Se antes um item de luxo era sinônimo exclusivo de status e ostentação, hoje ele também pode representar uma oportunidade estratégica de investimento. Peças como bolsas Hermès (RMS), relógios Rolex ou obras de arte contemporânea têm atraído não apenas colecionadores apaixonados, mas também investidores atentos ao potencial de valorização desses bens escassos, duráveis e cada vez mais líquidos.
O movimento reflete uma mudança cultural e econômica no modo como o luxo é consumido e percebido.
“Quando um item de luxo ultrapassa a função de consumo e entra no território de ativo, ele passa a ser visto como uma reserva de valor”, afirma Fabíola Tronolone Campos, especialista em branding e mercado de luxo.
Segundo ela, marcas como Hermès e Rolex compreendem perfeitamente essa dinâmica ao controlar a oferta, cultivar o desejo e construir um storytelling forte que transcende o produto.
Luxo como investimento: mercado em expansão e consumo mais racional
A tendência não está restrita à percepção simbólica do consumidor. Há dados e comportamento de mercado que confirmam o avanço dessa lógica de investimento. Ana Maria Carvalho, diretora da artk, braço de arte da plataforma de ativos alternativos Hurst Capital, destaca que o interesse por ativos como obras de arte cresceu junto à busca por diversificação de carteira.
“A procura aumentou, principalmente após episódios de instabilidade em investimentos considerados seguros”, diz ela.
Na prática, a arte é tratada como um ativo ilíquido, com retorno de médio a longo prazo — mas que pode gerar resultados sólidos.
“A média de rentabilidade anual das obras entregues até agora foi de 23%”, afirma Ana Maria.
O segredo, segundo ela, está em comprar bem: obras das melhores fases de artistas reconhecidos, com potencial de valorização futura e adquiridas abaixo do valor de mercado.
A própria racionalidade do consumo mudou. Segundo Fabíola, hoje há uma “mentalidade de portfólio”: o consumidor pensa mais como investidor ou colecionador do que como comprador. A compra deixou de ser só emocional e passou a ser reflexiva, responsável e muitas vezes estratégica.
Revenda de luxo: mais que moda, uma estratégia
O mercado de revenda de itens de luxo acompanha esse movimento com força. A Front Row, empresa fundada em 2015 para atuar na revenda de peças novas e seminovas de alto padrão, observa uma clientela cada vez mais estratégica. Segundo Lilian Marques, CEO da empresa, 25% dos clientes que compram bolsas Hermès o fazem com perfil de investidor, alguns nem chegam a usar o item, mantendo-o em estado de conservação ideal para futura revenda.
“As compras deixaram de ser meramente para consumo e passaram a ser um elemento de escolha de médio e longo prazo”, explica Lilian.
Modelos como a Hermès Mini Kelly e a Birkin 25 Sellier estão entre os mais valorizados no mercado secundário. A curadoria da Front Row leva em conta não apenas a marca e o estado da peça, mas também as tendências de valorização observadas em leilões internacionais, como os da Sotheby’s.

Fabíola reforça que a ascensão de plataformas como The RealReal e Vestiaire Collective, aliada à valorização do second hand com curadoria, mostra que luxo agora é também liquidez e legado.
“Comprar uma peça com alto potencial de revenda virou um movimento estratégico e cultural, não só de imagem, mas de preservação e multiplicação de valor.”
O que define o valor de um ativo de luxo?
A valorização de um item de luxo não ocorre por acaso. Fabíola Tronolone aponta uma combinação de fatores decisivos: herança de marca, excelência artesanal, consistência estética e narrativa sólida. Entenda melhor:
- Herança e autenticidade: marcas como Hermès ou Patek Philippe têm um passado que valida o presente. Isso cria confiança intergeracional.
- Excelência artesanal: a valorização do feito à mão, do savoir-faire, como na Loro Piana ou em um Brunello Cucinelli, é percebida como sinônimo de perenidade.
- Consistência narrativa e estética: marcas que não se dobram à tendência do momento, mas constroem uma estética coerente ao longo do tempo, criam valor acumulativo.
“Além disso, a gestão inteligente da oferta e a cultura da espera como listas de espera reais e distribuição controlada também são fatores-chave”, explica.
