amenizar esse problema, já que, com a transmissão a longas distâncias, é possível trazer energia de um lugar para o outro e evitar que um apagão de grandes proporções ocorra.
Paletta explicou que, do ponto de vista dos investimentos, as geradoras talvez sejam interessantes e as transmissoras também possam ser, embora não sejam mais aquelas grandes geradoras de caixa do passado.
“Cada caso é um caso, com um submercado diferente e com particularidades. Talvez a discussão passe um pouco mais nesse momento entre as transmissoras e até as distribuidoras de energia”, disse João Neves.
Isso porque, no final das contas, a transmissora e a distribuidora faturam um pouco. Elas trabalham com concessões e ganham com a disponibilidade da energia. Ainda assim, as transmissoras têm uma vantagem: ganham sua receita de acordo com a disponibilidade. Então, não interessa se está chovendo, se está tendo energia em excesso, sobrando ou até mesmo faltando energia. A linha está operacional, então para João Neves pode ser considerada a “renda fixa” do setor elétrico.
No caso das geradoras, a questão fica mais complexa, porque entram em cena as tarifas de energia. Nos últimos tempos, houve muita capacidade renovável entrando e o preço de energia caiu. Então, as geradoras viraram um “patinho feio” do setor elétrico, com o mercado priorizando as usinas que já tinha vendido sua energia. Agora, com com o uso de fontes termelétricas, que conseguem ser acionadas na hora em que há pico de demanda, as geradoras voltaram a ganhar força.