A confirmação de que a Netflix (NFLX; NFLX34) fechou um acordo de US$ 72 bilhões para adquirir a Warner Bros. Discovery (WDB; $W1BD34)— operação que pode chegar a US$ 82,7 bilhões ao incluir dívidas — desencadeou uma reação imediata nos mercados em Nova York e no Brasil, enquanto analistas tentam medir o impacto da transação mais ambiciosa já realizada no setor de entretenimento.
Durante o pregão desta sexta-feira (5), os papéis reagiram de forma oposta ao anúncio. A Netflix recuava 3,42%, a US$ 99,69 em Nova York, e 2,18% no BDR NFLX34, cotado a R$ 10,75. Já a Warner Bros. Discovery avançava 1,98% nos EUA, a US$ 25,02, e 4,28% no BDR W1BD34, negociado a R$ 135,44.
Esse comportamento, comum em fusões desse porte, reflete preocupações dos investidores sobre endividamento, sinergias e execução — pontos aprofundados por Nicolas Merola, analista da EQI Research, cuja avaliação traz uma abordagem distinta sobre o caso.
O que muda para a Netflix, segundo o analista da EQI Research
Para Merola, o movimento representa um divisor de águas para a Netflix, que jamais havia realizado uma aquisição dessa escala. A companhia, tradicionalmente desalavancada, deve assumir uma dívida próxima de US$ 100 bilhões ao combinar:
- US$ 72 bilhões ofertados aos acionistas da Warner
- US$ 30 bilhões que já compõem o passivo da própria WBD
Esse novo cenário altera o perfil financeiro da empresa:
“A Netflix sai de uma estrutura quase sem alavancagem para se tornar uma companhia altamente endividada. Isso aumenta o risco da tese no curto prazo”, afirma Merola.
Ainda assim, o analista destaca que o racional estratégico é claro: aquisição de franquias valiosas, ganho intelectual e acesso a um dos maiores catálogos do mundo — ponto reforçado no próprio material institucional divulgado pela Netflix, que exalta as vantagens competitivas do acervo da Warner, como Harry Potter, The Sopranos, The White Lotus, Casablanca e Game of Thrones.
Valuation: negócio melhora métricas, apesar do prêmio elevado
Merola ressalta que, mesmo com a Warner Bros. negociando com prêmio de mais de 130% em relação ao valor observado meses atrás, o múltiplo combinado tende a ficar mais atrativo:
- A Netflix negocia historicamente com múltiplos elevados (EV/EBITDA > 30x).
- A Warner, fragilizada, negocia com múltiplos muito menores.
Ao unir as operações, o múltiplo da empresa combinada cai para algo próximo de 25x, segundo cálculos preliminares do analista.
“O valuation da Netflix melhora porque ela incorpora ativos com múltiplos inferiores aos seus. Mesmo pagando caro, o combinado fica mais barato”, explica Merola.
O deck institucional da Netflix reforça a mensagem ao mencionar projeções de economia anual entre US$ 2 bilhões e US$ 3 bilhões a partir do terceiro ano, além da expectativa de que a operação seja acretiva ao lucro GAAP no segundo ano.
Risco de curto prazo: investidores realizam lucros
A avaliação de Merola converge com o comportamento do mercado: ações em queda no curto prazo, apesar da lógica estratégica de longo prazo.
“Os investidores da Netflix estão com lucros elevados e agora se deparam com um movimento inédito, caro e de alto risco operacional. É natural haver realização”, afirma.
O analista também destaca que a integração pode gerar perdas iniciais de eficiência, já que parte dos assinantes da HBO Max provavelmente já é cliente da Netflix.
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O que pode fazer o mercado virar a chave?
De acordo com Merola, o mercado deve olhar para três fatores nos próximos meses:
1. Capacidade de monetização das franquias
A Warner traz alguns dos ativos intelectuais mais valiosos da história do cinema e da TV. A Netflix, por sua vez, domina distribuição, análise de dados e impulsão global. Se essas peças encaixarem, a tese acelera.
2. Crescimento de assinantes com menor “overlap”
Ainda que parte dos clientes seja compartilhada, existe base incremental relevante fora dos EUA e da Europa.
3. Desalavancagem mais rápida que o previsto
O próprio deck destaca compromisso com redução acelerada da dívida pós-fechamento — algo crucial para recuperar a confiança do mercado.
O maior negócio do streaming abre um novo ciclo — e um novo risco
A aquisição da Warner Bros. pela Netflix marca o maior movimento corporativo do setor em décadas e redefine o mapa estratégico de Hollywood.
Para a EQI Research, o negócio faz sentido econômico e competitivo, mas exige execução impecável e disciplina financeira — pontos que devem guiar o humor dos investidores daqui para frente.
No curto prazo, a volatilidade tende a persistir. No médio e longo prazo, a fusão tem potencial para reconfigurar a disputa global por atenção — consolidando a Netflix como o “superestúdio” do século XXI, caso consiga rentabilizar o pacote de US$ 82,7 bilhões que acaba de adquirir.
Merola apresentou ainda outros pontos de atenção e cenários alternativos para a fusão, que podem ser conferidos na análise completa disponível no app EQI+.





