Investir em renda fixa é uma das formas mais acessíveis e seguras de fazer o dinheiro render. Em live promovida pela EQI, os assessores de investimentos Matheus Szabileski e Bruno Quaresma explicaram os fundamentos essenciais em formato de guia básico para quem deseja investir em renda fixa e aprimorar seus conhecimentos nessa modalidade de investimento.
“A renda fixa funciona como um empréstimo: o investidor empresta dinheiro para alguém – seja o governo, um banco ou uma empresa – e recebe juros em troca”, explica Bruno Quaresma.
A ordem de segurança dos investimentos segue uma hierarquia clara: títulos do governo são os mais seguros, seguidos pelos títulos bancários e, por último, os papéis de empresas privadas. Bruno explica que o governo possui mecanismos para honrar seus compromissos, incluindo a capacidade de criar moeda, embora isso gere impactos inflacionários.
Para investidores iniciantes, os especialistas recomendam começar pelos títulos do Tesouro Direto e CDBs (Certificados de Depósito Bancário), que oferecem boa combinação entre segurança e rentabilidade.
Tipos de indexadores: pré-fixado, pós-fixado e híbrido
Compreender os diferentes tipos de indexadores é fundamental para investir em renda fixa com estratégia. Existem três modalidades principais: pré-fixado, pós-fixado e híbrido.
No pré-fixado, o investidor sabe exatamente quanto vai ganhar desde o momento da aplicação. “O pré-fixado é aquele que ao entrar na plataforma da EQI, por exemplo, você vai comprar um CDB que mostra 14%, 15% ou 16% ao ano, é uma taxa pré-fixada porque você já sabe quanto você vai ganhar desde o início”, detalhou Bruno. Essa modalidade é especialmente vantajosa quando há expectativa de queda nos juros, pois garante uma taxa mais alta por mais tempo.
O pós-fixado acompanha um indicador, geralmente o CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que segue de perto a taxa Selic. Quando a Selic sobe, o CDI também sobe, e vice-versa. Essa modalidade oferece flexibilidade e acompanha as variações do mercado, sendo ideal para reservas de emergência.
Já o título híbrido combina características dos dois anteriores, pagando IPCA mais uma taxa fixa. Bruno exemplifica: “basicamente como o nome já disse ele vai seguir o IPCA mais uma taxa fixa, então a gente chama de título híbrido porque ele tem uma taxa pré-fixada e uma taxa pós-fixada que é a do IPCA”. Se o investidor contrata um IPCA +10% e a inflação está em 5%, receberá 15% no ano. Essa modalidade protege o poder de compra do dinheiro contra a inflação, sendo excelente para objetivos de longo prazo.
Liquidez, risco e rentabilidade: o tripé dos investimentos
Ao investir em renda fixa, é essencial avaliar três aspectos fundamentais: liquidez, risco e rentabilidade. A liquidez refere-se à facilidade de resgatar o investimento. Os títulos do Tesouro Direto possuem alta liquidez, podendo ser vendidos a qualquer momento até as 17h.
Já CDBs, LCIs e LCAs podem ter prazos de carência, exigindo atenção do investidor. Bruno alerta sobre a importância de verificar essas condições: “depende então de para quem você está ’emprestando’, é o que vai decidir”.
Em relação ao risco, os títulos do governo praticamente não apresentam risco, enquanto títulos bancários contam com a proteção do FGC (Fundo Garantidor de Crédito) até R$ 250 mil por instituição. Bruno destaca essa segurança: “se você tem acima desses R$ 250 mil e o banco quebrar, por exemplo, supondo que você tenha R$ 1 milhão em um CDB, você só vai receber R$ 250 mil”. Já debêntures, CRIs e CRAs, por serem títulos de empresas privadas, apresentam risco maior, mas compensam com rentabilidade superior.
A rentabilidade varia conforme o risco assumido.
A poupança, embora segura, oferece retornos limitados, atualmente cerca de 7,8% ao ano. Bruno foi enfático sobre essa opção: “se você tem poupança não tem mais motivo para ficar com ela”. Por outro lado, títulos de crédito privado podem oferecer retornos significativamente maiores, especialmente debêntures incentivadas, CRIs e CRAs, que além de pagarem mais, são isentos de imposto de renda para pessoas físicas.
Fundos de renda fixa x títulos diretos
Uma dúvida comum entre investidores é a diferença entre comprar títulos de renda fixa diretamente ou investir em fundos. Bruno explicou as principais distinções: nos fundos, há diversificação automática, pois o gestor aplica em diversos papéis de diferentes instituições. “Dentro do fundo de investimento você vai ter várias instituições financeiras, tem fundos que são mais concentrados e tem fundos que são menos concentrados”, destacou.
