O presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, fez nesta sexta-feira (22) seu tradicional discurso no Simpósio de Política Econômica de Jackson Hole. Em sua fala, Powell indicou a possibilidade de um corte de juros na reunião do Fed marcada para os dias 16 e 17 de setembro, mas ressaltou que os próximos dados sobre emprego e inflação serão determinantes para a decisão.
“Embora o mercado de trabalho pareça estar em equilíbrio, trata-se de um equilíbrio curioso, resultante de uma desaceleração acentuada tanto na oferta quanto na demanda por trabalhadores. Essa situação incomum sugere que os riscos de queda no emprego estão aumentando. E, se esses riscos se materializarem, poderão fazê-lo rapidamente”, disse Powell durante a conferência anual do Fed em Jackson Hole.
O chair do Fed sinalizou abertura para reduzir os juros, mas evitou qualquer comprometimento explícito. Seus comentários buscaram equilibrar a crescente preocupação com o enfraquecimento do mercado de trabalho e, ao mesmo tempo, o risco persistente de uma inflação elevada.
“Também é possível, no entanto, que a pressão de alta sobre os preços, devido às tarifas, possa estimular uma dinâmica inflacionária mais duradoura, e esse é um risco a ser avaliado e administrado.”
Powell reforçou que o atual cenário permite cautela na condução da política monetária. Segundo ele, “a estabilidade da taxa de desemprego e outras medidas do mercado de trabalho nos permitem prosseguir com cautela ao considerarmos mudanças em nossa política monetária.”
No entanto, ele ponderou que, “com a política em território restritivo, a perspectiva básica e a mudança no equilíbrio de riscos podem justificar ajustes em nossa postura”, acrescentando que, embora se espere um impacto inflacionário das tarifas, esse efeito tende a diminuir com o tempo.
Expectativa do mercado por corte de juros em setembro
O discurso de Powell ocorreu a menos de um mês da próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), considerada uma das mais importantes do ano. Em julho, o Fed manteve os juros entre 4,25% e 4,50% ao ano, sem antecipar uma decisão para setembro.
Apesar da expectativa generalizada, Powell não deu pistas claras sobre o momento ou o ritmo de eventuais cortes, o que pode intensificar a pressão política do ex-presidente Donald Trump, que insiste que “não há risco de inflação” e que o Fed deveria cortar os juros imediatamente.
No mercado, mais de 70% das projeções apontam para um corte na taxa básica em setembro, com a maioria estimando que os juros sejam reduzidos para a faixa entre 4,00% e 4,25% ao ano. Apenas 28,5% dos analistas ainda acreditam em manutenção da taxa. Já para dezembro, 72,5% do mercado financeiro norte-americano aposta que os juros estarão abaixo de 4% ao ano.
Para Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, o discurso de Jerome Powell no simpósio anual do Fed foi mais dovish do que o mercado esperava, sinalizando a possibilidade de um corte de juros já em setembro — movimento que, segundo ele, já vinha sendo precificado na curva futura.
“Basicamente, ele destacou que o mercado de trabalho tem mostrado sinais de fraqueza quando analisamos os dados mais recentes e suas revisões. Isso aumenta o risco de uma deterioração à frente”, afirmou Kautz. Do lado da inflação, Powell mencionou a possibilidade de um choque temporário, um one-off, ou seja, uma alta de preços pontual que não se sustentaria por muito tempo. Essa leitura reforça a visão de que o risco no mercado de trabalho está mais desequilibrado para o lado negativo.
Segundo o economista, o presidente do Fed deixou claro que, considerando que a política monetária atual já está em território restritivo, ou seja, acima do nível neutro, o cenário de desaceleração do emprego combinado com uma inflação transitória pode abrir espaço para uma mudança na postura do banco central.
“Não foi uma sinalização definitiva de corte, até porque esse não é o papel dele. Mas, dentro do que poderia ser dito, ele deu todos os sinais de que, caso o próximo relatório de emprego (payroll) mostre uma nova deterioração ou mantenha a fraqueza observada nas revisões anteriores, o corte em setembro se torna bastante provável”, completou.
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