A ata do Comitê de Política Monetária (Copom), da reunião realizada entre os dias 9 e 10 de dezembro, marca uma transição importante na comunicação do Banco Central. O colegiado passa a reconhecer de forma mais explícita a melhora da dinâmica inflacionária e a desaceleração gradual da atividade econômica, mas deixa claro que ainda não há pressa para iniciar o ciclo de cortes da Selic.
No documento, o BC admite que a inflação cheia e as medidas subjacentes vêm mostrando arrefecimento, ajudadas por um câmbio mais apreciado e por preços de commodities mais comportados. Além disso, as projeções do próprio Copom indicam inflação de 3,2% no segundo trimestre de 2027, patamar considerado em torno da meta. Em tese, esse conjunto de fatores abriria espaço técnico para o início da flexibilização monetária.
Apesar disso, a ata reforça que o cenário ainda exige uma política monetária significativamente contracionista por período prolongado, sobretudo em um ambiente de expectativas de inflação que permanecem desancoradas.
Segundo a leitura de Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Investimentos, a comunicação do BC deixa claro que o Comitê está mais confortável com a trajetória da inflação, mas ainda não confiante o suficiente para cortar juros já em janeiro.
“O Banco Central reconhece que a inflação está vindo para um patamar mais baixo e que a economia está desacelerando, mas pondera que o mercado de trabalho segue bastante apertado e que os sinais de desaceleração ainda são incipientes”, avalia Kautz.
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De acordo com a ata, embora haja alguma moderação recente, o Copom ainda debate se o arrefecimento do mercado de trabalho decorre de fatores conjunturais ou estruturais — uma incerteza que reforça a postura cautelosa da autoridade monetária. A inflação de serviços, mais sensível à renda e ao emprego, segue resiliente, o que limita movimentos antecipados de afrouxamento.
Na avaliação da EQI, esse conjunto de mensagens levou a uma mudança no call para a Selic. A casa passou a projetar que o primeiro corte de juros ocorrerá apenas em março, e não mais em janeiro, como esperado anteriormente.
“Estamos mais próximos do início do ciclo de cortes, dado o ambiente mais benigno para a inflação. Mas o Banco Central ainda não está confortável o suficiente para começar em janeiro”, afirma Kautz.
A projeção da EQI mantém o mesmo volume total de flexibilização ao longo do ciclo, com a Selic encerrando 2026 em 12,5%, mas com início postergado. A leitura é de que o BC prefere acumular mais evidências de desaceleração consistente da atividade e de arrefecimento do mercado de trabalho antes de dar o primeiro passo.
Ao final, a ata reforça que os vetores inflacionários seguem adversos e que o Comitê não hesitará em ajustar a política monetária caso o cenário se deteriore — uma mensagem que ajuda a explicar por que, mesmo diante da melhora recente, o corte de juros ainda não tem data imediata para começar.
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Na prática, a ata do Copom reforça que o Banco Central está mais confortável com a trajetória da inflação, mas ainda não confiante o suficiente para iniciar o corte de juros de forma imediata. Apesar da projeção de inflação em torno da meta no horizonte relevante, o BC avalia que a desaceleração da atividade e do mercado de trabalho ainda é incipiente, o que exige cautela adicional na condução da política monetária.
Na leitura de Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Investimentos, esse conjunto de sinais levou a casa a adiar a expectativa para o primeiro corte da Selic de janeiro para março.
“Estamos mais próximos do início do ciclo de cortes, com a melhora do ambiente inflacionário, mas o Banco Central ainda não está confiante o suficiente para começar em janeiro”, afirma.
A EQI manteve o volume total de flexibilização esperado, com a Selic encerrando o próximo ano em 12,5%, mas com início postergado.
Ou seja, o investidor deve ler a ata como um sinal de transição, e não de virada imediata: o ciclo de cortes se aproxima, mas o BC prefere acumular mais evidências antes de dar o primeiro passo.
Ouça a análise na íntegra:






