O BTG Pactual (BPAC11) manteve recomendação neutra para as ações do Banco do Brasil (BBAS3) após a divulgação dos resultados do terceiro trimestre de 2025, que ficaram abaixo das expectativas em termos operacionais e levaram a uma nova revisão negativa nas projeções de lucro do banco estatal. O banco de investimentos destacou que o EBT (lucro antes dos impostos) veio quase 20% abaixo das estimativas, refletindo provisões maiores, e que o guidance de 2025 foi reduzido em cerca de 15%.
O lucro líquido ajustado do trimestre somou R$ 3,8 bilhões, praticamente estável em relação ao trimestre anterior, mas com queda de 60% na comparação anual. O resultado ficou 2% acima das projeções do BTG e 7% acima do consenso de mercado, sustentado por uma alíquota fiscal mais baixa e ajustes pontuais de cerca de R$ 750 milhões relacionados a planos econômicos. O ROE ajustado ficou em 8,4%, enquanto o lucro contábil totalizou R$ 3 bilhões, com ROE de 6,7%.
O Banco do Brasil reduziu novamente seu guidance de 2025, prevendo agora provisões 11% acima do intervalo anterior, o que levou à revisão do lucro líquido ajustado para R$ 18 bilhões a R$ 21 bilhões — cerca de 7% abaixo do consenso e 1% abaixo da projeção do BTG. A nova faixa implica lucro ajustado entre R$ 3,1 bilhões no 4T25 (queda de 18% t/t) e R$ 4,6 bilhões (alta de 21,5% a/a).
Segundo o CFO Marco Geovanne, ainda é cedo para afirmar se o quarto trimestre marcará o ponto de inflexão para uma recuperação dos lucros. Ele destacou, em vídeo divulgado com os resultados, que o banco ainda avalia os impactos da MP 1314, que instituiu um programa de renegociação de dívidas do agronegócio. A medida foi oficializada apenas no fim de outubro, o que atrasou seu efeito sobre o desempenho do setor rural — um dos principais focos de provisões do trimestre.
Banco do Brasil: provisões pressionam resultado e inadimplência sobe
As provisões brutas atingiram R$ 17,9 bilhões, crescimento de 6% acima do esperado, 3% t/t e 54% a/a, enquanto as provisões ampliadas subiram 12% t/t e 78% a/a. O destaque negativo foi o segmento de pessoas físicas, cujas provisões aumentaram 27% t/t, chegando a R$ 6 bilhões, seguido pelo agronegócio (+11% t/t, a R$ 8,75 bilhões).
A inadimplência acima de 90 dias subiu para 4,9%, avanço de 70 pontos-base no trimestre e 160 pontos-base em um ano. Em pessoas físicas, o índice chegou a 6%, puxado pelo aumento no cartão de crédito, que atingiu 8,9%. Já no agronegócio, a inadimplência subiu para 5,3%, refletindo o acúmulo de vencimentos do Plano Safra anterior.
Apesar do cenário adverso, a Margem Financeira com Clientes apresentou alta de 10% t/t e 18,6% a/a, somando R$ 24,6 bilhões, apoiada pela maior liquidez, precificação de carteira e alta da Selic. Em contrapartida, a Margem Financeira com Mercado caiu 37% t/t, penalizada pelo desempenho mais fraco do Banco Patagonia.
As despesas administrativas avançaram 5% t/t e a/a, atingindo R$ 20,1 bilhões, com destaque para gastos com tecnologia e o reajuste salarial de setembro. O índice de eficiência subiu para 28,1%, contra 27,7% no trimestre anterior.
Capital ligeiramente melhor, mas desafios persistem
O CET1 subiu para 11,16%, ante 10,97% no trimestre anterior, beneficiado por efeitos positivos de marcação a mercado e menor exposição a ativos ponderados por risco. Contudo, ajustes regulatórios previstos para o início de 2026 devem reduzir esse índice em cerca de 100 pontos-base, o que reforça a necessidade de uma política de dividendos conservadora.
Para o BTG, embora o valuation do Banco do Brasil siga atrativo, a recuperação dos lucros tende a ser mais lenta do que o mercado precifica. O relatório destaca que o banco entra no próximo ciclo com ROE baixo, menor folga de capital e provisões inferiores às de anos anteriores.
Em um ambiente de desalavancagem e maior competição com bancos privados, o BTG vê melhores oportunidades em outros nomes do setor bancário, mantendo visão neutra e cautelosa sobre o papel do BB.
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