O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, elevou nesta sexta-feira (10) a tensão na relação com a China. Em declarações feitas na rede Truth Social, ele acusou Pequim de tentar monopolizar o mercado global de terras raras e anunciou que estuda um “aumento massivo” das tarifas sobre produtos chineses.
Trump também afirmou que não vê mais motivo para manter o encontro com o presidente chinês, Xi Jinping, previsto para ocorrer em duas semanas, à margem da Cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), na Coreia do Sul.
“Uma das políticas que estamos calculando neste momento é um aumento massivo nas tarifas sobre produtos chineses que entram nos Estados Unidos. Há muitas outras medidas de retaliação que também estão sendo seriamente consideradas”, escreveu o republicano.
Trump e tarifas sobre produtos chineses: Novas regras para terras raras
A escalada de tensão ocorre após o Ministério do Comércio da China anunciar que, a partir de 1º de dezembro, empresas estrangeiras precisarão obter licença para exportar produtos que contenham mais de 0,1% de terras raras de origem chinesa. A medida também se aplica a itens fabricados com tecnologia chinesa de extração, refino, produção de ímãs e reciclagem.
Pequim justifica as regras como forma de “proteger a segurança nacional e os interesses estratégicos”, mas críticos, incluindo Washington, veem a decisão como um instrumento de pressão geopolítica, já que a China responde por mais de 70% da produção mundial de terras raras — minerais essenciais para a indústria de alta tecnologia, incluindo veículos elétricos, smartphones e armamentos.
Repercussão nos mercados
As declarações de Trump e o anúncio chinês provocaram forte reação nos mercados financeiros. Em Nova York, os principais índices de Wall Street fecharam em queda: o Dow Jones recuou 0,88%, o S&P 500 caiu 1,24% e o Nasdaq teve baixa de 1,72%. O movimento refletiu a aversão ao risco dos investidores diante do aumento das tensões comerciais entre as duas maiores economias do mundo. O dólar também perdeu força no mercado internacional, com o índice DXY registrando queda de 0,58%. Já as ações chinesas listadas nos Estados Unidos sofreram fortes perdas, com Alibaba e Baidu despencando cerca de 5%, enquanto JD.com e PDD recuaram 4,7% e 3,7%, respectivamente.
Trump endurece discurso
No texto publicado online, Trump acusou a China de agir de forma “hostil” e de tentar manter o mundo “cativo” ao impor restrições sobre minerais estratégicos. Ele ainda insinuou que os EUA também dispõem de posições monopolistas em setores cruciais, mas que até agora optaram por não usá-las.
“Não há como permitir que a China mantenha o mundo refém”, disse, prometendo responder financeiramente às medidas de Pequim.
A escalada retórica coloca em risco não apenas a retomada de negociações comerciais entre as duas maiores economias do mundo, mas também a estabilidade das cadeias globais de suprimentos em setores estratégicos.
Segundo Marink Martins, analista internacional da EQI Research, há duas leituras em voga sobre a nova tensão comercial entre EUA e China. A primeira é de que a China está exagerando e dando um passo arriscado demais ao impor novas regras sobre terras raras. A segunda, de que tem muita tensão pela frente, mas “sem um grande vencedor”, com momentos de aparente liderança da China e, em outros, dos EUA.
“Minha leitura é que temos um cenário cada vez mais positivo para o Brasil, porque estamos em um momento de ‘pé no acelerador fiscal’, com China e EUA exibindo muitos estímulos fiscais e dinheiro estrangeiro migrando para emergentes. E o Brasil se beneficia, porque ‘no grande cesto de roupa suja do mundo, a roupa do Brasil não é a mais suja ou não é tão suja como muitos tentam propagar’”, avalia.
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