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Por que investidores estão olhando para o consórcio como alternativa ao crédito caro

Por que investidores estão olhando para o consórcio como alternativa ao crédito caro

Em um cenário de crédito caro e juros elevados, investidores passaram a reinterpretar o consórcio como uma ferramenta de organização financeira, redução do custo de capital e estruturação patrimonial

Com o custo do crédito bancário em níveis elevados e os financiamentos cada vez mais pressionados por juros compostos, investidores e pessoas físicas passaram a buscar alternativas para estruturar patrimônio sem assumir dívidas excessivamente caras. 

A partir disso, um um instrumento tradicional do mercado brasileiro começa a ser reinterpretado: o consórcio.

Historicamente associado à compra planejada de bens de consumo, o consórcio vem ganhando cada vez mais espaço nas conversas sobre organização financeira, custo de capital e até alavancagem patrimonial. A mudança não está no produto em si, mas na forma como ele vem sendo utilizado.

“O consórcio ensina a poupar com disciplina, a respeitar o orçamento mensal e a planejar decisões financeiras no médio e longo prazo. Diferente do financiamento, em que a pessoa começa endividada, no consórcio ela constrói patrimônio ao longo do tempo, sem juros”, afirma Bruno Borges, CMO do Mycon.

Essa diferença de lógica — começar organizando capital, e não assumindo dívida — é o que tem atraído a atenção de investidores em um cenário de crédito restritivo.

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Do consumo à estratégia financeira

A visão tradicional trata o consórcio como uma forma parcelada de compra. Para Borges, esse enquadramento é limitado.

“Quando falamos de consórcio como educação financeira, estamos falando, principalmente, de comportamento. (…) Ele ajuda a desenvolver uma relação mais saudável com o dinheiro, porque o cliente aprende a organizar seus gastos, definir objetivos claros e entender que patrimônio se constrói com constância, não com impulso”, afirma.

Essa mudança de perspectiva é central para entender por que o consórcio passou a ser analisado não como produto de consumo, mas como ferramenta financeira. O foco deixa de ser o bem em si e passa a ser o custo de aquisição do capital.

Onde está o valor econômico do consórcio

Parte do interesse crescente vem da comparação direta com financiamentos tradicionais. Sem juros, o consórcio apresenta um custo conhecido desde o início, concentrado na taxa de administração.

“Esses números devem ser interpretados como resultado de uma estratégia bem estruturada, não como promessa de ganho fácil. No caso da economia frente ao financiamento, ela vem da ausência de juros”, afirma Borges.

Segundo ele, em um consórcio imobiliário, essa diferença pode ser expressiva ao longo do tempo.

“Em uma simulação feita pelo Mycon, um consórcio imobiliário pode gerar uma economia superior a R$ 200 mil ao longo do prazo quando comparado a um financiamento tradicional”, diz.

O ponto central, porém, não é tratar essa economia como rentabilidade, mas como eficiência no custo de capital.

“O investidor transforma planejamento e tempo em oportunidade financeira, com previsibilidade e risco controlado”, afirma.

As estratégias que colocaram o consórcio no radar dos investidores

Para o perfil investidor, Borges destaca três estratégias principais que explicam por que o consórcio passou a ser considerado uma ferramenta financeira.

A primeira é o giro de capital com a revenda de cartas contempladas.

“Ao ser contemplado, o investidor vende a carta de crédito para terceiros que têm pressa na compra do bem. Como a carta contemplada equivale a dinheiro à vista, ela tem alta liquidez e um ágio de mercado que gira em torno de 30%”, afirma Borges.

Nesse caso, o tempo é um fator preponderante.

“A rentabilidade dessa operação é inversamente proporcional ao tempo. Quanto mais cedo ocorrer a contemplação, menos capital o investidor desembolsou e maior será o seu Retorno sobre o Investimento. Por isso, não basta pagar as parcelas; é fundamental ter uma estratégia agressiva de lances para acelerar a contemplação e maximizar o lucro”, diz.

A segunda estratégia envolve alavancagem patrimonial voltada à renda passiva.

“Funciona como uma alavancagem sem os juros bancários. O investidor utiliza o crédito do consórcio para adquirir imóveis residenciais ou comerciais visando à locação. O objetivo é que o valor do aluguel pague a parcela do consórcio, ou a maior parte dela”, afirma.

Ao final do plano, o resultado é um ativo quitado com baixo custo de aquisição.

“O investidor tem um patrimônio que foi, em grande parte, ‘pago pelo inquilino’, transformando disciplina financeira em ativos reais com baixo custo de aquisição”, diz Borges.

A terceira estratégia é a arbitragem de dívidas, especialmente relevante em períodos de juros altos.

“Muitos investidores ou empresas possuem financiamentos caros. A estratégia consiste em usar a carta de crédito contemplada para quitar essas dívidas. Troca-se uma dívida com juros compostos abusivos por uma dívida que tem apenas a taxa de administração”, afirma.

Segundo ele, a troca de passivos reduz significativamente o custo financeiro.

“Essa redução no Custo Efetivo Total libera fluxo de caixa e melhora a saúde financeira imediatamente”, diz.

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Dados no lugar do achismo

Para que essas estratégias funcionem, o uso de dados é central.

“A decisão nunca deve ser feita no achismo. Nós analisamos informações como número de participantes do grupo, histórico de contemplações, comportamento dos lances e tempo de duração para orientar o cliente sobre qual grupo faz mais sentido para o objetivo dele, quando ofertar lances e como aumentar as chances de contemplação”, afirma Borges.

Liquidez muda o jogo

Outro ponto que contribui para o interesse dos investidores é o avanço do mercado secundário de consórcios.

“Hoje, uma carta contemplada vale ouro: ela representa crédito na mão, com liquidez imediata e poder de compra à vista. No entanto, o grande desafio ainda é a informalidade, que expõe os investidores a riscos desnecessários”, afirma.

Segundo ele, a formalização desse mercado aumenta a previsibilidade das estratégias.

“Quanto mais fácil é entrar e sair de uma operação, mais previsível ela se torna. Para o investidor, isso significa mais segurança, transparência e clareza sobre o momento de realizar o retorno da estratégia”, diz.

Riscos, limites e disciplina

Apesar das oportunidades, Borges faz questão de destacar os riscos.

“O principal erro é entrar sem planejamento. O consórcio não é um produto de retorno imediato. Outro equívoco comum é assumir parcelas acima do orçamento ou não analisar corretamente os dados do grupo”, afirma.

“O retorno depende de estratégia, disciplina e timing. Quando o consórcio é usado de forma consciente, ele tende a ser uma ferramenta eficiente e segura”, completa.

Uma ferramenta, não uma promessa

Para Borges, a leitura correta do consórcio passa por entender seu papel dentro da estratégia financeira.

“O consórcio combina disciplina financeira, ausência de juros e planejamento estratégico para transformar organização financeira em construção de patrimônio”, afirma.

Em um ambiente de crédito caro, essa combinação ajuda a explicar por que investidores passaram a olhar para um instrumento antigo com uma lógica nova — menos como promessa de ganho e mais como ferramenta de eficiência financeira.