Ao adicionar a isso a escassez real ou cuidadosamente construída, o resultado é uma peça que atravessa o tempo e ganha valor.
“Quando a escassez é verdadeira, ela cria um senso de pertencimento raro, que alimenta o desejo e limita a depreciação”, afirma Fabíola.
Essa escassez, somada à gestão controlada da oferta, é o que transforma um item em ativo. Marcas como Loro Piana constroem isso não apenas por limitação quantitativa, mas por profundidade de valores.
No mercado de arte, os critérios são ainda mais específicos. A Hurst Capital divide os artistas em três categorias: blue chips (já consagrados), reposicionados (em redescoberta) e ultracontemporâneos (com potencial de valorização rápida). O investimento de maior sucesso é aquele que equilibra segurança com rentabilidade — e isso, segundo Ana Maria, exige estudo, paciência e uma boa rede de consultores.
Riscos e cuidados ao investir em luxo
Apesar do glamour e da valorização possível, o investimento em itens de luxo exige cuidados. Um dos principais, apontado por todas as fontes consultadas, é a autenticidade.
“Ignorar a procedência e a documentação de uma peça é o erro mais comum de quem está começando”, alerta Fabíola.
No caso de obras de arte, os riscos passam também por fatores como falsificação e “overpricing”, preços inflados sem justificativa real de mercado.
“É preciso atentar para a autenticidade, por isso é preciso pesquisar bastante ou consultar um art advisor de confiança”, aconselha Ana Maria.
Outro ponto crítico é a liquidez. Diferentemente de ações ou fundos, ativos de luxo não têm mercado garantido de revenda imediata.
“Os investidores mais experientes já estão naturalizados com prazos maiores”, afirma a diretora da Hurst, que recomenda um horizonte de pelo menos três anos para valorização em arte.
Um novo perfil de consumidor-investidor
O que está por trás dessa virada? Uma nova geração de consumidores, mais informada, estratégica e sensível ao impacto de suas escolhas. Millennials e Gen Z passaram a valorizar o propósito por trás do produto e isso inclui sua capacidade de manter ou aumentar o valor ao longo do tempo.
“Essas gerações estão mudando o luxo de um bem simbólico para um ativo cultural e financeiro”, afirma Fabíola.
A compra deixou de ser apenas um ato de consumo para se tornar parte de uma lógica patrimonial — onde a peça é parte de um portfólio, como se fosse um imóvel ou uma ação com história.
Ainda de acordo com Fabíola, o novo consumidor de luxo valoriza consumo consciente, economia circular, experiência sobre posse e o valor do propósito:
“O status por si só não basta”. Segundo ela, essa mudança é profunda: luxo agora precisa representar cultura, ética e autenticidade. É uma virada de símbolo para ativo cultural e financeiro.
A CEO da Front Row observa o mesmo movimento no Brasil: consumidores mais criteriosos, atentos à documentação, ao estado de conservação e à evolução do preço dos itens nos leilões internacionais.
“Estamos percebendo uma consolidação no setor de revenda, com maior profissionalização e exigência do público”, afirma Lilian.
Vale a pena investir em luxo?
A resposta, como quase tudo em finanças, é: depende. Para quem busca diversificação, tem paciência e repertório, o luxo pode ser um ativo interessante. Mas não é um jogo para amadores ou imediatistas.
“No mercado de luxo como ativo, não se compra o que está em alta, compra-se o que permanece”, diz Fabíola, resumindo a lógica.
Mais do que seguir tendências, o investidor precisa olhar o histórico da marca, a escassez do item e sua liquidez futura.
Fabíola também destaca que hoje o mercado passa a reconhecer o potencial de itens de luxo tradicionalmente femininos. Bolsas icônicas como Birkin e Classic Flap da Chanel não só rivalizam com relógios de luxo como Patek ou Rolex em valorização, como também simbolizam uma nova consciência patrimonial feminina, que une estética, propósito e performance financeira.
Ana Maria, da Hurst, reforça: “É preciso estudar muito e estar com pessoas que conhecem”.
A boa notícia é que, com a profissionalização do setor e a disseminação de plataformas especializadas, esse mercado está mais acessível do que nunca.
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