Essa diversificação reduz o risco de concentração, mas os fundos não contam com a proteção do FGC.
Uma característica importante dos fundos é a marcação a mercado, principalmente em fundos com títulos pré-fixados. Bruno usou uma analogia imobiliária para facilitar o entendimento: se comprar um CDB pré-fixado direto é como comprar um imóvel sabendo o preço de venda futuro, investir em um fundo com ativos pré-fixados “é a mesma coisa que eu comprar um imóvel e todo dia ficar olhando quanto é o preço dele se eu fosse vender hoje”. Essa oscilação diária pode assustar investidores inexperientes, mas não significa necessariamente problemas com os ativos.
Ao perceber saldo negativo em um fundo de renda fixa Bruno tranquiliza: “você não precisa se preocupar, o que eu recomendo fazer é falar com o seu assessor e buscar informação para entender o que aconteceu dentro do fundo”.
A vantagem dos fundos está na liquidez superior e na gestão profissional, enquanto os títulos diretos oferecem previsibilidade maior de retorno quando carregados até o vencimento. A escolha entre um e outro depende do perfil e dos objetivos de cada investidor.
Como montar uma carteira de Renda Fixa no cenário atual?
Para montar uma carteira eficiente ao investir em renda fixa, a diversificação é fundamental. Com base nas projeções do Boletim Focus, que indicam queda gradual da Selic de 15% em 2025 para 10% em 2028, Bruno recomendou aproveitar o momento atual.
Segundo Bruno, se há uma projeção da Selic caindo e tem opção de travar a taxa ou de acompanhar a taxa, o ideal é ter exposição aos três tipos de indexadores: pré-fixado para travar taxas atrativas, pós-fixado para manter liquidez, e IPCA para proteger o poder de compra no longo prazo.
Uma estratégia interessante mencionada foi o CDI+, que oferece CDI mais uma taxa fixa. Esses títulos funcionam como um hedge, pois se a Selic não cair conforme o esperado, o investidor ainda mantém uma rentabilidade superior. Matheus exemplifica: com um CDI+2 hoje pagando 17%, mesmo que a Selic caia para 10%, o título ainda renderá 12%, mantendo boa performance.
Bruno também destaca a oportunidade histórica dos títulos IPCA+ longos: “eu não lembro de ter visto um IPCA sendo emitido a valores de um título do tesouro IPCA como são hoje, então minha perspectiva é que caia também”.
Para objetivos de longo prazo, como aposentadoria, esses títulos podem oferecer marcação a mercado favorável quando as taxas caírem. O especialista recomenda começar com pequenas exposições e aumentar conforme o entendimento: “compre um título mais longo e entenda mais dessa marcação a mercado, como é que funciona e coloque um pouco na carteira”.
Tributação e isenções: maximize seus ganhos
Entender a tributação é essencial para maximizar os retornos ao investir em renda fixa. A maioria dos títulos segue a tabela regressiva do imposto de renda: 22,5% para aplicações até 180 dias, 20% de 181 a 360 dias, 17,5% de 361 a 720 dias, e 15% acima de 720 dias. Bruno explica que em aplicações mensais, “o próprio sistema já faz o cálculo médio do que você deve de imposto de renda”, e o resgate sempre ocorre dos aportes mais antigos primeiro, beneficiando o investidor com alíquotas menores.
Existem, porém, investimentos isentos de imposto de renda para pessoa física: LCI, LCA, CRI, CRA e debêntures incentivadas. Matheus oferece uma dica valiosa para memorizar: quando você investe nesses ativos, “você está contribuindo para o desenvolvimento do país e se você está contribuindo para o desenvolvimento do país, o governo te dá uma ‘colher de chá’ e te deixa isento de imposto”.
As LCIs e LCAs financiam o setor imobiliário e do agronegócio, respectivamente, enquanto CRIs, CRAs e debêntures incentivadas financiam projetos de infraestrutura.
Bruno aproveita para lembrar sobre outro benefício tributário: a previdência privada. “Se você faz a o imposto completo fale com o seu assessor para ver essa restituição através da previdência que vale a pena”, orienta, destacando que é possível ter restituição de até 12% do imposto de renda além da rentabilidade do fundo previdenciário.
Com o fim do ano se aproximando, planejar esses aportes pode resultar em economia significativa de impostos, potencializando os ganhos totais da carteira de investimentos.
Confira a live na íntegra:
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