O cenário econômico tem afetado muitas instituições financeiras no exterior, mas será que o sistema financeiro do Brasil também pode sofrer com essa crise?
Os últimos 10 dias foram intensos dentro do mercado bancário mundial.
Foram vistos eventos que não ocorriam desde a crise de 2008 como a quebra do SVB (Silicon Valley Bank) e do Signature Bank, que forçaram uma atuação quase que imediata do Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), uma espécie de FGC dos EUA, que já emprestou US$ 300 bi em pouco mais de uma semana.
Na sequência, os correntistas do First Republic Bank perceberam que a linha de crédito não serviria para o caso deles, o que ocasionou uma nova corrida bancária, incluindo JPMorgan Chase & Co, Citigroup Inc, Bank of America Corp, Wells Fargo & Co, Goldman Sachs e Morgan Stanley.
Por último, o Credit Suisse, que já não vinha bem das pernas, necessitou de um resgate para não fechar as portas, ocorrendo inclusive a aquisição do banco pelo UBS, na quantia de US$ 3,25 bilhões.
E por aqui, no Brasil? Qual é a segurança que o investidor tem ao investir no sistema bancário brasileiro? Qual o banco mais seguro?
O estrategista da EQI Investimentos, Denys Wiese, convidou Alejandro Schiuma, gestor em Renda Fixa Crédito Privado da EQI Asset, para discutir a solidez e a segurança do sistema bancário aqui no Brasil.
A conversa aconteceu durante a live semanal do “Investidor Inteligente”.
Assista se você quiser saber sobre:
- A segurança do sistema bancário brasileiro;
- Comparação com os Estados Unidos.
Saiba quais os riscos o investidor deve considerar na hora de escolher os ativos para compor a sua carteira, e como se proteger para evitar perdas caso alguma instituição financeira venha quebrar.
Acompanhe agora os principais insights da live:
Banco mais seguro como funciona?
O ponto central da atividade bancária é o crédito e, para isso, os bancos tomam dinheiro emprestado via captações, que ocorrem tanto por depósitos dos correntistas, quanto por meio de instrumentos de investimentos, conforme resume Alejandro Schiuma, gestor em Renda Fixa Crédito Privado da EQI Asset.
“O banco nada mais é que uma empresa que gerencia riscos na economia. Ele toma o dinheiro do poupador e empresta para quem precisa de crédito. Fundamentalmente, a instituição faz a avaliação de risco do tomador de crédito e ganha um diferencial”, explica.
- Leia também: como funciona o Fundo Garantidor de Crédito? Veja como não ser pego de surpresa no FGC.
Ativo e passivo: entenda a diferença
Além disso, para entender como um banco funciona, também é necessário saber a diferença entre “passivo” e “ativo”.
Passivo é a forma como o banco faz o seu “funding”, ou seja, se capitaliza. Pode ser feito através de três principais formas como depósitos dos clientes, lançando títulos no mercado ou por capital próprio.
Ativos são os investimentos que o banco faz como em uma carteira de crédito, empréstimos para a pessoa física e para empresas, com a compra de títulos privados ou do governo.
“Inclusive, muito do dinheiro que os bancos possuem está investido em títulos do governo, o que talvez, esse tenha sido o principal problema da crise bancária por lá”, comenta Denys Wiese, estrategista da EQI Investimentos.
Como o banco compra esses ativos com dinheiro emprestado, o que aconteceu nos EUA não foi uma crise de crédito, mas sim, um “descasamento” de prazos, uma diferença na marcação a mercado na carteira de títulos contra o prazo desses depositantes, conforme ressalta Schiuma.
Segundo reforça Wiese, o chamado descasamento está entre os principais motivos da quebra de bancos. Um outro, tão importante quanto, seriam os maus investimentos, que resultam em inadimplência e insolvência.”O setor mais importante de um banco é o de gerenciamento de risco, pois se houver uma calibragem equivocada dos prazos, indexadores e risco, uma instituição pode vir a quebrar”, reitera Wiese.
