Enquanto boa parte do mercado global ainda concentra suas apostas em empresas de crescimento acelerado, há sinais de que estamos diante de uma possível mudança de rota para os investidores.
A tendência, pouco a pouco, é que os recursos comecem a migrar para ativos associados a valor — como no caso de bancos e empresas ligadas a commodities. E, dentro desse novo cenário, o Brasil volta a ganhar destaque.
Mais do que fundamentos convidativos e uma configuração técnica positiva, há também um fator comportamental importante em jogo: o fato de as bases acionárias estarem hoje muito mais concentradas em investidores resilientes.
E isso ocorre após anos de saída dos institucionais – aqueles que permanecem tendem a manter a posição mesmo diante de adversidades, o que pode amplificar os movimentos de alta em caso de gatilhos positivos.
Um desses gatilhos, inclusive, pode estar próximo.
A seguir, compartilho um gráfico que compara o desempenho do índice IBX 100, que mede o desempenho médio dos 100 ativos de maior representatividade na B3, com o PIB Nominal e o agregado monetário M1, ao longo dos últimos 20 anos.
A divergência recente entre as curvas, especialmente após 2020, chama atenção. E pode estar prestes a se ajustar.

Como podemos observar na imagem, ao longo de duas décadas, o IBX 100 só ficou abaixo do PIB Nominal durante a crise de 2014/2015 e mais recentemente. Na minha opinião, isso constitui uma aberração.
Uma das razões que vem contribuindo para um comportamento mais tímido do IBX 100 diz respeito ao M1. O volume de dinheiro em circulação, essencial para estimular o consumo, o crédito e os investimentos, se encontra estagnado.
E isso em um patamar próximo a R$ 650 bilhões por quase cinco anos, por razões associadas à política monetária restritiva do BC. No entanto, com um dólar mais fraco, o BC pode começar a sinalizar mais cedo uma política monetária menos restritiva.
Particularmente, acredito que o segundo semestre deverá ser marcado por um FED mais frouxo e um BC brasileiro menos restritivo, em uma combinação que poderá promover uma queda na taxa de juros de prazos mais longos no Brasil para um patamar mais próximo de 12,5%.
Se isso acontecer, será um importante catalisador para a valorização das ações brasileiras, especialmente daquelas com fundamentos sólidos e mais sensíveis à queda dos juros.
Aí, a tendência é que o IBX 100 (linha laranja no gráfico acima) volte a se aproximar da trajetória do PIB Nominal (linha azul), destravando valor para os investidores que estiverem bem-posicionados.
Turquenização
Não bastasse essa condição, há ainda a possibilidade de que a renda variável venha a desempenhar um papel de proteção patrimonial, em linha com o fenômeno que vem sendo chamado de turquenização.
Na Turquia, em 2021, diante da falta de dólares e de um crescente déficit em conta corrente, o governo de Erdogan interferiu no Banco Central e promoveu uma enorme expansão monetária, que se mostrou altamente inflacionária.
Assim, os preços dos títulos de renda fixa pré-fixados despencaram. Até mesmo um título de prazo de três meses viu seu preço cair 70%. Imagine, então, o que aconteceu com os títulos de prazos mais longos.
Em meio a esse cenário, a grande surpresa turca ocorreu no mercado de renda variável. O fato é que, da experiência turca de 2021 até hoje, o fenômeno da turquenização vai, aos poucos, ganhando tração.
Nos próprios Estados Unidos, cresce a ideia de que a melhor defesa patrimonial é alocar recursos em ações de grandes empresas. Enquanto isso, o TLT, ETF de Treasuries com prazos superiores a 20 anos, vive um tremendo mercado baixista.
Atenção aos sinais
Diante de tudo isso, o investidor atento não pode ignorar os sinais. A combinação de fundamentos atrativos, ambiente técnico favorável, estrutura acionária resiliente e possíveis mudanças na condução da política monetária forma um terreno fértil para a valorização da Bolsa brasileira.
E principalmente em um mundo que, cada vez mais, busca alternativas diante da perda de confiança em títulos públicos de longo prazo.
Se o movimento de turquenização se espalhar, como já se observa em mercados desenvolvidos, o Brasil pode surpreender positivamente, não apenas como um bom destino tático, mas como uma real reserva de valor em ações.
Ajustar o olhar agora pode fazer toda a diferença lá na frente. Afinal, os ciclos mudam, mas as melhores oportunidades continuam surgindo para quem sabe onde e como procurar.
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