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Trump acelera crise fiscal nos EUA e redefine fluxo global de investimentos, diz Stephan Kautz

Trump acelera crise fiscal nos EUA e redefine fluxo global de investimentos, diz Stephan Kautz

Em live promovida nesta quarta-feira (4) pela EQI Investimentos, Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, ofereceu uma análise abrangente sobre o cenário econômico global e local, destacando o impacto das recentes medidas fiscais propostas pelo presidente norte-americano Donald Trump, a reconfiguração das relações internacionais e as implicações diretas para mercados emergentes, como o Brasil.

A exposição de Kautz girou em torno da ruptura de uma ordem mundial estabelecida desde a Segunda Guerra Mundial, baseada na interdependência econômica e na estabilidade institucional entre países. Agora, o cenário é de incerteza crescente com a volta do protecionismo liderado pelos Estados Unidos.

Crise fiscal de Trump: estímulo sem contrapartida

Kautz ressaltou que a expectativa inicial do mercado era de que Trump, em seu segundo mandato, adotasse uma postura fiscalmente responsável, com cortes de impostos e ajuste de gastos.

No entanto, a proposta orçamentária apresentada surpreendeu negativamente. O pacote inclui renovações de estímulos do primeiro mandato e isenção de impostos sobre gorjetas, além de aumento de despesas com defesa, mas sem medidas compensatórias de corte de gastos. O resultado é um salto no déficit primário americano, que deve pular de US$ 500 bilhões para US$ 1 trilhão a partir do próximo ano fiscal.

“Trump trouxe estímulos importantes, mas sem contrapartida de ajuste. Isso elevou o risco fiscal e impactou a curva de juros americana, que se inclinou fortemente nos vencimentos mais longos — reflexo da desconfiança do mercado”, disse Kautz. A piora levou inclusive a uma revisão da nota de risco de crédito da agência de classificação Moody’s, de estável para negativa.

Segundo o economista, o entendimento de que Trump seria fiscalmente responsável “não vai se concretizar”. Mostra disso seria a mudança de discurso de Scott Bessent, secretário do Tesouro, que não fala mais em trazer o déficit dos atuais 6% para 3% do Produto Interno Bruto (PIB) até o final do governo Trump, como fazia no início do mandato.

Outra sinalização foi a saída de Elon Musk, do departamento de corte de gastos (Doge), não poupando críticas agressivas à proposta orçamentária. A votação da proposta, que na Câmara dos Representantes por um voto, deve ocorrer no Senado em julho, com amplo debate ao longo de junho.

Crise fiscal de Trump: juros parados, inflação pressionada

Com o aumento do déficit e as incertezas em torno das tarifas comerciais, o Federal Reserve (Fed) permanece dividido.

“Trump pressiona o Fed por cortes nos juros, mas a inflação projetada para este ano já está em 3,6%, e para o ano que vem em 2,5%, acima da meta de 2%. O banco central segue entre a cruz e a espada”, afirmou Kautz.

A expectativa é de que os juros fiquem parados até setembro, com possibilidade de dois cortes de 25 pontos-base até o fim deste ano — cenário que levaria a taxa básica para 4%, mas longe de um ciclo agressivo de afrouxamento.

Fim da concentração nos EUA e novo fluxo global de capitais

A deterioração fiscal dos EUA, combinada ao colapso da antiga ordem de interdependência econômica, abre espaço para uma realocação dos fluxos financeiros globais.

“Com o fim da concentração de investimentos nos EUA e o aumento do risco fiscal, os investidores buscam diversificação. Isso favorece outros mercados, inclusive emergentes”, destacou.

A EQI Asset recomenda, nesse contexto, exposição maior a mercados na Europa, com destaque para o Reino Unido, e posições em ouro — ativos considerados mais defensivos. Essa mudança de fluxo já começou a se refletir na desvalorização do dólar, que pode continuar abaixo de R$ 6 ao longo de 2025.

Brasil: economia resiste e pressiona o Banco Central

No cenário doméstico, o Brasil surpreendeu positivamente no primeiro trimestre de 2025, com um crescimento do PIB de 1,4%. A retomada foi puxada pelo agronegócio — principalmente a soja — e pela recuperação do consumo das famílias e dos serviços.

“A expectativa de desaceleração que se desenhava desde o quarto trimestre de 2024 não se confirmou. A economia reacelerou”, afirmou Kautz.

Esse desempenho, no entanto, complica o trabalho do Banco Central. A inflação medida pelo IPCA cheio tem tendência de queda, mas os núcleos (que excluem os itens voláteis) permanecem altos, em torno de 6% ao ano — o dobro da meta.

“É difícil cortar juros nesse contexto. A Selic pode subir ainda mais, para 15%, e deve ficar parada por muito tempo”, avaliou.

A curva de juros brasileira, que já chegou a precificar corte de juros em dezembro deste ano, agora projeta estabilidade até 2026. Ou seja, o cenário é de juros bastante altos por um período prolongado.

IOF e política fiscal confundem mercado

Outro ponto de atenção no Brasil foi o recente anúncio de aumento IOF, com impacto principalmente sobre o crédito privado.

“É uma medida contraditória. De um lado o governo cria crédito consignado privado, e do outro, aumenta imposto sobre crédito. O efeito líquido é nulo”, criticou Kautz.

Para ele, fica explícito que a decisão não foi negociada politicamente, e poderá ser revertida mediante um novo pacote a ser anunciado neste domingo (8).

A confusão reforça a percepção de desorganização na condução da política fiscal. O governo depende da arrecadação do IOF para cumprir metas, mas a medida “joga poeira nos olhos do Banco Central, que perde visibilidade sobre o impacto real na economia”, diz Kautz.

Eleições e volatilidade adiante

O economista destacou ainda um último ponto de atenção para os investidores: a eleição de 2026. A crescente perda de popularidade do presidente Lula e a proximidade do julgamento de Jair Bolsonaro, que pode resultar em inelegibilidade ou prisão, tendem a aquecer o cenário político e influenciar o mercado. Mesmo provavelmente fora da disputa, Bolsonaro possui um capital político bastante relevante para alavancar outra candidatura de direita.

“A eleição de 2026 vai entrar no radar dos investidores já neste ano. Há expectativa de troca de governos de esquerda por de direita em vários países da região, o que pode estimular um fluxo internacional de investimentos”, apontou.