Intervenção e resgate: que o aconteceu com os bancos nos EUA
No caso ocorrido com o Silicon Valley e com o Signature Bank, que foram colocados sob intervenção estatal, o órgão regulador americano, na figura do FDIC, percebeu que estava havendo uma corrida para resgates dos depósitos, ao passo que os títulos públicos da carteira desses bancos tinham um prazo (duration) muito longo, e, portanto, estavam com um valor de face atual menor.
“Isso quer dizer, de modo prático, que esses bancos não conseguiriam entregar hoje o dinheiro para todos os depositantes ao mesmo tempo. Embora o título do tesouro americano seja reconhecido como livre de risco, havia uma questão de marcação a mercado”, explica o gestor da EQI Asset.
Segundo ele, o processo de intervenção estatal estanca o problema dos depositantes. Agora, as intituiçĩes estão em um processo de venda ordenada.
Já os bancos que foram resgatados, como no caso do First Republic Bank e do Credit Suisse, receberam uma injeção de dinheiro público, um processo conhecido como “bailout”.
“É importante ressaltar que os bancos quebram com base no pânico. A crise de 2008 é um exemplo de que grande parte teria sido evitada, caso as autoridades monetárias e os tesouros, de forma coordenada, tivessem feito o resgate das instituições”, acredita Schiuma.
Quebra dos bancos: como são calculados os riscos?
O risco de quebra de uma instituição bancária é feito por meio de análises estatísticas, que são orientadas por simulações de situações de estresse. O órgão regulador, por sua vez, cria métricas de liquidez que assumem esses riscos, levando em consideração alguns desvios padrões.
“Pela lógica bancária seria impossível ter todos os depósitos disponíveis, senão a instituição não se rentabilizaria. Como há o descasamento entre a quantidade de depósitos e empréstimos, se todo mundo quiser o dinheiro em um mesmo momento, de fato, o banco não terá todo o montante em caixa”, resume Alejandro Schiuma.
No entanto, mesmo apesar do descasamento assumido pelas instituições financeiras, no Brasil, o risco de um grande banco quebrar é menor que 0,00001%, reitera o especialista.
“Isso porque esses bancos acompanham as razões estatísticas de risco de forma muito bem equilibrada. Tudo é feito a partir de um monitoramento minucioso sobre o comportamento das aplicações e resgates “, destaca.
Concentração bancária: como é no Brasil e no resto do mundo
Ao analisar a concentração de mercado dos cinco maiores bancos ao redor do mundo, comparativamente, é possível ver diferenças importantes entre EUA, país em que este percentual gira em torno de 40% e, no Brasil, país que alcança a casa de 80%.
Na análise de Schiuma, embora o sistema por aqui seja pouco diversificado – sendo composto pelos bancos públicos Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil e pelos privados Itaú, Bradesco e Santander – é bastante sólido.
“Essas instituições foram capazes de crescer incorporando outros e sempre com a rentabilidade bem elevada. Há bastante espaço para situações adversas. No Brasil, as crises econômicas são uma constante e mesmo assim, o sistema permanece robusto”, avalia.
“Em termos de capital estamos bem tranquilos”, complementa.
Índice de Basiléia mostra boa resiliência a perdas
O Índice de Basiléia mostra o quanto de capital um banco tem frente ao passivo (tudo o que está emprestado).
No Brasil, o Banco Central pede que esse indicador seja de 11%, com os grandes bancos operando com uma média de 16%.
Nos EUA, a razão é bem parecida, perto dos 12%, com os grandes bancos operando com 60% a mais de capital. No entanto, naquele país, a média dos bancos regionais – onde estão os bancos com maior problema hoje – está mais justa, em torno de 12%.
Ativo: o outro lado da carteira
Outro ponto de análise é lado da carteira dos ativos, mostrado pelo Índice de Mobilização, que aponta quão imediata é a liquidez do portfólio desses bancos e setores onde este capital está investido.
