Os investidores respiram mais aliviados nesta semana depois que o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, sinalizou que cortes de juros estão a caminho. Agora, o próximo grande teste para Wall Street virá do coração da revolução da inteligência artificial (IA). Isso porque, na quarta-feira (27), após o fechamento do mercado, a Nvidia (NVDA; NVDC34) apresenta seu balanço trimestral.
A expectativa é de números robustos, que reforcem a euforia com chips de IA e sustentem o recente rali das bolsas. O risco, no entanto, é simétrico: um resultado mais fraco ou projeções conservadoras podem trazer turbulência.
O que esperar do balanço da Nvidia: Teste para a euforia com IA
Na sexta-feira (22), antes do discurso de Powell, o S&P 500 vinha de cinco quedas consecutivas, a pior sequência desde janeiro. Após o alívio, o índice voltou a se aproximar do recorde histórico. Agora, os holofotes se voltam para a Nvidia, hoje a empresa de maior peso no S&P 500, respondendo por quase 8% do índice.
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O resultado da companhia tem efeito multiplicador: cerca de 40% da sua receita vem de clientes como Meta, Microsoft, Alphabet e Amazon — todas entre as maiores companhias listadas em Nova York.
Expectativas de crescimento, mas com menos fôlego
Analistas projetam lucro ajustado de US$ 1,01 por ação no segundo trimestre fiscal, alta de 48% sobre o ano anterior, com receita de US$ 46 bilhões — um crescimento de 54% na comparação anual, segundo a LSEG. Ainda que expressivo, o ritmo já é menor que os saltos de três dígitos vistos em trimestres anteriores.
Traders de opções precificam uma oscilação de cerca de 6% para qualquer lado após a divulgação.
Oferta x demanda: visão otimista
Segundo Marink Martins, analista internacional da EQI Research, a leitura predominante entre gestores segue otimista. Ele cita a avaliação de Saira Malik, CIO da Nuveen, de que eventuais riscos estão mais ligados à oferta de chips do que à demanda.
“Ninguém espera nenhum soluço vindo da parte da demanda, que deve continuar muito forte. As ações da Nvidia não estão caras em termos relativos, negociam a um P/L projetado de 30 vezes — o que, dentro do universo das big techs, não é elevado. Se houver problema, será em outras companhias que compram as GPUs da Nvidia, e não na Nvidia em si”, destacou Martins.
Para o analista, o mercado está menos preocupado com ruídos políticos, como a atuação de Donald Trump ou declarações de membros do Fed, e mais focado na lucratividade das big techs.
“O sentimento é de momentum, de continuidade. O mercado segue olhando para resultados e não para a macroeconomia neste momento”, afirmou.
Martins acrescentou que, embora esteja atento ao balanço da Nvidia, vê maior preocupação com a Apple, que divulgará novos produtos dia 9 de setembro. Além do novo iPhone, especula-se o anúncio de uma Siri mais avançada, além da possível compra da Perplexity.
“A Apple saiu de US$ 205 para US$ 230, apoiada em uma promessa de investimentos bilionários. A questão é de onde virão esses recursos. Para mim, a Apple é hoje uma história até mais delicada do que a Nvidia.”
Marink Martins, analista internacional da EQI Research. Foto: Divulgação/EQI
Valuations e riscos
Com a perspectiva de cortes de juros nos EUA, ações de crescimento como a Nvidia tendem a se beneficiar. Mas valuations seguem elevados: o S&P 500 negocia a 22 vezes o lucro projetado, contra uma média de 19x nos últimos dez anos. Já a Nvidia é negociada abaixo de sua média de 39x, mas ainda em terreno considerado “esticado”.
Mesmo assim, investidores seguem confiantes de que as queridinhas da IA continuarão entregando resultados surpreendentes.
Pressão vinda da China
Além do desafio de manter margens de crescimento acelerado, a Nvidia enfrenta turbulências no mercado chinês, responsável por 13% de sua receita em 2024.
Um acordo recente com o governo Trump permitiu que a companhia retomasse exportações de chips ao país, desde que repasse 15% da receita ao Tesouro americano. Mas Pequim respondeu pedindo que empresas locais limitem compras do chip H20, desenvolvido especialmente para contornar restrições.
A incerteza reduziu a previsibilidade das vendas na região. Em maio, a Nvidia alertou que as restrições poderiam cortar US$ 8 bilhões em receita no trimestre encerrado em julho, o que se somaria a um prejuízo de US$ 4,5 bilhões já registrado anteriormente.
O que vem pela frente
Apesar dos desafios, Wall Street segue confiante. Na última semana, ao menos nove analistas elevaram o preço-alvo da ação, com média acima de US$ 194, cerca de 9% acima do fechamento de sexta-feira (US$ 178).
Ainda assim, o balanço da Nvidia não será o único catalisador da semana. Na sexta-feira, o mercado aguarda também o índice de gastos com consumo (PCE), medida de inflação preferida do Fed.
Mas, para muitos gestores, o que realmente importa é a fabricante de chips. Se a Nvidia confirmar a tese de crescimento contínuo impulsionado pela IA, pode renovar o fôlego das bolsas.