A média de mobilização dos bancos brasileiros é de 20%, com investimentos em ativos considerados com boa liquidez.
Comparativamente, é possível ver que o First Republic Bank, um dos bancos americanos com problemas recentes, possuía mais de 60% de investimentos em home equity, empréstimos de longo prazo, que são considerados bastante ilíquidos.
Duration do ativo: emissão de títulos do Brasil tem vantagem
Outro fator que indica a segurança dos bancos é a duration (prazo) do ativo. É comum no tesouro dos EUA que sejam lançados títulos de longo prazo de 10, 20 ou 30 anos, sendo que parte dos ativos dos bancos é composta por eles.
Além disso, naquele país, o mais comum é encontrar a modalidade pré-fixada, que são títulos que sofrem com a marcação a mercado quando o juro sobe, com valorização no momento de queda.
Já o tesouro nacional do Brasil tem uma média de lançamentos de títulos de 4 anos de duration, nas modalidades pré e pós fixados e IPCA+.
Esse fato favorece o sistema bancário doméstico, uma vez que os bancos daqui possuem títulos mais curtos, se ocorrer um cenário de alta de juros muito forte, haverá pouca desvalorização desses ativos, diferente do que aconteceu com os bancos nos EUA.
Composição do passivo: bancos brasileiros são mais seguros
Outro viés de análise é a composição do funding, que mostra quem pode estar mais suscetível às corridas bancárias.
Neste caso, a base depositante de correntistas é considerada a mais volátil dessa composição, uma vez que, a qualquer sinal de insegurança, esses clientes podem querer resgatar o seu recurso.
O First Republic Bank, por exemplo, possuía uma base de depositantes de 92%. Comparativamente, o JP Morgan, maior banco dos EUA, possui uma base de 70%.
No Brasil, a média do total de depósitos nos grandes bancos é menor, entre 29% e 40%, o que significa que o sistema bancário daqui consegue operar de forma menos exposta a esse risco.
Cenário é de descompressão do prêmio de risco
O ciclo de alta de juros está durando mais que o esperado em virtude de questões políticas e dos eventos no exterior, conforme explica Denys Wiese.
Nesta semana, o Copom – Comitê de Política Monetária – decidiu pela manutenção da taxa Selic a 13,75%, pela quinta vez consecutiva.
Nos EUA, o FOMC – o Copom americano – optou por uma alta de 0,25%, elevando para o intervalo de 4,75% e 5% ao ano, representando a nova alta dos juros.
No entanto, depois dos eventos com os bancos dos EUA, o Fed (Banco Central americano) interveio garantindo liquidez a essas instituições e este fato fez com que os juros futuros caíssem, tanto lá fora, quanto aqui.
Ao observar o comportamento do juro em ambos os cenários, há uma percepção de descolamento.
Nos EUA, ainda há pressão inflacionária, com preços e empregos em alta, dificultando a expectativa da queda de juros em um curto prazo. Ao mesmo tempo, é preciso garantir a confiança no sistema bancário, lembra o gestor da EQI Asset.
“Na minha opinião devemos ver uma desaceleração mais acentuada da atividade, fazendo com que tenhamos uma descompressão de prêmio de risco”, comenta Schiuma.
Renda Fixa permanece no foco
Nesse cenário, a Renda Fixa permanece a mais interessante. Embora neste momento não seja possível ter uma clareza sobre qual classe de ativos, entre pré, pós ou IPCA+ irá render mais, o importante é analisar as quantidades das alocações carteira de investimento, reforça o estrategista Denys Wiese.
Algumas oportunidades do momento são:
Pós-fixados:
- CDB Pós – 120% do CDI
- CRA High Yield – CDI + 4% a.a.
Pré-fixados:
- CDB Pré – 14,5% a.a.
- Bond prefixado – 15,5% a.a.
IPCA+
- NTN-B – IPCA+6,4% a.a.
- CRI High Yield – IPCA+10% a.a.
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